Folha de S. Paulo


Entre selfies e silêncio, Inhotim chega aos 10 anos; veja programação especial

No meio do bosque, um enorme prédio de aço, todo anguloso, lembra um transatlântico atracado na selva.

Mais adiante, uma estrutura circular de vidro serve de sala de música que toca os sons das entranhas da terra, com microfones mergulhados num buraco fundíssimo. Vigas metálicas também despontam do alto de um morro visto no horizonte, como um jogo de varetas de gigantes.

Esse não é um museu comum. Desde que abriu as portas, há dez anos, o Instituto Inhotim, uma antiga fazenda do magnata do minério Bernardo Paz nos arredores de Belo Horizonte, entrou para o circuito global da arte contemporânea calcado numa mistura ambiciosa de obras das maiores estrelas do planeta e uma natureza exuberante.

Um acervo de fazer inveja a qualquer instituição, com obras de Adriana Varejão, Cildo Meireles, Chris Burden, Doug Aitken, Hélio Oiticica, Janet Cardiff, Lygia Pape, Matthew Barney, Olafur Eliasson, Tunga, William Kentridge, entre outros, ali se espalha por uma paisagem de terra vermelha, plantas tropicais, orquídeas voadoras e lagos de um verde surreal –eles usam um corante à base de algas marinhas para dar esse toque.

Nem precisava. Flanar pelo mato em Inhotim não se compara à experiência de nenhum museu. Em muitos cantos, longe de turbas disputando um espaço para fotografar um quadro ou empunhando paus de selfie no afã de se retratar diante de obras-primas, é possível encontrar momentos de nirvana contemplativo.

Eles são raros, é claro. Quem vai a Inhotim também quer se fotografar, mas essa fúria é menos incômoda num bosque de 140 hectares do que espremido no cubo branco de uma galeria qualquer. Inhotim, aliás, decuplicou de tamanho desde que abriu suas portas.

Uma das primeiras obras a entrar para o acervo, a instalação "True Rouge", um monte de frascos cheios de líquido vermelho enredados num emaranhado de tecido preto que Tunga, artista morto neste ano, prendeu no teto, continua onde está, num pequeno pavilhão perto da entrada.

Logo ali também está o pavilhão de Cildo Meireles, com a famosa sala "Desvio para o Vermelho", a única que costuma ter filas na porta por ser hit entre adeptos das selfies.

Não muito longe, está o Taj Mahal de Inhotim, o pavilhão dedicado à obra de Adriana Varejão, que foi casada com Paz. Desenhada pelo arquiteto Rodrigo Cerviño, a estrutura é um casamento perfeito com a obra da artista famosa por construir paredes de azulejos que revelam um mar de entranhas sangrentas pelas frestas de cerâmica.

Outro caso de sintonia surreal é o edifício que abriga a instalação "Tteia", de Lygia Pape, uma tempestade de fios dourados que brilham na escuridão –o prédio desenhado pela firma Rizoma parece se contorcer junto com a obra.

Mas é nos pontos mais remotos do museu, longe dessa pracinha com ar de Times Square de Inhotim, que a paz reina suprema. No meio do mato, onde estão as obras de Chris Burden e Giuseppe Penone, um mar imenso de montes verdes parece se descortinar a perder de vista.

O silêncio só é interrompido pelo murmúrio dos carrinhos de golfe levando visitantes para cima e para baixo. Às vezes, uma noiva cruza o caminho –o museu virou destino preferido de casais de noivos prestes a subir ao altar.

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ANIVERSÁRIO

Para celebrar seus dez anos, o Instituto Inhotim preparou uma programação especial, com eventos que serão realizados entre 1º e 11 de setembro.

Em vez de novas e grandiosas galerias, as atrações preveem seminários, shows de Marisa Monte e Fernanda Takai (ambos com ingressos esgotados), performances em homenagem a Tunga, visitas guiadas temáticas e a abertura de mostras temporárias.

A programação completa está no site inhotim.org.br/10anos.

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INSTITUTO INHOTIM

  • ONDE r. B, 20, Brumadinho; tel. (31) 3571-9700
  • QUANDO ter. a sex., das 9h30 às 16h30; sáb. e dom., das 9h30 às 17h30
  • QUANTO ter. e qui., R$ 25; sex. a dom., R$ 40; qua., grátis
  • MAIS inhotim.org.br

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