Folha de S. Paulo


16 lugares para escutar música de verdade no Rio de Janeiro

Samba, choro, bossa-nova, jazz. Quais são os lugares do Rio para ouvir boa música? Em tempos de Olimpíada, quando gente de todas as partes aporta em terras cariocas, é bom saber: são muitos. Do Andaraí à Lapa, da Pedra do Sal aos becos de Copacabana, nos morros ou no asfalto, pode-se ouvir grande música, cantada ou instrumental, quase sempre acompanhada de bebidas e petiscos. E, em muitos casos, tendo em torno paredes ou ruas que contam histórias. Ou que são História.

O Rio faz boa música desde o tempo dos tupinambás. Talvez haja um exagero em atribuir esse dom aos índios da Guanabara, mas não se nega a musicalidade dos cariocas. E não estamos falando só de Pixinguinha, Noel Rosa, Tom Jobim.

Quando a Corte portuguesa chegou ao Brasil em 1808, dom João 6º trouxe com ele seu próprio maestro, Marcos Portugal. Aqui, descobriu um carioca de enorme talento musical: o padre José Maurício. E o "adotou" de tal maneira que foi uma ciumeira danada por parte do português. São histórias assim que nos incentivam a procurar a boa música tocada pelas esquinas do Rio. Aqui vão algumas ideias.

HELOISA SEIXAS é escritora

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Choro e samba na feira

É bom passear em uma feira, em meio ao colorido de flores, frutas e legumes e ao cheirinho de pastel, croquete e caldo de cana. Agora imagine tudo isso e mais o som de uma roda de choro ou samba. É essa mistura gostosa que o carioca, ou quem vem passear na cidade, encontra em dois lugares: na feira da General Glicério, em Laranjeiras, aos sábados, e na feira da Glória, aos domingos.

A roda de choro da General Glicério é tão tradicional que um pessoal que começou se apresentando lá criou, no ano 2000, o grupo instrumental Choro na Feira, que já gravou vários discos. Embora a feira funcione desde bem cedinho –como toda feira livre–, a música só começa perto do meio-dia (só quando chove forte é que a roda de choro é cancelada). Outra atração da feira da General Glicério é a barraca do Luizinho,
que vende CDs raros e caipirinhas de frutas.

Já a feira da Glória, considerada uma das melhores (e mais baratas) da cidade, é animada pelo grupo de pagode Time de Crioulo –mas é preciso ficar atento, porque este só se apresenta de 15 em 15 dias.

  • ONDE r. General Glicério, Laranjeiras, e r. Augusto Severo, Glória

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Muda

Divulgação
Centro de Referência da Música Carioca, que fica em um casarão na esquina das ruas Garibaldi e Conde do Bonfim
Centro de Referência da Música Carioca, que fica em um casarão nas ruas Garibaldi e Conde do Bonfim

O nome é comprido: Centro de Referência da Música Carioca Artur da Távola. E a história também não é curta. Foram anos e anos de luta até que a comunidade da Muda, na Grande Tijuca, conseguisse apoio para reformar o belíssimo casarão na esquina das ruas Garibaldi e Conde do Bonfim. Construído em 1921, o palacete estava quase em ruínas. Mas valeu a espera. Depois de mais de dois anos de obras, que custaram à Prefeitura do Rio quase R$ 4 milhões, o lugar foi inaugurado em 2007.

Com estúdio de gravação, salas de aula e espaço para exposições, além de auditório para 200 pessoas, o Centro da Música, como é conhecido, já foi palco de apresentações de nomes como Moacyr Luz, Guinga e Moyseis Marques, entre outros. Recentemente, recebeu a primeira apresentação do grupo Quarteto do Rio, novo nome do lendário conjunto Os Cariocas (desfeito depois da morte de seu fundador, Severino Silva). O lugar é bem eclético, com todo tipo de gênero musical, mas sempre ao vivo. Vale a pena ficar de olho na programação.

  • ONDE r. Conde do Bonfim 824, Tijuca
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Rua do Ouvidor

Fabio Rossi/Agência O Globo
Rua do Ouvidor, onde é impossível passar aos sábados e não ouvir alguém tocando samba, choro, bossa-nova ou jazz
Rua do Ouvidor, onde é impossível passar aos sábados e não ouvir alguém tocando samba ou choro

A revitalização da região em torno da rua do Ouvidor –a parte do Centro antigo do Rio compreendida entre a igreja da Candelária e a praça Quinze– começou com a criação de centros culturais como o
CCBB, o dos Correios e a Casa França-Brasil, mas emperrava em um ponto: o burburinho na área só durava até sexta-feira à noite. Nos fins de semana, o movimento caía quase a zero. Até que, um dia, o samba chegou.

