Folha de S. Paulo


Costa de Portugal tem rota selvagem e praias quase intocadas

O turismo no centro-sul de Portugal, na região do Alentejo, é normalmente associado à produção vinícola ou à histórica cidade de Évora, cujo centro é considerado patrimônio mundial pela Unesco.

Mas, muito além dos campos do interior, há por ali um litoral recortado por falésias e mar em tons de azul-claro –marcas do Parque Natural do Sudoeste Alentejano.

O local engloba uma área de proteção desde Porto Covo, a duas horas de Lisboa, até a Costa Vicentina, parte do Algarve, já no extremo sul.

A região mantém um ar tradicional camponês, com recantos pouco explorados por turistas: muitas "freguesias" (os núcleos urbanos) não ultrapassam os mil habitantes.

Estrutura maior, só há em Vilanova de Milfontes, onde o rio Mira encontra o oceano.

Na cidade, marcada por vielas com casinhas brancas, a praia mais procurada é a das Furnas. Mas o mar gelado torna mais convidativas as praias fluviais, de águas cristalinas.

E em restaurantes como a Tasca do Celso é possível entender, pelo paladar, a mistura de campo e costa que é a marca dessa parte do país.

Ali, no enxuto menu, destaca-se o porco preto com amêijoas –carne suína típica do Alentejo com um molusco muito apreciado no país.

ONDE O VENTO FAZ CURVA

Apesar de a água do Atlântico ser bastante fria, são as praias o grande atrativo das costas Alentejana e Vicentina.

Em algumas, a paisagem já vale a visita. Na divisa entre o território alentejano e o Algarve, em Odeceixe, casinhas são estrategicamente construídas com terraços voltados para o mar. Do alto, observa-se a foz de um rio, que forma uma língua de água doce ao desembocar no mar, ao redor de montanhas cobertas de verde.

Em Porto Covo, típica vila de pescadores, no verão fica aberta a ilha do Pessegueiro, pequena porção rochosa que abrigou um forte no século 16 –além de uma muralha, ela preserva vestígios da ocupação romana de 200 a.C.

Zambujeira do Mar, sede de um grande festival de verão, tem pedaços de areia reservados, caso da praia da Pedra da Bica –para chegar a ela, é preciso percorrer um tapete de flores silvestres e descer uma escada de madeira na encosta da falésia.

A aventura também é parte de trechos de orla como Brejo Largo e Foz dos Ouriços, acessados por pequenas trilhas e descidas a pé.

Mais ao sul, paradas certas são a praia da Arrifana, com paisagem marcada pelos surfistas e por grandes escarpas negras, e a vila de Sagres.

Ali, no extremo sudoeste do país, "onde o vento faz a curva", partiram navegações da Era do Descobrimento.

Da fortaleza, danificada durante o terremoto e o tsunami de 1755, algumas partes foram reerguidas na década de 1950; outras, como uma rosa dos ventos de 40 metros de diâmetro, permanecem quase intactas.

No Algarve, Lagos tem paisagens entre as mais bonitas do país

De turismo mais saturado –é normal ouvir mais inglês do que português das dezenas de grupos de jovens–, o centro do Algarve preserva algumas das atrações litorâneas mais bonitas de Portugal.

Talvez o mais marcante desses tesouros seja a ponta da Piedade. Com tons do laranja ao dourado, rochas saem do mar formando escarpas e arcos, como uma fortaleza a se abrir para o mar de águas cristalinas.

Basta descer umas escadinhas para se tomar barcos que percorrem as fendas, galerias e cavernas nas rochas. O passeio visita baías onde o contraste da rocha com a água revela tonalidades de verde que não se viam de lá de cima.

Ao lado fica a praia do Camilo –igualmente acessada por uma escadaria de madeira. A faixa de areia é pequena, dividida por um inconfundível túnel natural, escavado em uma grande rocha.

Como nem tudo é perfeito, o mar é gelado mesmo no verão, quando as temperaturas podem alcançar os 40ºC.

A praia vizinha, da Dona Ana, já teve dias melhores; atualmente, a orla passa por uma série de melhorias: a faixa de areia foi aumentada para banhistas não ficarem tão próximos das falésias.

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CAMINHOS PERCORREM REGIÃO A PÉ

Para cruzar a região, o carro é boa opção (estradas são bem sinalizadas), mas há caminhos a serem percorridos a pé (rotavicentina.com). Um, de 230 km e 12 paradas, privilegia o interior do parque; outro, de 120 km, vai junto ao mar, mas requer vigor físico maior.


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