Folha de S. Paulo


Para viver o dia a dia dos moradores, executivo viaja para zonas de conflito

"A praça Tahrir, no Cairo, é a minha torre Eiffel". Assim começa a conversa com o gerente de eventos Marco Aurélio de Moura, 43. Para ele, viajar pela Europa ou curtir uma praia no Caribe não tem muita graça. Moura passa as férias em zonas de conflito.

Desde 2011, quando viajou para a Turquia, Líbano e Síria –no início da guerra civil que já dura três anos–, ele se encantou pelo Oriente Médio. Voltou três vezes à região, sempre com passagens pelo Egito, país que visitou pela primeira vez em 2012.

Marco Aurélio Moura
Moura em Jerusalém, no local onde Jesus Cristo morreu, segundo evangélicos
Moura em Jerusalém, no local onde Jesus Cristo morreu, segundo evangélicos

"Se você quer um lugar organizado, vá à Europa, mas vai perder a chance de ver a história acontecer. Estive no Egito em um momento de revolução, na Primavera Árabe, na queda do ditador Mubarak e, depois, do Morsi. Senti que fui parte da trajetória egípcia", conta.

Viver o dia a dia dos habitantes locais, entender a rotina e os hábitos deles, especialmente em situações tão extremas, é o que impulsiona Moura a seguir para esses destinos. "Observo para onde o turista vai e caminho em direção contrária", diz ele, que já tentou entrar em um hospital no Cairo para conhecer a infraestrutura e o atendimento, mas foi barrado.

Marco Aurélio Moura
Jovem protesta na praça Tahrir, no Cairo
Jovem protesta na praça Tahrir, no Cairo

Sua preferência é por viagens terrestres, atravessando fronteiras de trem, carro ou táxi comunitário. Em um trajeto de ônibus de 16 horas, de Luxor a Sharm Sheikh, teve como companhia beduínos e mulheres usando xador (vestimenta que cobre todo o corpo da mulher). De Taba (Egito) até Tel Aviv, era praticamente o único que não portava uma metralhadora. "Se você faz esses trechos de avião, perde a chance de travar contato com outras realidades", lembra.

Outro fator que pesa é o preço. Como boa parte dos turistas privilegia outras regiões, esses países ficam muito acessíveis. Uma diária em hotel cinco-estrelas no Cairo, por exemplo, hoje sai por cerca de R$ 250.

Além disso, a cada viagem Moura ganha um novo repertório de histórias para contar, algumas delas assustadoras. Já tentaram drogar sua bebida em Istambul e quase foi atingido por uma bomba de gás na praça Tahrir. Também já foi apanhado de surpresa por uma confusão no meio de um protesto e teve de se proteger dentro de uma loja até passar. "É como se fosse um turismo de aventura, mas não de pular de bungee jump", diz rindo.

Apesar dos momentos de ação, outras lembranças atraem Moura de volta. A curiosidade dos locais sobre ele lhe rendeu amigos instantâneos, como os dois rapazes egípcios que pediram para ter sua foto tirada e, depois, convidaram Moura para um passeio. "No início, fiquei desconfiado, mas vi as poses que faziam e percebi que eram muito inocentes. Eles mudaram a minha viagem. Fomos tomar chá, fumar narguilé, dançamos música árabe em um barco no rio Nilo e eles pagaram tudo", conta. Moura os visita anualmente.

Marco Aurélio Moura
Em Jerusalém, Moura clicou mulheres soldadas
Em Jerusalém, Moura clicou mulheres soldadas

Ele viaja sozinho, porque seus amigos têm receio de acompanhá-lo, mas ele não vê motivos para medo e incentiva roteiros na região. "As manifestações são como as daqui. O que acontece no Anhangabaú não chega à Vila Olímpia. Lá também, se você atravessa a ponte da praça Tahir para Zamalek, não vê nada de conflito", diz ele que, em novembro, segue para Turquia, Egito e Irã.

Para garantir a sua segurança, Moura adota cuidados, como se informar sobre a região por meio de documentários e blogs. Para quem se animar, ele também recomenda tentar se destacar o mínimo possível entre os locais, só usar a câmera do celular para não assustar ou ofender as pessoas e contratar um bom seguro de saúde.


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