Folha de S. Paulo


Estação de esqui no interior do Iraque quer virar refúgio turístico

A estação de esqui de Korek, no norte do Iraque, quer atrair fãs de esportes de inverno ao Oriente Médio. Essa não será uma tarefa fácil diante dos temores relacionados à segurança e à má imagem turística que atualmente tem país.

Em 2014, Fawaz Behnam, 35, e sua família tiveram que fugir de Mossul (a cerca de 160 km de Korek), deixando para trás sua casa e sua joalheria para escapar dos jihadistas do grupo terrorista Estado Islâmico (EI).

"Estávamos exaustos e agora queremos desfrutar desse lugar. Aqui as pessoas se divertem, não é como em Mossul", afirma.

ESCONDERIJO

A estação de Korek fica na região autônoma do Curdistão, onde milhares de iraquianos encontraram refúgio depois da ofensiva do EI. Aqui, os únicos combates são batalhas com bolas de neve.

"As pessoas estão relaxadas e se divertindo. É claro que isso nos libera do clima de matanças, desabrigados e perseguição", diz o cunhado de Behnam, Anmar Munir, um jovem contabilista que se instalou na cidade curda de Dohuk, a oeste de Korek.

Em Mossul, a guerra continua a causar estragos. Há cerca de quatro meses, as forças de segurança iraquianas tentam expulsar o Estado Islâmico da cidade, o maior bastião do grupo no Iraque.

Fawaz e Anmar fazem parte dos desabrigados que têm dinheiro suficiente para pagar uma viagem a Korek. Enquanto isso, centenas de milhares de iraquianos passam seu terceiro inverno em campos de refugiados.

Nader Rusty, porta-voz do Ministério de Turismo do Iraque, tem outras ambições para a única estação de esqui do país, além de servir de consolo às vítimas da guerra.

Como todos os anos, Korek organizou na semana passada um festival que propõe múltiplas atividades: aulas de esqui, dança tradicional, corridas de trenó... "É muito importante desenvolver o turismo e, sobretudo, o turismo de inverno", afirma.

O Iraque, devastado pela guerra e mais conhecido pelo sol abrasador do que pela neve, não tem fama de ser um destino turístico, mas Korek espera se tornar conhecida.

O ano de 2014 deveria ter sido o momento da decolagem do turismo na região do Curdistão, e Korek ia ser um dos seus lugares estelares. Mas as consequências devastadoras da ofensiva do EI mudaram muito a situação.

INFRAESTRUTURA

No momento, Korek não dispõe de cadeiras em seu teleférico, mas tem um funicular e chalés de luxo.

James Willcox, co-fundador da Untamed Borders, uma agência britânica especializada em turismo de aventura, foi ao festival de inverno com um grupo de pessoas que participaram da primeira viagem organizada com o objetivo de esquiar no Iraque, de acordo com ele.

Além de praticar o esporte, "escutamos música, comemos e desfrutamos do festival", conta Willcox.

Por sua vez, Rohan Lord saiu da Nova Zelândia para esquiar no Iraque. "A neve é fenomenal, e a hospitalidade é incrível", afirma.

E a guerra? "Estávamos nervosos", diz.

Mas, para a maioria dos presentes, Korek está longe da batalha contra os jihadistas, diz Mohamed Ghanem, estudante oriundo de Faluja, cidade a oeste de Bagdá que as forças governamentais retomaram do EI em 2016.

"Em Fajula, não há natureza como essa... Só há explosões, e você nunca se sente seguro", afirma.

Onde fica - Iraque

Tradução de DENISE MOTA


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