Folha de S. Paulo


Cruzeiros que vêm ao Brasil têm pacotes em reais e roteiros maiores

Nos últimos dois anos, marcados por instabilidade política e crise econômica com direito a dólar em disparada, as temporadas de cruzeiros marítimos no Brasil viram uma mudança no perfil de compra.

Se antes os turistas garantiam suas vagas com até um ano de antecedência, hoje as vendas de pacotes só começam a aquecer neste mês –as embarcações navegam a partir de 21 de novembro.

Uma coisa, porém, não mudou. "A regra sempre é: quem puder comprar antes paga menos", diz Marco Ferraz, presidente da Clia Abremar, associação brasileira do setor.

Entre agosto e setembro intensificam-se as promoções –que foram marcas das últimas temporadas, como uma espécie de vacina anticrise.

Neste ano, ainda que o dólar já tenha se tornado menos assustador, as empresas "fizeram o câmbio" de suas operações. No escopo da crise, a MSC converteu todas as suas tarifas para reais, a exemplo do que faz a Costa e de como vai operar a Norwegian.

"Queremos oferecer aos clientes a possibilidade de fazer um planejamento sem sustos", diz Adrian Ursilli, diretor geral da MSC no Brasil.

Outras apostas mantidas foram parcelamentos –em até dez ou, no caso da CVC, 12 vezes– e a venda antecipada de serviços. Na MSC, pacotes de internet, bebidas e excursões podem até entrar no parcelamento. A CVC optou pelos pacotes "all inclusive".

MENOS MÍNIS

Nesta temporada, a grande novidade é uma estreia em alto-mar: pela primeira vez, a costa brasileira terá um navio da Norwegian Cruise Line.

"O grupo está em um momento de expansão internacional e não dava para não considerar o Brasil nesse contexto", diz a diretora da empresa no país, Estela Farina.

A vinda da marca se contrapõe ao desfalque de Royal Caribbean e Pullmantur, que fecharam as operações aqui (a segunda, que teve um navio fretado pela CVC, estará presente indiretamente).

Desde 2012, a temporada de cruzeiros no país tem se feito acompanhar de uma infeliz tradição, a de menos navios e passageiros a cada ano. Desta vez, a redução foi de 30%.

Em número de embarcações, em 2016/2017 o Brasil volta ao patamar de 2004/2005: seis navios. A quantidade de leitos oferecidos (381 mil) é semelhante à de cruzeiristas em 2007/2008 (396 mil).

A explicação é antiga: os custos no Brasil são mais altos –no caso da praticagem, quatro vezes o que se paga em outros destinos. "Para levar um navio até a Argentina, há isenção no ICMS do combustível; para ir de um Estado a outro no Brasil, a alíquota chega a 25%", diz Marco Ferraz.

Com menos navios, reduziu-se também a oferta de minicruzeiros (de duração de até quatro noites), que chegaram a responder por mais da metade dos roteiros na temporada passada –empresas como a MSC tinham navios dedicados só a essas viagens.

A CVC tentará preencher o vácuo: 19 das 24 saídas do Sovereign até março terão no máximo quatro noites.

Por outro lado, houve um reforço nos roteiros "internacionalizados", que partem do Brasil e fazem paradas na Argentina, no Uruguai e até no Chile. Serão 54 das 108 viagens de novembro a abril.

A Norwegian aposta na tendência: o Sun fará viagens entre Rio e Buenos Aires (parando no Uruguai) e vice-versa. Na Costa, 70% dos pacotes do Pacifica são vendidos para "hermanos". Além de dois navios no Brasil, a MSC terá um terceiro, o Orchestra, com embarques feitos só na Argentina.

"Optamos por essa experiência para oferecer um produto que fosse atraente também para o mercado internacional, para europeus e americanos fazerem cruzeiros na América do Sul", diz Estela Farina.

Em território nacional, a novidade são escalas-teste em Balneário Camboriú (SC) e em Guarapari (ES). Se tudo der certo, as duas podem se tornar, a partir da próxima temporada, paradas oficiais.

A novidade deve atrair cruzeiristas "profissionais", que já visitaram outras cidades em que os navios aportam.

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NÚMEROS DA TEMPORADA

6

navios, de 4 companhias (MSC, Costa, Norwegian Cruise Line e CVC/Pullmantur) estão na costa brasileira neste ano

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20

foi o auge da quantidade de navios no país, na temporada 2010/2011

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3

dos navios farão roteiros entre o Brasil e outros destinos sul-americanos

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381 mil

leitos serão oferecidos ao longo da temporada, 30% a menos do que em 2015/2016

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805 mil

foi o maior número de passageiros em uma mesma temporada (2011/2012)

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108

viagens serão feitas, contra 210 da última vez; cerca de 30% terão de 3 a 5 noites

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13

destinos terão paradas de cruzeiros, nos Estados de SC (Porto Belo), SP (Santos e Ilhabela), RJ (Rio, Búzios, Angra dos Reis, Ilha Grande e Cabo Frio), BA (Salvador e Ilhéus), AL (Maceió), PE (Recife) e CE (Fortaleza)

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2

cidades terão escalas-teste, para se tornarem paradas: Balneário Camboriú (SC) e Guarapari (ES)

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4.345

passageiros transporta o MSC Preziosa, o maior da temporada; o menor, o Norwegian Sun, leva 1.986


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