Folha de S. Paulo


Saiba como passar férias na sua própria ilha (sim, é possível)

Reuters
Ilha do ilusionista David Copperfield, nas Bahamas
Ilha do ilusionista David Copperfield, nas Bahamas

"Comecei a concluir, em minha mente, que era mais possível para mim ser feliz naquela condição solitária e de abandono do que, provavelmente, em qualquer outro estado no mundo."

Robinson Crusoé se viu forçado ao isolamento em uma ilha, algo que muitas das pessoas mais ricas do planeta fazem hoje por escolha –combinando patrimônio descomunal e sede de privacidade.

Se você busca essa forma especialmente cobiçada de propriedade de alto luxo, eis um guia para começar.

Corretores, como sempre, pressionarão por uma compra rápida, apelando para o crescente número de bilionários dispostos a oferecer lance superior ao seu. (O número desses ultrarricos cresceu 44% entre 2013 e 2015, de acordo com a "Forbes".)

A oferta, eles dirão, é limitada –e se o nível do mar continuar a subir, deve diminuir ainda mais. Resista aos apelos ardilosos.

Em primeiro lugar porque os ricaços jovens, do mundo da tecnologia, mais alugam do que compram ilhas. Depois, porque, no caso daquelas de alto valor para lazer, os preços têm cambaleado, segundo relatório de 2015 da consultoria Knight Frank.

Casas de luxo nas Ilhas Virgens Britânicas, por exemplo, sofreram queda de preço média de 7%; na Sardenha (Itália), a queda foi de 8%.

Não que você queria se meter em regiões superlotadas como essas. De Bali a Saint- Barth, não existe mais nada muito privativo: a invasão de muito ricos fez os prazeres do isolamento serem passado. Locais em alta são as ilhas Hébridas, na Escócia, e atóis distantes em Belize.

No Brasil, as ilhas são propriedade da União e podem ser cedidas, alugadas ou aforadas.

"A União pode ceder o uso daquela terra. Você não realmente compra a ilha, mas obtém o uso praticamente integral daquele terreno e precisa pagar um foro anual", explica o advogado André Hermanny Tostes da Tostes e Associados Advogados.

Os terrenos que chegam a ser colocados à venda são desmembrados do patrimônio da União por meio de licitações.

A busca do verdadeiro isolamento reduz a seleção às ilhas desabitadas –das quais só 5% têm as características requeridas, segundo a corretora Vladi Private Islands.

MENOS DE US$ 500 MIL

A maioria das opções, acredite, parecerá barata: 65% das ilhas à venda em outubro de 2015 custavam menos de US$ 500 mil (R$ 1,8 milhão), segundo a Knight Frank.

Para algo mais reconfortantemente caro, vá até Connecticut (EUA), onde a Christie's vende a Tavern Island (1,4 hectare) por US$ 10,9 milhões (R$ 39 milhões).

Os preços estão começando a ganhar força, porém. "Barganhas são mais difíceis de encontrar", diz Yolande Barnes, diretora de pesquisa de uma corretora britânica.

E é melhor procurar um lugar que combine distância e facilidade de acesso.

Também convém ter em mente as perspectivas existenciais da ilha. Um estudo da ONU sobre o Pacífico, de 2012, alertou para perigos iminentes para a vida ilhoa, por causa da alta no nível do mar, de ciclones tropicais, secas e inundações.

Kiribati, país de 33 atóis na região, comprou terras em Vanua Levu, em Fiji, para onde os 104 mil habitantes devem se mudar a partir de 2020.

AJUDA DO GOVERNO

Tornar sua residência habitável também pode ser complicado. Mesmo os mais previdentes ambientalistas precisam de um gerador a diesel para manter a constância do abastecimento de energia. Isso não sai barato: o diesel para geradores já consumiu um quarto do PIB das Maldivas.

Sem contar o custo de estrutura sanitária, acomodações, sistemas de dessalinização para água fresca e o transporte (com rastro de emissões de carbono) de cada tijolo e eletrodoméstico.

Para piorar, para empréstimos, bancos costumam fugir do "risco nacional" de um país que eles tenham dificuldade para achar no mapa e cuja moeda cause riso em seus corretores de câmbio.

Um alento: "Os governos estão entrando firme no mercado de ilhas particulares", diz Baker, da Savills. Em 2012, em meio à crise, o governo grego anunciou planos para alugar algumas das 60 mil ilhas do país para ajudar a escorar suas finanças cambaleantes.

A ilha de Makri, por exemplo, vem com licença para construir um hotel e casas de férias, ao custo de € 12 milhões (R$ 48,6 milhões).

Para um território menos atribulado, a perspectiva pode ser Dubai, onde cidadãos devem se sentir incomodados com o governo vendendo suas terras –porque elas foram criadas por ele, para começar.

O Palm Jumeirah, um dos maiores arquipélagos artificiais do planeta, estendeu em 78,6 quilômetros a costa de Dubai. O Mundo, coleção de 300 atóis artificiais dispostos 4 quilômetros ao largo do litoral na forma de um mapa-múndi, tem área ainda maior.

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1,2 mi de reais é quanto custa uma ilha de até 1 hectare no lago Vitória, em Uganda

100 mi de reais é o valor de uma ilha com 32 a 40 hectares nas Baleares espanholas

80% das propriedades desse tipo só podem ser alugadas, e não vendidas, em regiões como a África e a Ásia

10% é o índice típico do valor da conta bancária que um comprador costuma usar na aquisição


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