Folha de S. Paulo


Maconha legal ganha espaço nos EUA e terá seu primeiro 'resort'

Jay Pickthorn-24.set.2015/Associated Press
O consultor Jonathan Hunt cuida de mudas de maconha na reserva Flandreau Santee Sioux (EUA)
O consultor Jonathan Hunt cuida de mudas de maconha na reserva Flandreau Santee Sioux (EUA)

A maconha legal para uso recreativo está ganhando espaço a passos largos nos Estados Unidos, onde já há quatro Estados que a permitem, e onde será inaugurado o primeiro complexo de férias dedicado exclusivamente à cannabis.

Desde que os eleitores do Colorado e do Estado de Washington aprovaram a legalização da cannabis recreativa, em novembro de 2012, as pesquisas de opinião revelaram que a sociedade norte-americana está cada vez mais aberta à regularização da substância psicotrópica.

O último episódio rumo à normalização da maconha recreativa nos EUA foi protagonizado por uma reserva indígena, que anunciou sua intenção de inaugurar no Réveillon o primeiro "resort" do país dedicado exclusivamente à maconha.

A tribo dos Santee Sioux, em Dakota do Sul, um grupo de menos de 800 pessoas, já possui na área da reserva um cassino, um hotel de 120 quartos e um rancho com mais de 240 bisões.

A ideia é que os clientes hospedados no hotel tenham à sua disposição serviços de transfer que os levarão até o complexo recreativo, onde encontrarão dez pistas de boliche, fliperamas, um bar e um restaurante, tudo isso em um ambiente em que se poderá comprar e fumar maconha sem problema.

"Quando estiver pronto, esse projeto de desenvolvimento econômico ajudará a criar muitos empregos adicionais e aumentará a estabilidade econômica da tribo e de seus membros", disse à CNN o presidente da tribo, Anthony Reider.

Dakota do Sul, um estado de fortes tendências conservadoras, não está entre os quatro que legalizaram o consumo de maconha recreativa (Colorado, Washington, Oregon e Alasca), mas as reservas indígenas contam nos EUA com suas próprias leis, e, assim como facilitam a instalação de cassinos, permitiriam um empreendimento com essas características.

No ano passado, o Departamento de Justiça se pronunciou especificamente sobre a questão, e garantiu que não perseguirá nem interferirá nas operações de empreendimento dedicados à distribuição e ao cultivo de maconha que operem em reservas indígenas.

Em menos de uma semana desde o anúncio, os Santee Sioux disseram já ter recebido a confirmação de cem pessoas à inauguração do complexo na noite de ano-novo, em que servirá álcool e maconha a todos os maiores de 21 anos e permitirá o consumo em público.

Este último aspecto representa uma diferença substancial em relação aos Estados onde a cannabis recreativa foi legalizada, como Washington e Colorado, já que nesses territórios o consumo está permitido em espaços privados, mas em nenhum caso em público.

O "resort" dos Santee Sioux não só venderá e permitirá fumar em público, mas também cultivará sua própria maconha –até 60 variedades de cannabis "de alta qualidade, livre de poluentes e orgânicos", explicou o advogado tribal, Seth Pearman.

Os promotores do complexo preveem ganhar US$ 2 milhões ao ano, e o resort se transformaria em um catalisador econômico para a tribo, que ainda sofre as consequências da crise econômica de 2008.

"Decidimos que, diante da potencial legalização da maconha em Dakota do Sul, é uma oportunidade para nos adiantarmos um pouco ao Estado e gerar alguma receita que nos permita solucionar alguns problemas", indicou Reider.

Ao contrário do que foi dito pelo presidente da tribo, a maconha legal tem ainda um longo caminho a percorrer em um dos estados mais republicanos do país, como é a Dakota do Sul, e os eventos recentes levam a pensar que isso não tem porquê ser necessariamente assim.

O Alasca, outro estado de forte tendência conservadora e com características semelhantes às de Dakota do Sul (muito extenso e pouco povoado), aprovou por referendo a legalização da cannabis em novembro do ano passado, se tornando o primeiro Estado claramente republicano a permitir a droga.

O anúncio da tribo dos Santee Sioux confirma uma tendência de alta nos Estados Unidos, onde a maconha recreativa tem ganhado espaço, respaldada por um apoio cada vez mais significativo da opinião pública.


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