"Nenhuma conta bancária foi maltratada durante a realização desta viagem." Eis uma promessa que a Dolce Vacation não pode fazer.
A empresa criada pelo paulista Bruno Kennerly Benevides, 36, opera como uma espécie de Airbnb de luxo. São 200 propriedades em Miami, com diárias que começam em torno de US$ 400 (R$ 1.263) e chegam a US$ 20 mil (R$ 62,2 mil), segundo Benevides.
Até aqui, nada que o Airbnb, a mais popular plataforma de hospedagens, não tenha feito antes -suas ofertas incluem um castelo francês há seis gerações com a mesma família e um casarão em São Francisco que já abrigou Beyoncé e Justin Bieber.
Mas a Dolce Vacation vai além de intermediar o contato entre anfitrião e hóspede. Para começar, mima o cliente com kits L'Occitane no banheiro e champanhe, frutas e docinhos de boas-vindas.
Há uma cartela de serviços: concierge (que marca reservas em restaurantes badalados se preciso), "personal shopper" (especialista que ajuda a gastar ainda mais dinheiro em compras), babá, motorista e camareira. A maioria deles a custo extra.
O site (dolcevacation.com) lista de mansões em ilhas a um apartamento envidraçado com três suítes e jacuzzi. Endereço: Trump Tower 3, de frente para a praia (US$ 600 ou R$ 1.875). Uma das opções mais em conta.
Se a diária superar US$ 8.000 (R$ 25.276), o anúncio entra sob a bandeira "special deal" (negócio especial), na qual o preço é omitido. Aí se enquadram, para a temporada de Carnaval, as mansões Villa Golden (vila ouro) e Villa Ironic (vila irônica).
O empresário Rogério Monticelli, 50, gastou US$ 2.800 (R$ 8.850) por dia para ele, a mulher, dois filhos, sogros e outros parentes ficarem numa casa "de móveis finos" no início do ano, com barco à disposição (não usado) e BMW à espera no aeroporto.
O engenheiro Caio Neves, 30, que fabrica embarcações, é a outra ponta. Ele aluga o apartamento da mãe, aposentada, no Carillon Miami Wellness Resort, condomínio para "velhinhos endinheirados", diz. Coisa fina: "Se você entra lá, tem gente abrindo a porta e o escambau".
O problema é que o espaço fica ocioso a maior parte do ano -e drenando dinheiro (mais de R$ 10 mil por mês com condomínio e impostos).
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Apartamento em Hallande Beach, cidade perto de Miami (EUA) |
SELFIE
Para Benevides, há duas modalidades de clientes dispostos a pagar pelo "'lifestyle' de Miami", em que "você pode ter os 'brinquedinhos' e o carro conversível".
O primeiro é o milionário. Nesse grupo já figuraram um político do primeiro escalão e um dos dez homens mais ricos do Brasil (ambos preferem "discrição", afirma).
Tem também o freguês que quer "brincar" de ser ricaço. Benevides reconhece o tipo de longe. "Tem gente que vem pra cá e pede para alugar uma Ferrari, mas só por um dia. Aí consegue tirar o máximo de fotos possível para postar no Instagram."
O perfil da Dolce Vacation na rede social traz fotos de casas paradisíacas e de barcas de sushi acompanhadas de espumante. A promessa pode ser de férias tão coloridas quanto as esculturas de Romero Britto, que tem ateliê na cidade. Mas a presença verde-amarela já foi mais forte.
Ainda somos os estrangeiros que mais visitam a área, segundo o Escritório de Convenções e Visitantes da Grande Miami, órgão local de turismo: 344 mil brasileiros no primeiro semestre de 2016 (ainda não há total anual), 22% a menos do que os 441 mil nesse período de 2015.