Folha de S. Paulo


Complexo revive história de Alan Turing e da espionagem britânica

Luciana Coelho/Folhapress
Casa de Bletchley Park, que abrigava centro de espionagem
Casa de Bletchley Park, que abrigava centro de espionagem

Quando os britânicos desmantelaram a Escola de Governo para Codificação e Cifragem em 1946, pouca gente sabia da importância dessa instituição em Bletchley Park, a 45 minutos de trem de Londres, para o desfecho da Segunda Guerra Mundial.

Esse complexo de barracões enfileirados em torno de uma mansão, hoje aberto ao público, abrigou a maior central de espionagem dos aliados contra os nazistas, empregou 10 mil pessoas e pôs em ação o primeiro computador eletrônico do mundo.

A história de Bletchley é mais comumente associada ao matemático Alan Turing, cocriador de uma máquina eletromecânica para decompor mensagens inimigas (e revivido no cinema em 2014 por Benedict Cumberbatch em "O Jogo da Imitação", tema de exposição ali até outubro).

A Bombe era usada para desembaralhar as letras de comunicados nazistas telegrafados com a Enigma, a máquina alemã que encriptava as mensagens.

Turing morreu como desconhecido aos 41 anos, em 1954, após ser obrigado pelo governo a fazer um tratamento hormonal para "curá-lo" de sua homossexualidade.

A fama que levou o matemático a virar um mártir da luta anti-homofobia é recente. Em razão da natureza secreta do trabalho em Bletchley Park, o então premiê Winston Churchill tentou apagar a história de todos os que trabalharam lá, e muita coisa ficou desconhecida para o grande público até 1992.

Naquele ano uma incorporadora fez uma oferta pelo terreno, com a intenção de derrubar todos os prédios, mas um consórcio de historiadores conseguiu levantar um fundo para assegurar a posse do imóvel.
Após 22 anos de pesquisa e reformas, um parque-museu ficou pronto. A visita, pela qual se paga £ 16,75 (R$ 84), pode ser feita em uma tarde.

Luciana Coelho/Folhapress
Um dos escritórios militares na mansão de Bletchley Park, hoje transformada em um museu
Um dos escritórios militares na mansão de Bletchley Park, hoje transformada em um museu

A mansão recompõe cenários como o escritório do comandante Alastair Denniston, chefe de Bletchley Park na guerra. Turing, que teve sua sala recriada no barracão 8, foi também uma figura essencial na história da computação, com trabalhos que lançaram a base teórica para o funcionamento de computadores modernos.

Por esse motivo, um prédio a poucos metros de Bletchley Park foi escolhido para abrigar o Museu Nacional de Computação, com uma reconstrução do Colossus, o computador eletrônico que sucedeu a tecnologia eletromecânica criada por Turing para decifrar códigos.

As máquinas Bombe originais foram todas desmanteladas depois da guerra. Os projetos originais nunca foram encontrados, mas um grupo de cientistas vem tentando reproduzir o dispositivo tal qual ele era.
O resultado parcial desse trabalho pode ser apreciado na exposição que fica no bloco B.


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