Folha de S. Paulo


Entenda o ciclo do vírus da zika

O mosquito transmissor do vírus da zika, o Aedes aegypti, é especialista em tirar partido de tudo o que a cidade grande tem para oferecer. Sobretudo se essa cidade grande for do tipo caótico, cheia de lixo e com saneamento básico precário, como as metrópoles do Brasil e de outros países tropicais em desenvolvimento.

Trata-se de um triunfo evolutivo para uma criatura que, originalmente, botava seus ovos em ocos de pau nas florestas tropicais da África Oriental (e ainda tem parentes próximos por lá, uma subespécie conhecida como Aedes aegypti formosus). Foi graças a essa transição para a vida em cidades que o bicho encontrou um nicho ecológico fácil de explorar, com tudo aquilo de que necessitava: recipientes de água para botar seus ovos e sangue quente à vontade para nutrir as fêmeas, em cujo ventre são formados e fecundados os tais ovos.

A espécie se "autodomesticou", encontrando maneiras de viver lado a lado com o ser humano, há alguns milhares de anos. Conseguiu se espalhar pelas Américas, pela Ásia e até pelo sul da Europa, graças, mais uma vez, a caronas involuntárias do homem.

Um século e meio atrás, surtos de febre amarela trazidos pelo mosquito ainda devastavam os EUA e o sul da Espanha. Só uma forma de urbanização mais organizada, além da vigilância e do uso de inseticidas, acabou livrando esses países do problema.

"É um inseto muito bem adaptado ao ambiente urbano, com uma plasticidade muito grande", diz Tamara Nunes de Lima-Camara, entomóloga da Faculdade de Saúde Pública da USP.

No século passado, esforços hercúleos (e às vezes autoritários) de órgãos de saúde pública chegaram a banir a espécie do território brasileiro em dois momentos diferentes. O relaxamento da vigilância, no entanto, permitiu seu retorno --desta vez, num cenário de complexidade urbana bem mais difícil de enfrentar do que a situação dos anos 1920 e 1930.


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