Folha de S. Paulo


Morte de rei cancela atrações turísticas e fecha bares na Tailândia

Soldados fotografam bares abertos à noite na rua Soi Cowboy de Bancoc, na Tailândia. Minutos depois, tudo fica às escuras. Turistas se apressam a pagar suas contas, enquanto funcionários se apressam a fechar as portas. Nada de festa durante o luto pela morte do rei.

A Tailândia anunciou que terá um ano de luto pelo falecimento, na última quinta (13), do rei Bhumibol Adulyadej, após 70 anos no trono, e pediu discrição nas regiões dedicadas ao turismo e ao lazer durante 30 dias.

Como o governo militar não entrou em detalhes, talvez para não espantar os turistas, os estabelecimentos da rua Cowboy acreditaram ter encontrado a solução para a sexta à noite: baixar o volume da música e vestir de luto as funcionárias que atraem os clientes.

Não foi o suficiente. A junta militar enviou soldados às ruas, cuja função era tirar fotos dos bares abertos. Em poucos minutos, acabou a luz. Os funcionários se apressavam a arrumar tudo e baixar as portas metálicas.

"Em pouco tempo, aumentou a tensão. Os soldados e os donos dos bares pareciam muito nervosos", diz Geroem Bonami, um turista belga de 31 anos.

"É muito estranho. Passei por aqui faz um mês e tudo estava muito diferente, com gente bebendo, divertindo-se, ouvindo música", fala a italiana Claudia Pantalei, 33.

'DEPRIMENTE'

Raúl está entediado. "Se tudo fica parado, vamos morrer de tédio. Quero sair e me divertir. É deprimente ver Bancoc assim", lamenta o turista mexicano de 24 anos.

Nas ruas da capital tailandesa, há painéis com a foto do rei sobre um fundo preto. A maioria dos supermercados suspendeu a venda de álcool por período indefinido.

Na rua Khaosan, um dos garçons, vestido de preto como a maioria dos tailandeses, diz que só vende álcool aos turistas. "Tailandeses não podem beber."

O holandês Kaz, 24, disse que planeja ir embora do país se a rotina continuar desse jeito.

A Autoridade de Turismo da Tailândia publicou uma série de recomendações nos últimos dias, pedindo aos turistas que se vistam de cores escuras e informando o cancelamento de atrações e espetáculos.

O festival Chiang Mai, por exemplo, que faz parte da festa da água, é um dos eventos cancelados. O palácio para onde foi levado o corpo do monarca também está fechado ao público. Na ilha Phagan, no sul do país, a "Full Moon Party", uma festa de música eletrônica popular entre turistas ocidentais também não será realizada.

Callum Knight, uma turista britânica, diz que "as coisas não estão tão ruins, pois é um momento histórico". Ela comenta enquanto bebe uma cerveja.

ADORADO

O rei Bhumibol era uma figura adorada na Tailândia, onde era visto como um monarca que dava estabilidade a um país que passou por diversas crises políticas nas últimas décadas. Ao contrário do que acontece na Espanha ou no Reino Unido, por exemplo, onde a figura da monarquia é questionada por setores da sociedade, Bhumibol chega a ser cultuado pelos tailandeses.

O país é hoje governada por uma junta militar que derrubou o governo em 2014. A população aprovou em referendo, em agosto, uma nova constituição que dá aos militares poderes de supervisionar governos civis.

O país também tem leis rigorosas de lesa-majestade, que proíbem críticas aos monarcas.


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