A ideia partiu de Rodrigo Ferrari, dono da livraria Folha Seca, especializada em livros sobre futebol e sobre o Rio, inaugurada em 2004 no número 37 da rua. Rodrigo e sua então sócia, Dani Duarte, se juntaram aos donos de restaurantes e botequins dos arredores (dois dos quais ainda continuam lá, o Antigamente e a Toca do Baiacu) e criaram uma roda de samba, com músicos como Pedro Amorim, Pratinha (Tiago Prata), Fabio Cazes e Gabriel Cavalcante, entre outros. O sucesso foi total.

Hoje, o Samba da Ouvidor virou uma instituição carioca. Embora a roda de samba "principal", liderada por Cavalcante, tenha se deslocado para a esquina da rua do Mercado (sempre no final de tarde dos sábados), ainda são realizadas rodas de samba e de choro diante da Folha Seca, sob os mais variados pretextos (o Dia de São Sebastião, que é também o aniversário da livraria; o Dia de São Jorge, que é também Dia do Choro; o lançamento de algum livro; e assim por diante).

É quase impossível passar pela rua do Ouvidor num sábado e não ouvir alguém tocando samba, choro, gafieira, bossa-nova, jazz, o que for. Hoje, as pedras da rua do Ouvidor –com seus mais de 400 anos– são sinônimo de boa música.

  • ONDE r. do Ouvidor, centro

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Praça São Salvador

Todo domingo, a partir das 11h, a praça é dos chorões. É nesse simpático recanto, entre as ruas São Salvador, Esteves Júnior e Senador Corrêa, que se reúne o pessoal do Arruma o Coreto, formado por alunos da Escola Portátil de Música, para uma concorrida roda de choro.

Ela começou em 2007 e o nome foi uma brincadeira com o bloco de Carnaval Bagunça meu Coreto, que já existia, reunindo moradores da região. O bloco faz rodas de samba na pracinha, aos sábados, revezando com um grupo, também de samba, chamado Batuque no Coreto (sempre a partir das 18h). Mas a roda mais concorrida é a de domingo, dos chorões. A praça, que nesse dia recebe também uma feira de artesanato, fica apinhada de gente.

É uma beleza ver os músicos diante das partituras, com violões, flautas, cavaquinhos, trombones e pandeiros fazendo música de altíssima qualidade.

  • ONDE pça. São Salvador, Laranjeiras

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Triboz

Triboz. Ou TribOz. Ou, ainda, Centro Cultural Brasil-Austrália. Em matéria de nome, é esquisito, mas a Triboz (para simplificar) é uma casa onde há oito anos se faz grande música instrumental: jazz, samba-jazz, bossa-nova.

Em um casarão da Lapa, a Triboz foi fundada em 2008 pelo trompetista e brasilianista australiano Mike Ryan, estudioso da música brasileira. O lugar já recebeu nomes como Rosa Passos, Hermeto Pascoal, João Carlos Assis Brasil, o lendário trombonista Luis Bonilla, o Harvey Wainapel Quarteto, o Hamleto Stamato Trio. O quinteto de Kiko Continentino e o quarteto de Wilson Meirelles são atrações permanentes na casa, que prima pelo respeito ao músico: pede-se que a plateia permaneça calada durante as apresentações.

O cardápio é variado também na carta de petiscos e de jantar. E a Triboz ainda funciona como escola: oferece cursos e aulas de trompete e outros instrumentos, técnica vocal e improvisação no jazz e de música popular.

  • ONDE r. Conde de Lages, 19, Lapa
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Rio Scenarium e Santo Scenarium

Guito Moreto/Agência O Globo
Santo Scenarium, que foi aberta em 2007 como a primeira casa de jazz da Lapa, no Rio de Janeiro
Santo Scenarium, que foi aberta em 2007 como a primeira casa de jazz da Lapa, no Rio de Janeiro

A rua do Lavradio, na Lapa, já é por si só um lugar que vale a pena conhecer. Aberta pelo Marquês do Lavradio em 1771, tem ainda hoje prédios históricos dos séculos 18, 19 e 20. Em 1996, donos de antiquários, bares e restaurantes criaram ali a feira Rio Antigo, que se realiza até hoje (no primeiro sábado do mês). Com o sucesso, a prefeitura reurbanizou a rua.

