Folha de S. Paulo


Turismo sem mico: veja 35 dicas para fugir de gafes em viagens a 12 países

Se for viajar para o Irã, é melhor não fazer o sinal de positivo como aqui no Brasil. Por lá, levantar o dedão tem o mesmo significado que mostrar o dedo do meio por aqui. Na Rússia, não presenteie alguém com flores em vasos ou em números pares, pois são coisa de cemitério.

Conhecer costumes do lugar para onde se planeja viajar pode tirar o turista de situações desconfortáveis e evitar grandes micos.

Para a consultora de etiqueta e pesquisadora de cultura japonesa Lumi Toyoda, é importante estudar antes de embarcar. "Quanto mais o turista conhecer sobre a cultura para a qual está indo, melhor será a experiência."

Na Argentina, por exemplo, os homens se cumprimentam com um beijo no rosto. "Pode ser constrangedor para um turista desavisado", afirma Gian Carlo Perez, responsável pelo serviço de recepção da CVC no país.

Além dos costumes, é bom também ter algum conhecimento do idioma local.

Viagem sem gafe

A estudante Victória Almeida, 18, lembra que estava na Argentina com sua mãe quando ela resolveu pedir "la contita" no restaurante.

"Então, o garçom veio explicar que 'contita' soa como 'conchita', um dos jeitos de chamar o órgão sexual feminino em espanhol", conta.

Pesquisar sobre o destino, porém, não significa seguir normas rígidas. Turistas são identificados facilmente -e qualquer gafe costuma ser tratada com mais tolerância.

"Além disso, tenho a sensação de que normas e regras que eram rígidas há algumas décadas estão se diluindo cada vez mais", afirma Elisabetta Santoro, professora de italiano da Universidade de São Paulo. "Principalmente porque hoje temos mais contato com outras culturas e viajamos mais."

No caso dos jovens, a etiqueta tradicional já estaria obsoleta, segundo Toyoda. "Mesmo assim, pouquíssimos casais de namorados andam abraçados hoje no Japão."

Seguindo o ditado que diz ser melhor prevenir do que remediar, o "Turismo" falou com professores, consultores de etiqueta e profissionais do turismo para separar 35 dicas de 12 países que ajudam a evitar saias justas nas viagens.

JEITO EXPANSIVO

Neste ano, uma dupla de comediantes americanos publicou em seu canal do YouTube, o TheFloridaMan, um vídeo satirizando o comportamento de turistas brasileiros na Disney -eles tiravam sarro do jeito, às vezes expansivo, na visão deles, com que os brasileiros pedem informações e fotografam.

Muita gente por aqui se sentiu incomodada com o vídeo, o que até provocou a gravação de um pedido de desculpas por parte da dupla.

Mas até que ponto os turistas precisam conter a animação e modificar seu comportamento?

Para Silvia Helena, autora do site Brasileiros em Paris, mais importante do que aprender as normas de etiqueta é observar os costumes e ter bom senso.

"O velho ditado que diz: 'Em Roma, faça como os romanos', vale para o mundo inteiro", diz.

Principalmente em ambientes mais formais. Erick Schulz, diretor do Instituto Naradeva Shala, de cultura hindu, ressalta que muitas gafes costumam ocorrer nos templos e lugares sagrados de diversas partes da Índia.

No país, é preciso entrar descalço nesses locais, e não é de bom tom cumprimentar pessoas ou comer com a mão esquerda.

A estudante de moda Isabel Alves, 21, costuma pesquisar sobre essas particularidades na internet antes de viajar. "Fico preocupada em não ofender a cultura local, principalmente em países que são muito diferentes do Brasil."

Na questão do idioma, é bom estudar "como se dizem certas coisas básicas", afirma Elisabetta Santoro, professora de italiano na USP.

Em países que falam espanhol, a proximidade da língua pode complicar em vez de facilitar –na língua, "vaso" é copo, "copa" é taça, e "taza" é xícara, por exemplo.

Apesar das possíveis confusões, Gian Carlo Perez, que vive há 12 anos em Buenos Aires, diz que os argentinos não costumam se ofender com as tentativas de brasileiros de falar espanhol.

"Ao contrário, eles adoram tentar o 'portunhol' também", conta. Para Perez, quem visita o país vizinho não precisa se preocupar em estudar o idioma. "As gafes são perdoadas e, na volta, resultam em boas histórias de viagem", explica ele.

Para aqueles que vão à França, também não é preciso estudar muito o francês, segundo Helena. "Conta mais a educação do que o conhecimento do idioma. Um 'bonjour' (bom dia, em francês) sempre ajuda", explica ela.

Veja abaixo uma seleção de dicas para viajar sem pagar mico.

