Folha de S. Paulo


Vídeo 'descasca' vírus da zika; veja

Com a relativa inocuidade do vírus da zika na África, o agente infeccioso, como praxe, vegetou na literatura científica como mera curiosidade virológica. Durante cinco décadas, publicou-se coisa de um artigo por ano sobre o assunto. A maioria dos casos de infecção humana descritos se referia a pesquisadores inoculados acidental ou propositalmente em laboratórios.

Esses estudos mostraram que o arbovírus --termo para as partículas virais transmitidas por mosquitos e carrapatos, da expressão em inglês "arthropod-borne viruses"-- pertencia ao gênero dos flavivírus. Ou seja, um parente próximo dos causadores da febre amarela ("flavus" em latim quer dizer amarelo), da dengue e de chikungunya. O que os distingue está escondido embaixo de três camadas --envelope, membrana e capsídeo: uma molécula de RNA.

A maneira mais precisa de identificar a presença do vírus da zika numa pessoa ou num animal é procurar por pedaços de RNA viral no sangue. Hoje, existem duas maneiras de fazer o diagnóstico de infecção por zika. O PCR (o de biologia molecular) identifica o zika em fluidos (sangue, urina, saliva) até cinco dias depois do surgimento de sintomas. Já os testes de sorologia são capazes de mostrar se houve infecção anterior pelo vírus da zika por meio da presença de anticorpos produzidos na fase aguda da doença.

Desde julho deste ano, por decisão da Agência Nacional de Saúde Suplementar, os testes são cobertos pelos planos de saúde.

Se por um lado os testes sorológicos abrangem um período de pesquisa maior, por outro podem mascarar resultados. Isso acontece porque o vírus da zika é muito parecido com o da dengue. Essa semelhança pode resultar em falsos positivos e falsos negativos. E ambos resultados impactam os sonhos das futuras mães.

"O problema mais sério desses testes para uma grávida é o falso positivo, que pode colocar a mulher numa situação complicada", afirma o virologista Paolo Zanotto, do Instituto de Biociências da USP, numa alusão velada à eventual decisão de abortar. O aborto em caso de zika é proibido no Brasil.

No caso do falso negativo, a mulher e toda a família descobrem, quase no terceiro trimestre da gestação, que os sonhos para aquela criança não vão se realizar como imaginaram. "É um resultado devastador também", diz.


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