Folha de S. Paulo


Conheça fazendas pelo Brasil em que os hóspedes colocam a mão na massa

Acordar com o canto dos galos, tomar café e rumar para a lavoura, onde milhares de pés de café aguardam pela colheita -a ser feita por quem está hospedado ali. Passar o dia na fazenda cercado por cordeiros e, na hora da refeição, assar um deles para comer com verduras e legumes garimpados na horta.

Essas são algumas das vivências proporcionadas em locais adeptos do chamado agroturismo -comum na Europa e que vem ganhando força no Brasil.

Nesses estabelecimentos, a agricultura e a pecuária são as atividades principais, não necessariamente a hospedagem. É quase o contrário do que se dá em hotéis-fazenda, onde atividades rurais são atração acessória (aliás, hotéis do tipo, como o Dona Carolina, em Itatiba, têm começado a atender também esse nicho).

Como os "cenários" não são de mentirinha, uma viagem de agroturismo depende dos ciclos da natureza e da atividade rural. Há, então, uma época certas para fazê-la, e planejamento é essencial.

Uma das pioneiras desse tipo de turismo no país -começou oferecê-lo em 1996-, a vinícola Valduga, na serra gaúcha, recebe até 12 mil hóspedes por ano. Os pacotes para janeiro de 2017, época de vindima (a colheita das uvas), já estão 90% reservados, mesmo sem preço definido.

"O turismo já responde por 10% do nosso faturamento", afirma o diretor da vinícola, Juarez Valduga.

A reportagem visitou cinco propriedades rurais, em três Estados brasileiros, para entender e contar o que essas viagens oferecem. Leia mais abaixo.

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Fazenda no Sul prepara churrasco de cordeiro

Herdeiro de uma escola de hotelaria e membro do movimento Slow Food, Daniel Castelli adquiriu um pesqueiro nas cercanias de Canela e transformou o lugar. Hoje, ele cria cordeiros e galinhas e cultiva milho, palmito e hortaliças em pequena escala.

Uma hospedaria diante de um açude abriga grupos de até 27 pessoas -os sete quartos têm beliches e cozinha com fogão a gás e a lenha.

Cabe aos hóspedes ajudar na "lida" da fazenda e preparar as refeições. "Mas podemos servir o café da manhã e providenciar um churrasco de cordeiro", diz Castelli.

Monã
Onde Canela (RS); mona-cea.com.br
Quando ir o ano todo
Quanto a partir de R$ 250 por pessoa

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30 propriedades em Santa Catarina

Criado há 15 anos, o projeto Acolhida na Colônia engloba pequenas propriedades rurais de 30 municípios espalhados por cinco regiões do interior de Santa Catarina: encostas da serra Geral, vale dos Imigrantes, serra catarinense e as regiões de Ibirama e Ituporanga (próximas a Rio do Sul e Blumenau).

São lugares simples, como a pousada Vitória, em Santa Rosa de Lima -colonizada por alemães e açorianos, a cidade tem sua economia baseada na "agroecologia".

Em parte da pousada, cercada por mata nativa, a proprietária, Dida, produz mel, verduras e cria galinhas e peixes (que podem ser pescados pelos hóspedes).

Por vez, ela recebe 15 hóspedes. As refeições são preparadas por ela, incluindo as geleias, pães e cucas do café.

A especialidade da casa é o gemüse, prato à base de couve, batata e defumado de porco. Quem não estiver hospedado na pousada pode só fazer as refeições por lá -o almoço sai a R$ 22 por pessoa e o jantar, a R$ 18.

Acolhida na Colônia
Onde acolhida.com.br
Quando ir o ano todo
Quanto a partir de R$ 120 por pessoa

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Hóspede colhe as uvas para vinho

A vinícola familiar Valduga recebeu o primeiro hóspede em 1996 e investe no agroturismo desde então. O complexo de pousadas tem 24 quartos, em cinco casas.

