Folha de S. Paulo


Polinésia Francesa é cenário de lua de mel, mas recebe bem os solteiros

Fui à Polinésia Francesa sozinha –e sobrevivi.

Sobrevivi aos olhares desolados das garçonetes, todos os dias no café da manhã, em diferentes hotéis, quando ouviam um "sim" para a pergunta: "Você está sozinha?".

Sobrevivi aos passeios em que os grupos eram formados apenas por casais em lua de mel ou celebrando mais um ano de casamento.

Sobrevivi em cada sala de embarque dos aeroportos, onde as poltronas eram tomadas por infinitas duplas.

Dá para sobreviver, e eu o fiz, mas se você gosta de viajar sozinho ou com um amigo, tenha em mente essas situações antes de escolher visitar a Polinésia Francesa.

E, se tiver acabado recentemente um relacionamento, repense várias vezes o destino: poderá ter vontades súbitas de pular do barco e sumir no mar cristalino.

A Polinésia Francesa, no clichezão de agentes de turismo, é o "destino número um" de lua de mel. Então, desde o momento em que o turista bota os pés no solo do arquipélago, tudo é pensado para receber bem quem acaba de desembarcar na vida a dois.

Mas isso não significa que viajantes solitários não sejam bem tratados ou não consigam aproveitar as 130 ilhas agrupadas em cinco arquipélagos que compõem o território francês na Oceania.

Destes, os dois mais conhecidos são as Ilhas da Sociedade, onde ficam Taiti, Moorea e Bora Bora, e as Ilhas Marquesas, com várias de suas paisagens retratadas pelo pintor francês Paul Gauguin (1848 - 1903), que ali viveu.

Para quem viaja do Brasil, é uma longa jornada. Saindo de São Paulo, é possível ir por Los Angeles (EUA) ou pelo Chile, via Ilha de Páscoa.

Pela primeira opção, são 12 horas de voo até os Estados Unidos. Chegando lá, espera-se mais 14 horas até encarar o segundo voo, de pouco mais de oito horas. Então, se você sair numa segunda à noite do Brasil, chegará lá na quarta-feira, num fuso-horário de oito horas a menos. Ou seja, tire seu primeiro dia na Polinésia para não fazer nada, porque o jet lag é puxadíssimo.

Em cada chegada a um hotel, recebe-se um colar feito de flores locais, como a branca tiarê (uma espécie de gardênia), com a saudação "ia orana": oi ou bom dia, no idioma polinésio. Na hora de ir embora, as plantas são trocadas por conchinhas, marcando sua despedida.

DISNEY DOS RESORTS

Se o primeiro destino for a ilha mais famosa da Polinésia Francesa, Bora Bora, o turista terá que encarar um outro voo de 50 minutos para chegar ao destino. O ideal é escolher uma poltrona na janela, porque os "uaus" começam lá de cima ao avistar lagoas azuis-esverdeadas no mar. Bora Bora, como disse um polinésio, é a Disney dos resorts.

As praias são tomadas por esses grandes hotéis, com bangalôs que ficam em cima da água e têm chão de vidro para os hóspedes verem os peixes. Quartos bem mais em conta ficam nos jardins. No Bora Bora Pearl Beach Resort & Spa, por exemplo, a diária em bangalô no jardim custa a partir de US$ 465 (R$ 1.522) com café da manhã.

Ao pisar em um deles, o modo "relaxamento total" é acionado. Ali, é só curtir a praia particular, fazer stand-up paddle, aproveitar o spa e a piscina. Bora Bora tem um pequeno centro com restaurantes e lojinhas. Os resorts oferecem traslado de barco em horários determinados até o píer central.

Os passeios mais legais são os de mergulho livre na costa de corais e com tubarões e arraias. Os barcos das agências buscam o hóspede no hotel e levam a alto-mar. A vista parece um filme de Jacques Cousteau, com dezenas de peixes coloridos.

Tudo é lindo até que aparece o primeiro tubarãozinho galha-preta a seu lado. Mesmo os que dizem não ter medo ficam paralisados. Depois vêm vários outros tubarões –e aí é encarar a aventura ou voltar correndo para o barco.

No fim do tour, o barco irá ancorar em um "motu", que são ilhotas particulares com uma pequena infraestrutura, como banheiro, churrasqueira e mesinhas. Enquanto o visitante curte uma praia isolada, com espreguiçadeiras à disposição, o marinheiro prepara o almoço: o tradicional peixe branco mahi-mahi cru ao leite de coco, frango na grelha, arroz e pão de coco.

Como em toda excursão, sempre existe aquela taxa extra de mico a se pagar (além dos US$ 150). O "guia" vai fazer gracinhas, dançar, ensinar como se abre um coco e por aí vai. Mas você estará num lugar tão lindo que dá para rir até de piadinha sem graça.

A jornalista viajou a convite da Atout France, do Tahiti Tourisme e da Air Tahiti Nui

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ONDE FICA ISSO?

POLINÉSIA FRANCESA
(Território de Ultramar da França)

Localização Oceania
População 271 mil pessoas (em 2014)
Capital Papeete (no Taiti, maior ilha do arquipélago)
Moeda Franco CFP (R$ 1 = 34,87 francos)
Número total de ilhas cerca de 130

  • Tudo é caro na Polinésia. Um cafezinho não vai sair por menos de US$ 5 (R$ 16,40). Os pratos nos restaurantes custam em média US$ 40 (R$ 131)
  • Leve pouca bagagem, pois os traslados são feitos em aviões pequenos que aceitam malas com no máximo 20 quilos
  • A internet funciona muito mal
  • Leve remédios. Não existem postos médicos nas ilhas. O principal hospital fica no Taiti, em Papeete
  • Muitos locais aceitam cartões, mas é bom ter francos polinésios à mão
  • Vocabulário básico na língua polinésia: "Ia Orana" (Oi / Bom dia); "Mauruuru" (Obrigado); "Nãnã" (Tchau)

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