Folha de S. Paulo


Durante luto por Fidel, rumba é declarada patrimônio da Unesco

A rumba cubana foi declarada patrimônio cultural da Unesco nesta quarta (30), mas quem espera apreciar um espetáculo musical no famoso restaurante El Guajirito vai se deparar com o palco vazio.

Os turistas que desejam tomar um daiquiri no bar El Floridita, o preferido do lendário escritor americano Ernest Hemingway, em Habana Vieja, também encontrarão as portas fechadas.

Enquanto Cuba cumpre nove dias de luto pelo ícone comunista Fidel Castro, que morreu na última sexta (25), turistas vagueiam pela ruas tranquilas de Havana à procura de músicos de ritmos típicos.

As autoridades proibiram a venda de álcool, os shows foram cancelados, deixando os turistas com poucas opções de entretenimento.

Um casal espanhol bebia limonada no bar Bilbao, em Habana Vieja, em vez de degustar as cervejas e os runs que estavam à vista.

"Como um turista, gostaria de tomar uma cerveja, mas é compreensível", disse Vicente Pavon, 28, executivo.

"É um momento histórico para ser lembrado. Em alguns anos, poderemos dizer que estivemos aqui", afirmou ele, embora tenha admitido que teria gostado de beber um daiquiri ao lado do famoso busto de bronze de Hemingway.

Foi o próprio escritor que aumentou a fama de El Floridita em todo o mundo com a frase: "O meu mojito em La Bodeguita, o meu daiquiri em El Floridita".

"POSSO VOLTAR"

Os americanos já estão contentes só em ouvir falar sobre a rumba cubana, que nesta quarta foi incluída na lista de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco.

JuTina Singletary, professor de 55 anos da Louisiana (EUA), aproveitou o momento histórico para ir, na terça-feira (29), à Praça da Revolução, um dos lugares mais amados por Fidel, no qual centenas de milhares de cubanos prestaram homenagens ao homem que governou os governou por mais de 50 anos.

O professor ficou mais de quatro horas na fila para entrar no memorial José Martí, onde se ergueu um altar sóbrio de flores, com a imagem de um Fidel de barba negra, vestido de guerrilheiro.

"Posso voltar muitas vezes para ouvir a música, mas esta experiência é única", disse.

Outros americanos acreditam que a visita permitiu-lhes ver uma outra faceta do pai da revolução cubana, muito diferente da de um ditador malvado que aprisiona dissidentes impiedosamente.

"Tenho outra visão de Fidel. Vejo que fez coisas boas", disse Sandi Rockers, um contador de 52 anos do Novo México (EUA), ao enumerar as realizações do líder nas áreas de educação e saúde.

AMEAÇA DE TRUMP

Hordas de americanos visitaram Cuba desde que o presidente Barack Obama e o presidente Raul Castro decidiram restabelecer as relações em dezembro de 2014.

Enquanto o embargo dos Estados Unidos ainda proíbe seus cidadãos de viajarem a Cuba como turistas regulares, os americanos podem fazer uso de uma autorização especial que não requer tanta burocracia.

Quase 137 mil americanos viajaram para Cuba na primeira metade do ano, 80% a mais do que no mesmo período de 2015, segundo dados oficiais.

Mas muitos temem que Trump cumpra as promessas de acabar, se o governo cubano não tiver mudanças, com o processo de reaproximação iniciado por Washington e Havana em 2014 –que no ano passado levou à reabertura das embaixadas depois de meio século de ruptura.

"O que Obama fez é muito valioso e deve continuar", disse Brian Weaver, um cirurgião de 40 anos, de Ohio, que chegou na segunda-feira com três amigos.

Um deles, Eric Buck, afirmou que realizou uma viagem que nunca havia imaginado. "Seria uma pena retroceder", comentou o dentista de 40 anos.


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