Folha de S. Paulo


Residência de verão dos papas é aberta ao público na Itália

O Vaticano mostrou nesta sexta-feira (21) os apartamentos da residência de verão dos papas nas Vilas Pontifícias de Castelgandolfo, a 25 km de Roma, abertos ao público a pedido do papa Francisco, que nunca os utilizou e quer transformá-los em um museu.

A partir de sábado, os aposentos usados pelos pontífices para passar as férias de verão poderão ser visitados pelo público em geral. Um itinerário organizado pelos Museus Vaticanos guiará os turistas pelo espaço, com vista para o lago Albano.

Cumprindo o desejo do papa, o espaço foi aos poucos sendo aberto ao público, começando pelos famosos jardins ornamentais italianos, depois pela Galeria dos Retratos dos Pontífices e agora pelos quartos usados pelos papas como retiro de verão.

Construída sobre ruínas imperiais, entre elas um teatro romano, Castelgandolfo é a maior residência do Vaticano. No segundo andar, ainda se pode perceber a presença do papa Bento 16, que deixou no escritório 12 volumes de léxico teológico em alemão.

O pontífice alemão gostava de descansar e tocar piano no local. Após anunciar que deixava o cargo, tornando-se o primeiro papa a renunciar em sete séculos, fez sua última saudação da varanda deste edifício.

Mesmo depois de deixar o Vaticano, foi ao palácio para fugir do calor em julho de 2015, convidado por Francisco.

Antes dele, o papa polonês João Paulo 2º (1978-2005) passou longas temporadas na residência e inclusive mandou construir uma piscina no local.

A principal atração da visita será o quarto decorado em tons de verde claro onde dormiram 15 papas. Lá, os visitantes poderão ver a cama de solteiro, com uma cabeceira de madeira e mármore, e uma capela adjacente onde várias gerações de papas se ajoelharam para rezar.

Este cômodo de tamanho médio é o lugar mais interessante para o visitante, que antes tem de passar por uma série de salas protocolares, quase desprovidas de móveis. Naquele quarto morreram dois papas: Pio 12 em 1958 e Paulo 6º em 1978.

"Aqui a História se mistura com as pequenas histórias", disse Osvaldo Gianoli, diretor das Vilas Pontifícias.

REFUGIADOS DE GUERRA

O lugar já esteve aberto ao público durante o final da Segunda Guerra Mundial, quando cerca de 12 mil habitantes dos arredores encontraram refúgio na propriedade de 55 hectares.

O quarto do papa se transformou em uma creche onde dormiram cerca de 40 bebês, alguns dos quais tiveram que ser colocados na cama do pontífice. Daí surgiu o apelido "as crianças do papa" e os nomes de batismo que foram outorgados aos bebês, Eugenio para alguns e Pio para outros.

"A abertura dos apartamentos privados tem um valor simbólico e é uma representação da política pastoral do papa Francisco", disse Gianoli, durante a cerimônia inaugural.

Em 2014, o papa argentino decidiu abrir os jardins de estilo italiano da "Villa Barberini" de Castelgandolfo, permitindo visitas guiadas em grupos.

Há um ano, os turistas também podem viajar em um trem histórico na ferrovia antiga que liga a cidade vaticana até a residência papal de verão, assim como visitar uma galeria com retratos de 51 pontífices.

Francisco, conhecido por ser "antiférias", se mostrou muito caseiro e feliz por morar em um modesto apartamento de 50 m² dentro do Vaticano.

Desde o início do seu pontificado, ele anunciou que renunciava definitivamente a pernoitar em Castelgandolfo, onde só esteve em duas ocasiões.

Sua ausência, porém, não é excepcional, de acordo com Antonio Paolucci, diretor dos Museus do Vaticano, que disse que mais da metade dos 33 papas que poderiam ter desfrutado das instalações deixaram passar o privilégio.

Assim, nada impedirá que seus sucessores voltem a ocupar o lugar.


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