Em dia de feira, os antiquários ficam abertos e há música ao vivo na rua. Mas um desses antiquários se destaca: é o Rio Scenarium –também restaurante e casa de shows. Inaugurado em 2001 por Plínio Fróes (um dos "desbravadores" da nova Lapa), o lugar fica num casarão de três andares, do século 19, com decoração que chama a atenção: mais de 10 mil objetos, incluindo uma cadeira de barbeiro centenária, vitrines de uma farmácia homeopática e lindas bonecas de biscuit. Há shows de todos os gêneros, mas choro e samba têm a preferência; nomes como Marcos Sacramento sempre se apresentam por lá.

A poucos metros dali, no número 36, funciona outra casa, do mesmo dono: a Santo Scenarium foi aberta em 2007 como "a primeira casa de jazz da Lapa". O casarão, que há 150 anos foi a residência do ator João Caetano, é decorada com peças sacras, oratórios e a réplica de um anjo do Aleijadinho. Mas o poderoso samba-jazz que se costuma ouvir lá não tem nada de santo.

  • ONDE r. do Lavradio, 20, Lapa
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The Maze

Ana Carolina Fernandes/Folhapress
Festa de Jazz no albergue The Maze, na favela Tavares Bastos, reúne cariocas e turistas estrangeiros
Festa de jazz no hostel The Maze, que fica na favela Tavares Bastos, reúne cariocas e turistas

Se você estiver no Rio na primeira sexta-feira do mês, há um programa diferente e muito divertido: subir a favela Tavares Bastos e ir ao hostel The Maze para uma noite de jazz e bossa-nova. A Tavares Bastos sempre foi um lugar tranquilo. Dez anos antes das UPPs, a comunidade já vivia em paz. Se por um lado isso se deve à presença do Bope, que tem seu quartel-general lá, por outro está ligado à presença (e ao trabalho) de um inglês muito carioca, que vive lá há mais de 30 anos: Bob Nadkarni, dono do hostel e mentor das noites de jazz.

A Tavares Bastos é mesmo um lugar especial. Por exemplo, tem uma relação com o cinema desde os anos 1920. Foi lá que o produtor Paulo Benedetti instalou seu estúdio e onde, em 1929, Adhemar Gonzaga filmou cenas de "Barro humano", marco do cinema brasileiro. E em suas ruas emaranhadas foram filmados "Orfeu do Carnaval", "Tropa de Elite", os seriados "Cidade dos Homens e "A Lei e o Crime"... E onde Hollywood rodou, em 2008, "O Incrível Hulk".

Chegar ao The Maze é fácil e seguro. É só pegar a van na esquina da rua Bento Lisboa com a ladeira Tavares Bastos e, já lá no alto, enveredar a pé pelas vielas bem sinalizadas. Na volta, vans circulam até 4h.

  • ONDE r. Tavares Bastos, 414, Catete
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Beco das Garrafas

Divulgação
Elis Regina ao lado de Dom Salvador e Dom Um, na Bottle's, no Beco das Garrafas, em 1964
Elis Regina ao lado de Dom Salvador e Dom Um, na Bottle's, no Beco das Garrafas, em 1964

Rua Duvivier, no quarteirão da praia, perto da avenida Atlântica. É ali, num espaço comprido e estreito entre dois prédios, terminando numa parede e formando mesmo um beco sem saída, que fica o Beco das Garrafas, um dos endereços mais famosos da grande noite do Rio nos anos 1950 e 60. O nome foi dado pelo jornalista Sergio Porto, em alusão às garrafas que, dizem, eram jogadas em protesto pelo barulho –mas talvez isso seja lenda.

O Beco das Garrafas esteve abandonado por muitos anos, mas começou a ser revitalizado a partir de 2006, com a inauguração de uma livraria, a Bossa Nova & Companhia (na esquina onde um dia foi a boate Ma Griffe). Além de vender discos e livros sobre música, o lugar é quase um museu, com móveis de pé palito, vitrolas, chão de pedras portuguesas e um mezanino cuja balaustrada lembra a varanda do Copacabana Palace. Tudo ali é referência à gloriosa Copacabana do passado.

