Folha de S. Paulo


Magnoli: Pedido de impeachment de Dilma está precocemente morto

"O pedido atual de impeachment [de Dilma] está precocemente morto", mas isso não quer dizer que o horizonte seja fácil, pelo contrário. A avaliação é do colunista da Folha Demétrio Magnoli, que participou da transmissão ao vivo da "TV Folha" desta quarta-feira. Participaram da mesa a também colunista Natuza Nery, que edita o "Painel", e o repórter especial Fernando Canzian.

"A sustentação nas pedaladas fiscais é frágil, não há uma prova cabal de contaminação da campanha [eleitoral de Dilma] com dinheiro da Petrobras. E ele se fragiliza ainda mais com a conexão do pedido de impeachment com Eduardo Cunha [presidente da Câmara], isso o mata, pois fica contaminado com afigura de um bandido como organizador", avalia Magnoli.

Entretanto, isso não quer dizer que Dilma sobreviverá ao cenário econômico, principalmente no extrato menos favorecido da população. "A situação é tão dramática, e as ações [do governo] tão inúteis, que acho que um futuro não tão próximo o mandato continua em risco. E as investigações da Lava Jato ainda podem revelar provas", afirma.

Para ele, as duas grandes manifestações realizadas neste ano, com milhares nas ruas, foram interpretadas como um desânimo genérico com ações do governo, não especialmente pelo impeachment. Para ele, é preciso um apoio maciço da população para que ganhe força.

"Isso vai pesar no fim do ano, com a divulgação de números ainda piores da economia, quando a sensação de pessimismo será maior", diz Natuza, por sua vez.

OPOSIÇÃO

Sobre a postura da oposição no atual cenário de crise, Magnoli avalia que o "PSDB é uma vergonha".

"Eles se penduraram na corda do impeachment e lá ficaram. Estão focados em um objetivo que não podem realizar. E com isso se tornaram reféns de caciques do PMDB, como Renan Calheiros. Se tornaram linhas auxiliares de Eduardo Cunha. E no lugar de apresentarem uma plataforma política pro pós-Dilma –o que o PMDB acabou fazendo com um documento–, o PSDB resolveu brincar no pátio das crianças. Na hora de votar coisas importantes, como o fator previdenciário, eles votaram contra sua própria herança. Aí vimos o PT votando a favor de algo criado por Fernando Henrique."

Na opinião do colunista, os tucanos deveriam ter ido aos microfones, um atrás do outro, e martelar que aquilo era o PT reconhecendo a boa decisão do PSDB do passado.

Para ele, o PSDB tem colocado em prática um "suicídio partidário". "O critério de atuação parlamentar do PSDB é votar contra o Planalto. E isso, diante da opinião pública com mais informação, revela uma crise profunda, de rumos e de moral, em parte", diz ele. "O perigo é acabar sem as duas coisas, sem plataforma e sem impeachment", pondera Canzian.


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