Embora haja programação o ano todo, a temporada mais disputada é a da vindima, entre janeiro e março.

A rotina começa com o café da manhã sob o parreiral, e todos aprendem a colher as uvas e passá-las no pão, hábito dos colonos italianos. Depois, é hora de trabalhar. O grupo, de até 50 pessoas, é levado à lavoura em tratores para colher uvas na companhia de enólogos. No fim do dia, após aulas de vinificação, é feita a divertida "pisa".

As refeições com degustações, incluídas no pacote, são feitas no restaurante do complexo.

Casa Valduga
Onde Bento Gonçalves (RS); casavalduga.com.br
Quando ir janeiro a março (para a vindima)
Quanto a partir de R$ 2.100 (duas diárias para casal, em julho)

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Hotel ensina a fazer cachaça

Antiga fazenda produtora de café fundada em 1840, a propriedade foi transformada em hotel há 22 anos. Muitos atrativos ainda se relacionam ao café, caso da lavoura e do terreiro de secagem.

Mas também vale a visita a cachaça Dona Carolina: por ano, são feitos 15 mil litros, vendidos só na fazenda. Em um tour de uma hora, o "mestre-cachaceiro" Carlos Cimino conduz os hóspedes pela produção, do engenho ao engarrafamento, passando pelo alambique de cobre e pelo porão, onde a cachaça é envelhecida -e degustada.

Não é preciso estar hospedado para fazer o roteiro: pacotes de day use (R$ 265) aos domingos incluem a visita.

Dona Carolina
Onde Itatiba (84 km de SP); hotelfazendadonacarolina.com.br
Quando ir o ano todo
Quanto a partir de R$ 1.312 (para duas pessoas)

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Fazendas dão aula sobre café

Na região conhecida por Alta Mogiana, um complexo de seis fazendas de café do grupo Octavio Café, com 4 milhões de pés, faz uma imersão no universo da bebida em dois cursos: um de cinco dias, um de fins de semana.

Os alunos colhem os grãos, visitam as instalações de beneficiamento e têm aulas com degustações. Todos se hospedam na Chapadão, fazenda próxima a uma estação de trem desativada.

Ao redor da sede, uma vila projetada por Ramos de Azevedo tem casas de colonos, transformadas em suítes, e uma igreja com vitrais perfurados por balas durante a Revolução Constitucionalista de 1932.

Os próximos cursos de cinco dias ocorrem de 15 a 19/6 e de 29/6 a 3/7. O de fim de semana, entre 27 e 28/8.

Hospedaria do Café
Onde Pedregulho (427 km de SP); hospedariadocafe.com
Quanto a partir de R$ 1.500 (fim de semana) e R$ 2.700 (cinco dias), por pessoa

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Novidades vão surgir em SP e RS

O agroturismo no Brasil vai ganhar reforços.

Em Espírito Santo do Pinhal (SP), a premiada vinícola Guaspari já começou a se estruturar para receber visitantes a partir de 2017.

"Começamos a convidar pessoas da área para quebrar o preconceito contra a região", conta a diretora da marca, Marina Guaspari Gonçalves. "Mas a demanda dos amantes do vinho cresceu tanto que já temos uma fila de espera de mil pessoas. Por isso, decidimos que as visitas merecem uma estruturação."

No começo, a intenção de Marina é hospedar os visitantes em pousadas da cidade. "Mas nosso sonho é grande: queremos ter hospedagem e restaurante", adianta.

Na região da Campanha, perto da fronteira com o Uruguai, o empresário Luiz Eduardo Batalha, produtor do azeite Batalha, também pretende investir nesse segmento.

Ex-proprietário da Estância Barra Bonita, no interior de São Paulo, ele pretende construir um pequeno hotel de luxo, com 15 suítes, no miolo da fazenda gaúcha de 850 hectares. O projeto deve ser inaugurado em 2019.

A jornalista viajou a Canela, Bento Gonçalves e Pedregulho a convite dos proprietários dos estabelecimentos


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