E hoje todo o Beco voltou à ativa, com a reabertura de suas boates, o Little Club e o Bottle's (o antigo Baccara foi incorporado a este último), onde são realizados shows com grandes nomes da bossa-nova e da música instrumental. João Donato, Wanda Sá e Leny Andrade já fizeram shows lá neste ano. A casa noturna é comandada por Amanda Bravo, filha de Durval Ferreira, autor de clássicos como "Estamos Aí".

  • ONDE r. Duvivier, 37, Copacabana

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Pedra do Sal

Mapa de Cultura RJ/Diadorim Ideias/Isabela Kassow
Samba na Pedra do Sal, que reúne samba, choro, tradição, cultura negra e patrimônio arquitetônico
Samba na Pedra do Sal, que reúne visitantes em busca de samba, choro e patrimônio arquitetônico

Ali, tem de tudo: samba, choro, tradição, cultura negra, patrimônio arquitetônico, histórias. É a Pedra do Sal, nos limites entre a Saúde e a Gamboa, zona portuária do Rio, aos pés do morro da Conceição. As mais tradicionais rodas de samba dali são às segundas e às sextas-feiras, ao cair da tarde, junto à escadaria. A beleza impressiona, com os degraus escavados na pedra, que levam ao alto do morro, e o casario, embora mal preservado.

A Pedra do Sal é considerada um monumento histórico e religioso, porque era ali que ficava o mercado de escravos e por ser ali, também, o núcleo do que se chama a Pequena África carioca. É o território de Tia Ciata, Donga, Pixinguinha, Heitor dos Prazeres, João da Baiana (este dá o nome ao largo diante da escada). A região foi tombada em 1984 e é palco de muitas tradições. Todo dia 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba, integrantes do quilombo da Pedra do Sal fazem a lavagem da escadaria.

A poucos metros fica o largo da Prainha, outro ponto com casario espetacular, mas precisando de restauração urgente. Ali funciona desde 2009 o restaurante do tradicionalíssimo Angu do Gomes (que, durante décadas, com suas carrocinhas, alimentou muita gente nas madrugadas). E é ali também que, na época do Carnaval, se realizam os ensaios do bloco Escravos da Mauá.

  • ONDE r. Argemiro Bulcão, 1, Gamboa

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Samba do Trabalhador

Alexandre Campbell/Folhapress
Samba do Trabalhador, festa que acontece no Clube Renascença, na Barra da Tijuca
Samba do Trabalhador, festa que acontece no Clube Renascença, no Andaraí

O Samba do Trabalhador é uma roda de samba diferente de todas as outras, até pelo dia e hora em que acontece: em plena segunda-feira e no meio da tarde. No início, em 2005, começava às 14h, mas os organizadores fizeram uma concessão e empurraram o horário para mais tarde, 16h. Quem inventou e batizou a roda foi Moacyr Luz e, segundo ele, esse nome, Samba do Trabalhador, embora pareça uma ironia, é uma homenagem aos músicos, que trabalham a semana inteira e só têm a segunda para se divertir.

Não é um programa para principiantes. Segunda-feira à tarde, no calor carioca (que dura o ano inteiro), a quadra de cimento ferve. A impressão é de que faz 50ºC à sombra. Mas ninguém se importa. Há uma intensa alegria na cara das pessoas, inclusive dos músicos que estão em torno da mesa, nessa que é considerada uma das melhores rodas da cidade. Hoje, dez anos depois de fundado, o samba reúne às vezes mais de 2.000 pessoas no Renascença, ou simplesmente Rena, como chamam os íntimos.

Assim que o samba começa e o vozeirão de Gabriel Cavalcante enche a quadra, também se espalha no ar um delicioso cheiro dos quitutes que começam a ser preparados na cozinha: pastel, linguiça e os famosos caldinhos, de feijão, de ervilha, rabada e sururu.

  • ONDE Clube Renascença, r. Barão de São Francisco 54, Andaraí
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Trapiche Gamboa

O Trapiche Gamboa não chega a ser um local de reverência quase religiosa, como a Pedra do Sal, mas também está em solo sagrado para quem ama o samba: entre a Saúde e a Gamboa, ali bem juntinho da praça Mauá, território de Donga, Pixinguinha, Tia Ciata e João do Rio. Muito anterior ao movimento de revitalização da região portuária, o Trapiche se notabilizou, entre outras coisas, por ser o local onde são gravados os programas de televisão "Samba na Gamboa", comandados por Diogo Nogueira (TV Brasil). No Trapiche, samba é a palavra de ordem –não se toca outra coisa.