Colaborou ISABEL SETA

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COSTUMES

  • No Japão, chegue sempre com alguns minutos de antecedência a qualquer compromisso; o menor atraso já é motivo para que a outra pessoa vá embora
  • Na China, não é costume dar gorjeta em restaurantes
Galvão Bertazzi/Editoria de Arte/Folhapress
  • Na França, jamais chame a atenção do garçom levantando a mão; o correto é esperar o contato visual para ser atendido ou fazer qualquer pedido
  • Chamar alguém de gato pode ser um elogio no Brasil; na Argentina, porém, a palavra é relacionada ao universo da prostituição

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CUMPRIMENTOS

  • Na Rússia, não cumprimente ninguém na soleira da porta, pois dizem que isso traz má sorte
  • Um aperto de mão com o braço esticado está de bom tamanho na China. Nada de abraços ou beijinhos
  • O contato físico também deve ser evitado no Japão. O cumprimento normal no país é a reverência, quando as pessoas abaixam as cabeças em sinal de respeito mútuo
  • Na Índia, não abrace nem beije ninguém. E usar a mão esquerda na hora de cumprimentar, nem pensar
  • Na Argentina, a saudação é sempre com um beijo no rosto –seja em homens ou mulheres

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GESTOS

Galvão Bertazzi/Editoria de Arte/Folhapress
  • No Irã, não faça o sinal de positivo a que estamos acostumados (aquele com o dedão levantado); no país, o gesto é uma ofensa equivalente a levantar o dedo do meio no Brasil
  • Não estale os dedos para chamar a atenção de alguém na França: o gesto é só para cachorros
  • A Itália tem um grande repertório de gestos, mas nosso sinal de positivo também pode não ser entendido no país. Procure evitá-lo
  • No Japão, seja sóbrio: evite gestual exagerado, risadas escandalosas e fixar o olhar no interlocutor enquanto conversa com a pessoa

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NA RUA

  • Se precisar pedir informação nos Estados Unidos, não cutuque ninguém. O mais educado é se aproximar e dizer "excuse me" (com licença, em inglês)
  • Na França, é considerado mal educado conversar com as mãos no bolso e mascar chicletes em público
  • Evite entregar dinheiro na mão das pessoas no Japão. Em estabelecimentos comerciais, o costume é colocar o dinheiro no balcão ou em uma bandeja
Galvão Bertazzi/Editoria de Arte/Folhapress
  • Também evite assoviar nas ruas no Japão. Acredita-se que isso possa atrair fantasmas, cobras e maus agouros
  • No Líbano e em outros países árabes, não aponte a sola do pé para ninguém –a atitude é considerada uma afronta. Portanto, procure nunca sentar apoiando o calcanhar no joelho
  • Outros cuidados com os pés, desta vez na Índia: não dirija jamais a sola para um mestre, um guru ou um altar sagrado
  • No Japão, além de tirar o sapato para entrar em casa, é preciso fazer o mesmo ao entrar nos provadores das lojas. Portanto, preste atenção às meias que estiver usando, pois elas precisam estar em bom estado
  • Se estiver na casa de um russo e for viajar, não se surpreenda se a família sentar-se por alguns minutos em silêncio; em certos lugares, é um costume antes de viagens longas

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À MESA

  • Quando chegar a um jantar formal na China, sempre espere o anfitrião apontar seu lugar à mesa
Galvão Bertazzi/Editoria de Arte/Folhapress
  • No Chile, evite servir vinho com a mão esquerda, pois é considerado sinal de má sorte
  • Na Turquia, não deixe comida no prato ao acabar de comer, pois pensarão que você não gostou do banquete
  • Por outro lado, na China, deixe um pouco de comida no prato quando estiver satisfeito; caso contrário, os chineses vão achar que você ainda não acabou a refeição

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PRESENTES

  • Na Rússia, flores são presentes comuns –mas sempre em número ímpar e em formato de buquê. Flores em vasos e em número par são apenas para cemitérios e velórios
Galvão Bertazzi/Editoria de Arte/Folhapress
  • Na China e no Japão, não é costume abrir o presente na frente dos convidados, portanto não fique ofendido se o seu pacote for guardado para ser aberto depois
  • Se for convidado para jantar na casa de um francês, leve sempre algum presente: flores, vinho ou alguma sobremesa
  • Procure não presentear chineses com objetos que foram fabricados na China. Evite dar chapéus e bonés verdes para os homens, pois dão a entender que ele é traído pela esposa
  • Nunca dê uma bolsa vazia para um russo; o costume é colocar uma moedinha dentro. Também nunca presenteie bebês antes do nascimento, pois isso é sinal de má sorte

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Fontes: Ana Collares, professora da UnB, Elena Vassina, professora russa, Elisabetta Santoro, professora de italiano da USP, Erick Schulz, diretor do Instituto Naradeva de cultura hindu, Fatih Ozorpak, diretor do Centro Cultural Brasil Turquia, Gian Carlo Perez, supervisor do serviço de recepção da CVC na Argentina, José Farhat, vice-presidente do Instituto Cultura Árabe, Leandro Cordoba, supervisor da CVC no Chile, Ling Wang, consultora sobre a China, Lumi Toyoda, pesquisadora de etiqueta japonesa, Silvia Helena, blogueira, Wataru Kikuchi, professor de japonês da USP


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