Folha de S. Paulo


Quase intocado pelo turismo, roteiro mostra tradição do Vietnã

Um dos passatempos preferidos das crianças hmong, minoria étnica que habita o norte do Vietnã, é parar na estrada quando alguém se aproxima de moto.

Até o último segundo, lá elas ficam, a bloquear a passagem, para então saltar para o lado de repente, cair na gargalhada e correr atrás do veículo. Ao lado da estrada, há um penhasco de centenas de metros de altura.

Desbravar a província de Hà Giang (diz-se "Razang"), 300 km ao norte da capital, Hanói, é descobrir, a todo tempo, as culturas tradicionais de um lugar quase intocado pelo turismo enquanto admira-se uma paisagem montanhosa impressionante.

As formações de calcário, de 200 milhões de anos, são rodeadas por rios, cachoeiras e construções históricas coloridas por feirinhas de minorias étnicas como os hmong.

A sensação é que Hà Giang parou no tempo –ainda que o governo vietnamita venha investindo na infraestrutura local desde 2010, quando o platô Dong Van, ali próximo, foi declarado geoparque global pela Unesco.

Uma das razões para o isolamento: o Vietnã aboliu a necessidade de permissão de viagem a turistas estrangeiros em 1993; Hà Giang foi a única província que manteve a burocracia.

Em quatro dias, a Folha percorreu 350 km pela região, em uma moto de 110 cilindradas, alugada por US$ 10 a diária. Como em uma boa "road trip", o percurso acabou sendo a maior das atrações.

DO PALÁCIO À FEIRA

Ao sair de Hà Giang, as montanhas no horizonte já dão um gosto do cenário que está por vir. E, pouco antes da primeira parada, em Yen Minh, já surgem as primeiras pessoas com as vestimentas tradicionais do povo hmong.

Os hmong são um dos 54 grupos etnolinguísticos do Vietnã, vindos do norte da China no século 18.

Hoje, são 1% dos 90 milhões de habitantes do país –e 70% dos da província de Hà Giang, onde vivem 17 etnias. Mas, no início do anos 1900, quando a então Indochina era colônia francesa, os hmong gozavam de prestígio maior: um palácio chegou a ser erguido por mercadores chineses em honra a Vuong Chin Duc, líder desse povo.

Localizado no vilarejo de Sà Phin, em um vale a poucos quilômetros da China, o palácio foi construído como as mansões chinesas clássicas, com dois claustros internos.

Hoje, é um museu que abriga relíquias da família Vuong, incluindo uma cama entalhada usada no passado para fumar ópio –produzido legalmente no Vietnã até 1993.

Aos domingos, povos dos vilarejos próximos comparecem, em suas melhores roupas, à feira de Sà Phin, para um comércio de escambo.

Ali são trocados vestes tradicionais, bolinhos de arroz, cogumelos secos, vinho de mel e uma cerveja chinesa com toda a pinta de ser contrabandeada –não é vendida em outros locais da província.

Na terra onde o turismo é pouco desenvolvido, aliás, a reportagem foi uma atração à parte, parada a todo momento para fotos com os locais.

VELOCIDADE DE MULA

Além das heranças hmong, a "road trip" pela província de Hà Giang é marcante pelas paisagens do geoparque.

Entre Dong Van e Meo Vac está o trecho mais impressionante da região, na passagem Mà Pí Lèng. Ali fica o maior cânion do Sudeste Asiático, com 800 metros de altura e rochas de até 400 milhões de anos.

O trecho tem 20 km, mas a reportagem o percorreu em três horas –a velocidade de mula não se deveu apenas às paradas para fotografar; havia sempre o medo de atropelar as crianças hmong...

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Viagem pode ser de moto, ônibus ou em tours

Para circular por Hà Giang não necessariamente é preciso alugar uma moto (os três hotéis da capital da província oferecem o serviço, além da agência Rocky Plateau).

Como alugar um carro no Vietnã é difícil –o país exige carteira de motorista local–, restam as opções de explorar a província de ônibus e em tours.

Da cidade de Hà Giang saem ônibus regulares para Dong Van, de onde é possível explorar os arredores –Sà Phin e o palácio Vuong– na garupa de motociclistas locais, por US$ 10 dólares por dia, por pessoa.

Dessa maneira também dá para percorrer os 23 km entre Dong Van e Meo Vac (não há ônibus no trecho).

Agências vietnamitas oferecem tours para o Geoparque Dong Van Karst Plateau, em carro privado, com guia local –boa vantagem, já que é bastante difícil encontrar quem fale inglês na região.

A Free Wheeling Tours (freewheelin-tours.com ) tem pacotes por US$ 150 dólares por pessoa; a Karst Plateau Travel (karstplateau@gmail.com), a partir de US$ 100.


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