Nomes como Alfredo del Penho, Pedro Paulo Malta, Pedro Miranda e Eduardo Gallotti –que, além de cantar, são, todos eles, grandes pesquisadores da música brasileira– estão sempre fazendo shows no Trapiche.

Cerveja gelada, caipirinha e petiscos dignos da mais alta baixa gastronomia carioca acompanham a boa música que se faz no lugar. O ambiente também é outro ponto de interesse: do casarão centenário praticamente só ficou a casca, isto é, as paredes de pedra e óleo de baleia, sem reboco. O resto é um imenso vão, com três níveis, sem paredes internas. O chão de ladrilhos hidráulicos completa o visual desse lugar onde é Carnaval o ano inteiro.

  • ONDE r. Sacadura Cabral, 155, pça. Mauá
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Bar Semente

Lianne Milton/The New York Times
Show no bar Semente, na Lapa, que recebe apresentações musicais
Show no bar Semente, na Lapa, que recebe apresentações musicais de segunda a domingo

O Semente, mais do que um bar, é um marco, porque foi a partir dele que todo o bairro da Lapa –durante décadas abandonado e vazio– renasceu. Hoje, ele mudou de proprietário e de lugar, mas sua história não pode ser esquecida. A Lapa estava decadente havia muitas décadas quando Regina Weissman abriu um barzinho na rua Joaquim Silva, quase embaixo dos Arcos, em 1998.

Pois foi naquele palco minúsculo que surgiram nomes como Teresa Cristina, Pedro Miranda, Moyseis Marques, Yamandu Costa e muitos outros bambas, uma nova geração de sambistas que ajudou na revitalização espontânea da Lapa, esse fenômeno carioca.

Em 2003, o bar fechou, mas um ano depois um grupo de frequentadores se cotizou e o reabriu, mudando depois para outro casarão, maior, na própria Joaquim Silva. Hoje, ele funciona do outro lado dos Arcos e tem shows de segunda a domingo, não apenas de samba, mas de vários gêneros. Tem palestras também, e não é difícil encontrar mestres como Hermínio Bello de Carvalho batendo papo com o pessoal. O Semente é parte da história e continua sendo uma referência na noite da Lapa.

  • ONDE r. Evaristo da Veiga, 149, Lapa
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Carioca da Gema e Sacrilégio

Felipe Varanda/Folhapress
Público lota show na casa Carioca da Gema, um dos centros musicais da Lapa, no Rio
Público lota show na casa Carioca da Gema, um dos centros musicais da Lapa, no Rio

Eles são vizinhos de porta. Parede com parede. São dois dos bares mais tradicionais da Lapa: o Carioca da Gema e o Sacrilégio. Ambos muito devotados ao samba.

Com suas paredes de tijolos aparentes, o Carioca da Gema foi dos precursores da nova Lapa boêmia, revitalizada a partir do fim da década de 1990. Esse reduto praticamente exclusivo do samba (com um pouco de choro também), já recebeu gente como Moacyr Luz, Teresa Cristina, Paulão Sete Cordas, Moyseis Marques, Eduardo Gallotti e grupos tradicionais como Semente e Casuarina. Lá acontecem shows de segunda a domingo, mas, às segundas-feiras, não tem erro: é dia do vozeirão de Rixxa, cujo apelido é "o Pavarotti do samba", que só canta sambas-enredo e é uma das principais atrações fixas do lugar.

O Café Cultural Sacrilégio, que foi aberto em 2001, funciona num casarão centenário e histórico, tombado pela Prefeitura: foi ali que morou o músico e compositor João Pernambuco, que organizava saraus com a presença de Villa-Lobos, Donga e Pixinguinha. Os donos do Sacrilégio garantem também que Carmen Miranda frequentou o lugar quando jovem (ela de fato morou na Lapa dos 6 aos 16 anos) e que teria aprendido a fazer chapéus com a dona da casa na época. Seja como for, o Sacrilégio oferece música ao vivo em seu palco no salão principal, além de mesas no terraço ao ar livre, na parte de trás, e um terceiro ambiente no segundo andar, com música gravada.

  • ONDE r. Mem de Sá, 79 e 81

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Casa do Choro

Tomaz Silva/Agência Brasil
A Casa do Choro, primeiro centro de referência ao gênero no Rio
A Casa do Choro, na rua da Carioca, primeiro centro de referência ao gênero no Rio

Só de olhar por fora, a Casa do Choro é uma beleza: localizada na rua da Carioca, cujo casario, bem preservado, integra o Corredor Cultural da Praça Tiradentes, o casarão tem traços mouriscos que, com a restauração, foram realçados. Inaugurada em 2015, a Casa do Choro, ou Escola Portátil de Música, como também é chamada, tem shows diários em seu auditório, que leva o nome de um dos maiores maestros que o Brasil já teve, Radamés Gnattali.

O lugar, que é também um centro de pesquisas, tem estúdios de gravação, sete salas de aula e conta com um acervo de 15 mil partituras, instrumentos históricos e objetos raros. No Espaço Dino, Meira e Canhoto –um centro de convivência onde funciona também um café– costumam acontecer rodas de choro. Como instituição, a Casa de Choro existe desde 1999 e depende dos cursos e do interesse do público, já que não é subsidiada.

  • ONDE r. da Carioca 38, centro
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Armazém do Senado

Há quem garanta que a região da rua Gomes Freire, colada ao coração da Lapa, foi preservada pela pobreza. Ou seja, o lugar era tão degradado que, durante os anos máximos da especulação imobiliária no Rio, não despertou interesse. O resultado foi a preservação de casarões belíssimos, quase intocados (ainda que às vezes continuem mal cuidados). Um dos exemplos dessa preservação é o casarão centenário onde funciona o Armazém do Senado, e onde rola música - quase sempre samba, mas também bossa nova e jazz –aos sábados.

Ali onde hoje é um bar já funcionou um empório, o que explica o "Armazém" no nome. E os resquícios dessa encarnação anterior são muitos, a começar pelo enorme balcão de madeira com tampo de mármore. O pé-direito, de cinco metros de altura, impressiona. Não há muita variedade em matéria de tira-gostos, mas a cerveja é sempre gelada e a roda do Armazém é muito democrática: seja ela de samba (primeiro e terceiro sábado de cada mês) ou de jazz (segundo sábado do mês), nada é cobrado. Quem quiser se chegar e ficar ouvindo música não terá problema, porque o bar é aberto e não tem couvert.

  • ONDE r. Gomes Freire, 256, Lapa

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Bip Bip

Ana Carolina Fernandes/Folhapress
Roda de samba no bar Bip Bip, em Copacabana, que deve ser um dos menores do mundo
Roda de samba no bar Bip Bip, em Copacabana, que deve ser um dos menores do mundo

Deve ser um dos menores bares do mundo. Quase não dá para entrar no Bip Bip, de tão pequeno que ele é. Mas bar é assim mesmo: se não der para entrar, fica-se do lado de fora. Apesar do pouco espaço e do folclórico mau humor de seu proprietário, Alfredinho, o Bip Bip é um dos lugares mais musicais do Rio.

Localizado na Almirante Gonçalves, uma rua de pedestres de Copacabana, perto da praia, o Bip Bip tem música quase toda noite. Às segundas e terças é dia de roda de choro; às quartas, bossa nova; às quintas é a vez do samba, mas numa roda voltada para o pessoal mais jovem; às sextas, roda de samba outra vez e no domingo, aí, sim, se realiza a roda de samba mais tradicional, que acontece há muitos anos no botequim. Só no sábado é que não tem roda, mas mesmo assim já é uma tradição o pessoal se reunir para bater papo nesse dia.

Todas as rodas, de papo e de música, costumam acontecer na única mesa que cabe dentro do botequim. O público tem de ficar mesmo do lado de fora, porque o aperto do lugar não permite que seja diferente. O Bib Bip é assim há mais de 40 anos e ninguém reclama. Nem disso, nem das broncas do Alfredinho, que no fundo todo mundo adora. Até os turistas já descobriram o Bip Bip e dizem que, às quartas, o lugar fica cheio de japoneses cantando bossa nova. O Japão, como se sabe, é um dos países do mundo mais apaixonados pelo ritmo de João Gilberto e Tom Jobim. Eles sabem das coisas.

  • ONDE r. Almirante Gonçalves, 50, Copacabana

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