Folha de S. Paulo


Brasileiros desistem de viagem a Paris, e empresas reembolsam passagens

Xu Jinquan/Xinhua
Turistas esperam na fila para visitar o museu do Louvre nesta segunda-feira (16)
Turistas esperam na fila para visitar o museu do Louvre nesta segunda-feira (16)

Os atentados em Paris, capital do país mais visitado do mundo, alteraram a rotina de brasileiros que pretendiam viajar para a cidade.

A administradora carioca Maria José Soares, 69, embarcaria com a sobrinha no sábado (14), mas desistiu ao acompanhar a cobertura dos ataques na madrugada anterior ao voo.

"O que víamos era uma situação de horror e a cada hora mais imagens terríveis apareciam... Achei que seria muito arriscado ir", conta.

Grayce Guglielmi Balod, 46, de Criciúma (SC), ainda não se decidiu sobre o que fazer com a viagem que fechou, em junho, para as duas filhas –marcada para 12 de dezembro.

"As meninas querem muito ir, mas eu fiquei bloqueada: não sei se ao colocá-las no avião vou levá-las para passear ou colocá-las em risco", afirma.

"Até o final da semana vamos acompanhar as notícias. Se eu achar que será melhor para a segurança delas, é claro que vou cancelar."

Agências de viagens também têm sido procuradas por pessoas preocupadas com as viagens à capital francesa.

Na Interpoint, de São Paulo, um cliente pediu para deixar de fazer uma conexão em um dos aeroportos de Paris e outros solicitaram mudanças no roteiro: iriam começar a viagem por Paris e agora querem encerrar por lá, na esperança de que o clima esteja menos tenso.

Annamélia Brandão, 29, advogada do Recife, está tentando reembolso das passagens, marcadas para o dia 24, compradas em agosto para ela e o filho de 4 anos; se conseguir, vai deixar para conhecer Paris em outro período, mais calmo.

"Ir agora é não poder curtir a cidade ao máximo: teria que fazer passeios só de dia e, mesmo assim, em um clima tenso, com policiais por todos os cantos. Não seria a viagem dos sonhos que planejei", afirma.

As companhias que operam a rota entre São Paulo e Paris vão permitir a remarcação sem custos: na Air France, dos bilhetes marcados para até o dia 22; na TAM, dos emitidos até dia 30.

A associação de defesa do consumidor Proteste sugere que o turista que não se sentir seguro procure os operadores o quanto antes.

"Como é uma circunstância excepcional, a chance de conseguir um acordo é maior", diz a supervisora institucional da entidade, Sônia Amaro.

NÃO CEDER AO PÂNICO

Segundo o Consulado da França no Brasil, "é importante não desistir de viagens e não ceder ao pânico, que é o objetivo dos terroristas".

Nesta segunda (16), Paris tentava retomar a normalidade nas atrações turísticas.

O museu do Louvre, a torre Eiffel, as grandes lojas e os prédios do Centro de Monumentos Nacionais –caso do Arco do Triunfo e de passeios guiados pela Notre Dame– reabriram.

Nesta terça (17), o castelo de Versalhes deve voltar a receber visitantes; a Disney de Paris só planeja funcionar novamente a partir de quarta (18).

E ainda que alguns brasileiros tenham desistido da viagem, muitos pretendem manter os planos, apostando que a capital francesa vai voltar ao normal em pouco tempo. Alguns criaram grupos em ferramentas como o WhatsApp para trocar informações e tirar dúvidas sobre viagens à cidade –a Folha está em dois deles.

Um deles é administrado pelo bancário Hugo Santos, 32, de Ribeirão Preto (SP), que passa a lua de mel em Paris. "Desembarcamos aqui no dia 10 e fomos direto para Londres. Voltamos hoje [16] e vimos a diferença: na ida, nem passamos por revista, hoje havia muita revista e policiamento", conta.

"Mas o clima está tranquilo nas ruas, bares e restaurantes já estão cheios."

A professora Camila (não quis divulgar o sobrenome), 29, de Manaus (AM), que pretende manter o embarque para o próximo dia 8, tentava manter o ânimo dos colegas em outro grupo.

"Fiquei abalada, mas é uma viagem que eu sempre quis fazer, e que foi muito planejada, inclusive financeiramente. Acredito que até eu embarcar a segurança vai aumentar, as coisas estarão tranquilas", afirma. Ela estima gastar R$ 27 mil, com o namorado, para um mês na Europa.

A advogada Dilma Resende, 48, do Rio, também decidiu manter seus quase 15 dias de estadia em Paris –chegou à cidade no sábado (14).

"Fiquei um pouco tensa, porque estou com minhas filhas, mas já percebi tudo voltando ao normal: o dono do imóvel que alugamos veio nos ver e nos tranquilizar e vimos ruas movimentadas, escolas funcionando, apesar de em todos os lugares haver policiais fortemente armados", conta.

Ela só desistiu de ir à Bélgica, país que não conhece –e no qual, segundo as investigações iniciais, os ataques a Paris teriam sido planejados.


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