Folha de S. Paulo


Conhece a selva patagônica? Região tem floresta e águas quentes naturais

"Grande, grande", significa "huilo huilo", explica Jorge, motorista que nos leva do aeroporto de Temuco à reserva batizada com o nome da cachoeira que fica nesse pedaço da "selva patagônica".

A repetição, continua o chofer, enfatiza a abundância em mapudungun, língua da etnia mapuche, grupo indígena do centro-sul do Chile, onde fica a reserva privada de 104 mil hectares.

O caminho é longo. Depois de chegar a Santiago, outro voo de uma hora até Temuco, e dali uma viagem de carro de duas horas e meia. Mas a estrada é muito boa na maior parte do tempo, só deixando de ser pavimentada em um trecho antes de Neltume, o vilarejo mais próximo de Huilo-Huilo –de onde Jorge nunca saiu e onde vive com seus dois cães– e em outro depois.

Também é possível cobrir a distância de Santiago a Neltume em ônibus que saem da rodoviária de Santiago, numa viagem de 12 horas.

Neltume (3.500 habitantes) e Puerto Fuy (1.000) são pequenas povoações que integram o município de Panguipulli (35 mil) e que se estabeleceram devido à indústria madeireira, que se serviu da floresta por décadas.

A exploração das espécies de Nothofagus, família de árvores abundante na região, e de outras madeiras do bioma chamado selva patagônica, decaiu a partir dos anos 1970.

Mas foi só nos anos 2000 que o empresário Victor Petermann e sua então mulher, a arquiteta Ivonne Reifschneider, se dedicaram ao projeto Huilo-Huilo, que se ergue sobre três pilares, além do turismo: sustentabilidade, recuperação de espécies e integração da comunidade.

Petermann, empresário dono de uma holding de 18 empresas, fez fortuna com mineração, a principal atividade econômica do Chile. Uma incursão na indústria madeireira, com a fundação da Bomasa (Bosques y Maderas S.A.), terminou mal –a crise na empresa deixou mil pessoas sem emprego.

Seu ex-sócio estabeleceu uma firma que ainda atua no setor, a Luciana Pacific, enquanto Petermann adquiriu os 104 mil hectares que compõem hoje a Reserva Biológica Huilo-Huilo. Situada no interior de uma área dos Andes Patagônicos, em 2007 ela foi considerada pela Unesco uma reserva da biosfera.

A primeira construção turística se ergueu na área de preservação há 15 anos. Ainda hoje o Café del Bosque está lá, mas Huilo-Huilo conta com complexo hoteleiro, restaurantes e instalações de apoio às atividades de mata e montanha desenvolvidas.

ALÉM DA NEVE

O lugar mostra que o longilíneo país é um destino interessante para os fãs da natureza não necessariamente afeitos a esportes de neve.

É verdade que Huilo-Huilo tem seu centro de neve, onde é possível alugar esquis no inverno e raquetes para passear no glaciar, que também pode ser visitado no resto do ano.

Até porque os efeitos da elevação da temperatura global se fazem sentir na região dos lagos chilena. No começo do inverno, as pistas no centro de neve ainda mostravam a cor escura da rocha vulcânica, com neve somente nos pontos mais acima.

O guia que nos recebeu, Antonio Vásquez, expressava sua preocupação com as baixas precipitações. Apesar do frio, sobretudo de manhã cedo, havia pouca água e, portanto, pouca neve.

Igualmente, o rio Fuy registrava um nível muito abaixo do esperado para a temporada invernal, que é de chuvas. Em compensação, no verão, quando de fato não se espera que chova, são propícios os passeios na floresta.

É possível visitar os saltos Huilo-Huilo e Del Puma, ou fazer rotas educativas temáticas –sobre fungos ou sobre a cultura mapuche, por exemplo.

Há ainda passeios de barco pelo lindo Pirehueico, parte do sistema de lagos na divisa entre Chile e Argentina. A saída é da vila de Puerto Fuy, e pode-se ir até as termas de Huilo-Huilo, para banhos em tinas de madeira cheias de água quente natural.

No fim do dia, se o visitante quiser variar, pode deixar de lado o jantar no restaurante do Nothofagus e trocá-lo por uma pizza acompanhada de uma das variantes de cerveja produzidas na reserva, na Cervecería Petermann.

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Hospedagem conta com cabanas e hotéis em forma de cogumelo

A chegada se dá pelo hall do Nothofagus. O hotel que leva o nome da principal árvore da floresta ao redor é o centro da rede hoteleira de Huilo-Huilo. Suas paredes de madeira clara e suas vidraças formam um ambiente acolhedor, climatizado por lareiras e aquecedores.

Logo à entrada, estão as seções de apoio aos visitantes. Ali se agendam os passeios a pé ou a cavalo, o uso da tirolesa ou as visitas ao centro de neve. Até terrenos à venda na reserva são negociados em um dos boxes à entrada.

A área dos quartos se desenvolve ao longo de uma rampa circular em torno de um pátio no qual se instalam uma árvore do gênero Nothofagus e uma fonte da qual sai um arroio. A água corre sob os caminhos que conectam o hotel a outros dois, Montaña Mágica e Reino Fungi.

Na parte mais baixa da rampa, junto ao pátio, está o restaurante, que leva o mesmo nome do lugar e atende aos três hotéis, com menu variado de opções preparadas com ingredientes locais.

No alto, um mirante proporciona uma vista de 360 graus para a paisagem, que inclui o Mocho Choshuenco, vulcão em cujas encostas se desenvolvem atividades de neve.

As acomodações do Nothofagus são semelhantes às do Reino Fungi (com formas arredondadas que remetem aos cogumelos): quartos amplos e confortáveis, com camas enormes e luz suave. Ambos têm suítes a partir de US$ 256 (R$ 824). Os hotéis compartilham serviços como o spa, com piscinas para adultos e crianças, além de um recinto infantil e um salão de jogos.

O exemplar mais luxuoso da rede hoteleira da reserva é o Nawelpi Lodge. Ele é separado das outras instalações de Huilo-Huilo e tem seu próprio restaurante, com decoração que lembra um clube inglês, adornado por lustres feitos com galhadas de cervos. Uma noite ali custa a partir de US$ 538 (R$ 1.732).

No outro lado do espectro está o Canopy Village, uma aldeia de cabanas de madeira equipadas com camas de campanha, colchonete e cobertores. Cada uma tem mesinha e radiadores.

Na vila há ainda uma cozinha de uso comum, localizada em uma das passarelas que interligam o espaço à reserva, além de um salão para café da manhã e churrasqueiras. A hospedagem em uma das cabanas da Canopy Village custa a partir de US$ 802 (R$ 258) por noite.

A jornalista viajou a convite da Reserva Biológica Huilo-Huilo


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