Folha de S. Paulo


Guia desmistifica visão de que comida inglesa é a pior do mundo

Odd Andersen/AFP
Cerimônia de troca de guarda no palácio de Buckingham, Londres, na Inglaterra
Cerimônia de troca de guarda no palácio de Buckingham, Londres, na Inglaterra

"Está sofrendo muito com a comida de Londres?" –durante o ano e meio em que morou na cidade, o jornalista Daniel Buarque se cansou de ouvir essa pergunta.

Conhecida mundo afora por uma culinária classificada como menos apurada que a da França, por exemplo, a Inglaterra tem pratos tradicionais que podem parecer estranhos para outros paladares. Caso da gelatina de enguia ou do pudim de rim.

Além disso, a relação dos britânicos com a alimentação passa longe da paixão, como como é o caso dos próprios franceses, mas também de italianos e espanhóis. Está mais para um casamento sem amor, no qual o prazer não é essencial, diz Buarque.

Mas a verdade é que comer na capital inglesa não foi nenhum sofrimento para ele, que em 2013 viajou à cidade para fazer um mestrado. Apaixonado por comida, encontrou alguns dos melhores restaurantes do planeta na capital, produtos de diferentes países e uma culinária local renovada, com releitura de receitas tradicionais.

É essa experiência que está no livro "Comendo Londres - Um Guia para Amar a Pior Comida do Mundo", o segundo do jornalista sobre o tema. O primeiro, "Comendo a Grande Maçã", lançado em 2011, fala sobre a variedade gastronômica de Nova York.

"O objetivo foi quebrar o preconceito em relação à culinária britânica e fazer com que as pessoas formem a sua própria opinião depois de experimentar pratos como o pudim de rim", diz Buarque, que é jornalista da Folha.

MELHOR QUE PARIS?

Na obra, Buarque afirma que é possível comer melhor em Londres do que em Paris. Ele diz que seu objetivo não é ofender a mais famosa cozinha do planeta, mas provocar uma mudança de expectativa na hora de viajar.
"Na França, turistas ficam felizes ao comer crepes que ficam expostos há horas e apenas ganham uma camada de Nutella quando servidos. Porque lá a gastronomia é supervalorizada", avalia.

Para ele, a má fama londrina é tão forte que muitos visitantes se deixam levar pelo estereótipo negativo e se contentam com restaurantes e experiências ruins.

Mais do que um guia de endereços, "Comendo Londres" fala sobre costumes alimentares da Inglaterra. O livro não lista apenas lugares badalados, mas tenta explicar as tradições locais –como saborear um bom rosbife no domingo.

"A ideia era que não ficasse um guia datado. De uma década para outra, os melhores restaurantes mudam. A cultura não", afirma.

*

COMIDAS BIZARRAS
Conheça pratos estranhos da capital inglesa

Pudim de sangue
O "black pudding" é o tipo mais antigo de salsicha do mundo. É feito com sangue de animais, cereais, vegetais e gordura, como a "morcela" argentina

Feijão doce
Mergulhado em molho adocicado e preparado com tomates, é servido no café da manhã só com torradas ("beans on toast") ou ao lado de linguiças, bacon, ovo e tomate

Gelatina de enguia
Preparado com postas de enguias cozidas, resfriadas e servidas dentro da gelatina natural que é liberada no seu cozimento. A carne macia deve ser mastigada com cuidado: há um osso que precisa ser separado ainda na boca

Sanduíche de batatas fritas
Nada mais é que um pão amassado com manteiga e recheado com um punhado de batatas fritas, que devem estar bem crocantes

Buchada escocesa
O "haggis" é preparado com fígado, pulmão e coração de ovelha triturados, temperados e misturados com aveia e colocados dentro do estômago do animal para cozinhar. O resultado é parecido com a buchada nordestina

Sapo no buraco
O mais esquisito do prato é o nome (em inglês,"toad in hole"). Nele, as linguiças assadas ficam no meio de uma massa, que se assemelharia a um "sapo no buraco". Faz parte da mesa inglesa há mais de 200 anos e, por muito tempo, foi associado às classes mais baixas

*

Comendo Londres

AUTOR Daniel Buarque
EDITORA Livros de Comida
QUANTO R$ 39,90 (240 págs.)


Endereço da página: