Folha de S. Paulo


Resort oferece estadia 'detox' em região isolada de Miami

"Não há nada aqui por perto, nem bares nem boates. As pessoas vêm aqui para descansar." Um concierge engravatado chamado Mickey dá o tom dessa colônia de férias logo na entrada, já me preparando para a experiência "detox" que o spa promete.

Turnberry Isle fica a quase uma hora -no trânsito de Miami do epicentro das feiras de arte que dominam o balneário americano. No norte da cidade, perto de um shopping gigantesco e único sinal de vida por ali, ele é um dos favoritos de brasileiros e colecionadores após semanas de compras milionárias.

Toda virada de ano, na época da Art Basel Miami Beach e dos cerca de 30 eventos paralelos que agitam os hotéis à beira-mar, endinheirados migram para os campos de golfe desse hotel em busca de paz interior e sossego, tal qual pavões de ressaca.

Mas é difícil largar maus hábitos. Na entrada do meu "circuito de bem-estar", um mocinho de sotaque afrancesado logo me estende a mão com uma taça de champanhe.

No lobby da chamada sala de relaxamento, há uma escultura de Ugo Rondinone, queridinho da cena artística atual e famoso por empilhar pedras, e gravuras do mestre pop Robert Rauschenberg
-lembrando que esse é um resort para escravos da arte.

Todos falam baixinho e muito devagar, intercalando sorrisos em câmera lenta entre as palavras. Uma terapeuta explica que vou passar por uma sauna a vapor, depois uma sala com paredes de sal do Himalaia para secar, seguida de chuveirada com dezenas de jatos de água superpotentes e outras surpresas criadas para revitalizar, hidratar e desanuviar a mente.

Não fosse a hidratação à base de champanhe, não teria aguentado a eternidade na sauna a vapor. Na seguinte, à luz rósea dos blocos de sal que formam as paredes, passei um tempo observando um senhor, também com uma taça na mão, em contemplação profunda. Quis perguntar, com a solidariedade de outro encarcerado, que transação o levara ali, mas me rendi aos encantos do sal.

Turnberry tem um jeito todo especial de restaurar a fé na vida. E isso envolve mais sal. Logo me levaram a uma sala escura onde um enorme objeto branco descansa solitário. É uma espécie de nave da Xuxa com uma banheira dentro. A tina de água morna está saturada de sal, simulando o efeito do mar Morto.

É impossível afundar ou ver qualquer coisa. Nu, você é fechado ali tal qual num sarcófago. As luzes se apagam e, com elas, qualquer noção de espaço, tempo e localização. Talvez seja a sensação mais próxima de voltar ao útero que um adulto pode sentir.

Depois de outras taças de champanhe -elas nunca param de vir-, uma massagista me leva, a mão colada nas minhas costas, a uma sala com uma mesa coberta de minúsculas pedras cor-de-rosa. Ali, ela me enterra ao som de gongos e música de elevador com flautas peruanas para restaurar minhas energias.

Nunca me senti tão leve. No dia seguinte, uma professora de ioga ensinou alguns movimentos para expandir o corpo, que "tem um tamanho muito maior do que ele ocupa de verdade". A ideia é espairecer esticando todos os músculos, ossos e tendões.

E a viagem termina com a fé restaurada nos encantos do mundo da arte. Pegar o trânsito rumo aos shoppings de quadros que domina a cena do balneário volta a ser um alívio para almas consumistas bem descansadas.

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TURNBERRY ISLE

ONDE 19999 West Country Club Drive, Miami, Florida(EUA)
QUANTO sete dias de hospedagem a partir de US$ 4.600 (R$ 14.382) por pessoa, com café da manhã e US$ 50 por dia para usar no resort
INFORMAÇÕES turnberryislemiami.com


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