Folha de S. Paulo


Grupos de turismo para negros ganham força na internet

Uma das maiores e mais antigas comunidades de "movimento de viagem negra (Black Travel Movement), a Nomadness Travel Tribe foi criada em Nova York há quatro anos e hoje reúne 10 mil integrantes.

A maioria dos seus membros (60%) são pessoas entre 25 e 45 anos que moram em cidades, e são mulheres (80%), negras ou latinas (85%). O grupo é uma tribo virtual que intercambia oportunidades de viagens e pacotes. As experiências vividas em lugares como Panamá, Indonésia, Japão, Espanha, Índia, Costa Rica, Samoa, África do Sul e Brasil alimentam bate-papos on-line.

Mas, para entrar, é necessário ter pelo menos um carimbo no passaporte. "Não se trata de elitismo, mas de um requisito para manter a integridade do grupo. Gente de todas as etnias são bem-vindas", diz sua fundadora, Evita Robinson, 31.

Nesse ambiente, porém, a palavra "turista" não é a melhor escolha. "Agradeço que você não a use", brinca Zim Ugochukwu, 27, fundadora de outro grupo de viagem black que vem causando barulho nos EUA, o Travel Noire, com mais de 130 mil seguidores no Instagram.

"Falar de 'turista' denota que a pessoa não está interessada em se integrar à cultura que visita. Quando viajo gosto de me misturar aos locais. Viajar não é só ir a todos os pontos turísticos",diz.

Foi nessas viagens que surgiu a Travel Noire. "Sempre me perguntava por que nunca encontrava gente como eu no grupo de viajantes", conta Ugochukwu.

Embora compreendam o movimento como algo global, tanto Ugochukwu como Robinson têm consciência de que, ao redor do mundo, comunidades negras vivem realidades que não as permitem embarcar nesses pacotes.

"Nos EUA há mais mobilidade social do que vejo no Brasil. Minha mãe, por exemplo, veio de uma favela na Nigéria para viver nos Estados Unidos. Hoje tenho condições de administrar uma empresa bem-sucedida. Tudo isso aconteceu no prazo de uma geração", afirma Ugochukwu.

Apesar de concebidos para a população negra, os grupos contam com integrantes de várias etnias. Um deles é Michael Neville, 36, agente imobiliário branco de Atlanta que viaja pela Nomadness. "Eu tinha os mesmos interesses e objetivos que via no grupo", diz.

"Pensar nessa iniciativa como algo racista é interessante, porque, quando você vê uma reportagem de turismo em uma revista grande, as pessoas que estão nesses lugares não são como eu. Então isso me dá o mesmo argumento: de que talvez eles, sim, sejam racistas", afirma Ugochukwu.


Endereço da página:

Links no texto: