Folha de S. Paulo


Turista pode ver em Cusco peças que estavam há cem anos nos EUA

Muitas décadas antes de Indiana Jones sair à caça de sua primeira arca perdida, outro explorador com traços semelhantes já havia conquistado o povo norte-americano com uma descoberta arqueológica de tombar qualquer queixo.

Numa edição da revista "National Geographic" publicada há precisos cem anos, o destemido Hiram Bingham (1875-1956) anunciava sua expedição "às terras maravilhosas do Peru" e, em especial, como ele havia localizado o misterioso sítio arqueológico Machu Picchu.

O aventureiro não se limitou a espiar, anotar, divulgar: levou consigo, para a Universidade Yale, nos Estados Unidos, 4.000 peças, entre cerâmicas, têxteis, ossos e outros itens.

Desde o ano passado, quem visita Cusco pode ver uma parte desse butim. Depois de extensas disputas diplomáticas e o empenho pessoal de figuras como o presidente Barack Obama, Yale devolveu ao Peru 366 dos itens levados por Bingham.

Alfonso Zavala/Divulgação
Praça das Armas, no centro cusquenho
Praça das Armas, no centro cusquenho

Esses e outros documentos relativos à expedição (à época patrocinada por uma marca de equipamentos esportivos hoje pródiga em moletons de adolescentes do mundo todo, Abercrombie & Fitch) estão à mostra num novo espaço, chamado Museo de la Casa Concha, no miolo histórico da cidade.

Falar em miolo histórico não é tarefa simples em termos de Cusco. Centro do mundo andino, Qosqo (como se chamava nos velhos tempos) é considerada a cidade viva mais antiga da América.

As atrações se espalham por extensos territórios, mais extensos do que o fôlego médio, na altitude de 3.600 metros, e podem ser conhecidas em dois dias.

Não convém deixar a cidade sem visitar ao menos quatro destinos. O Qorikancha (ou Templo do Sol) foi em algum momento, para os incas, uma espécie de "o grande centro de tudo".

Nem centenas de anos de domínio espanhol nem o terrível terremoto de 1950 conseguiram destruir suas paredes de pedra cinzentas.

Da velha guarda inca, vale ainda visitar Saqsayaman (a Real Casa do Sol), complexo religioso do qual ficaram fartas ruínas, num terreno desenhado em forma da cabeça de um puma.

Há lhamas e alpacas na região, conduzidas por senhoras com trajes multicoloridos, que pedem moedas em troca do trabalho de modelos fotográficas de turistas.

O quarteto de atrações básicas cusquenhas se completa com duas igrejas, na mesma grandiosa praça das Armas: a catedral e sua quase vizinha, a igreja da Companhia de Jesus, exemplo puro-sangue da melhor arquitetura barroca colonial.

O vaivém de turistas em frente às igrejas, em geral mais compenetrados em comprar aqueles gorros de lã com guarda-orelhas e desenhos de lhamas, só não é mais impressionante do que o número de vira-latas pelas ruas.

A reportagem da Folha apurou que, oficialmente, há um cachorro para cada quatro pessoas na cidade, o que totalizaria mais de 127 mil cães cusquenhos.

Museo de la Casa Concha
Onde rua Santa Catalina Ancha, 320
Horário seg. a sáb., das 9h às 17h
Quanto 20 soles (cerca de R$ 16)

O jornalista CASSIANO ELEK MACHADO viajou a convite da PromPerú


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