Folha de S. Paulo


Fotógrafo brasileiro usa imagens em prol da preservação de espécies

Luciano Candisani tem "dificuldades" em lidar com o ambiente urbano de São Paulo. Aos 47, vive com a família na ilha de São Sebastião, no litoral norte paulista.

A ligação com a água salgada vem da infância, quando Candisani passava a maior parte de seu tempo livre no sul da costa do Estado.

O mar acabou virando um dos protagonistas do trabalho do paulistano. Formado em biologia pela USP, ele é considerado um dos principais fotógrafos de natureza do mundo.

Em 20 anos de carreira, trabalhou no arquipélago de Galápagos, no Equador, além de Filipinas e Antártica, entre outros.

"A escolha do local se dá pelo encantamento com a história que existe para ser contada", afirma. Mas a atração nem sempre ocorre por causa de fatores positivos ou simplesmente plásticos.

Há uma década, Candisani foi chamado para integrar a Liga Internacional de Fotógrafos de Preservação (ILCP, na sigla em inglês), fundada nos Estados Unidos.

O propósito da entidade é usar as fotos para chamar a atenção para ambientes e espécies ameaçados.

Para o fotógrafo, imagens têm mais potencial de sensibilizar do que dados científicos, principalmente quando se trata de tomadores de decisão, que têm o poder de criar, por exemplo, uma área de preservação ou uma lei voltada para a conservação.

No Brasil, segundo Candisani, é preciso olhar para os manguezais, que "estão desaparecendo, sendo substituídos por grandes empreendimentos imobiliários".

"Muitas espécies precisam do abrigo do manguezal em fases importantíssimas do ciclo de vida, o acasalamento e o nascimento dos filhotes." Uma delas é o peixe-boi marinho.

"É um bicho que está desaparecendo justamente porque precisa desse ambiente para que os filhotes nasçam em segurança e alcancem o mar aberto só no momento em que podem vencer as correntezas", diz.

"Sem os manguezais, os animais dão à luz em mar aberto e os filhotes são carregados pela onda e acabam morrendo na praia."

Segundo a Fundação Mamíferos Aquáticos, que atua na preservação de diversas espécies, hoje, o país tem apenas 1.104 exemplares do peixe-boi marinho, entre o litoral de Alagoas e Piauí. Não há dados sobre a população que vive no trecho do Maranhão ao Amapá.

Atualmente, iniciativas como o Projeto Peixe-Boi Marinho resgatam filhotes, criam em cativeiro e reintroduzem nos ambientes.

O Atol das Rocas, na costa do Rio Grande do Norte, cumpre papel similar ao dos manguezais. "É um ambiente com lagoas de águas calmas, que têm como função receber espécies que vão acasalar e dar à luz", diz Candisani.


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