Folha de S. Paulo


Relatos mostram como é visitar um vulcão

Para o caderno "Turismo", jornalistas da Folha relatam a experiência de fazer passeios para conhecer vulcões na América e na Europa. Confira abaixo os relatos e uma galeria de fotos.

Guatemala é Disneylândia dos vulcões

IGOR GIELOW
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para entusiastas de vulcões, a Guatemala é uma verdadeira Disneylândia: 22 montes, sete deles ativos, quase todos exploráveis.

Os mais acessíveis se encontram perto da capital, a Cidade de Guatemala, e da vizinha Antigua, cidade colonial.

Uma estrela é o Pacaya, a cerca de 25 km de Antigua, procurado por oferecer uma subida mais tranquila em pacotes a partir de US$ 50 (R$ 110).

Mas quando a mata acaba e a ascensão se dá numa íngreme colina de cinza e rocha vulcânica, as pernas sofrem. Evite bermudas: as pedras são altamente abrasivas.

A recompensa vem do cenário grandioso e da ocasional borbulha de magma escorrendo de fissuras na encosta e na cratera principal, a 2.552 m. Nunca largue o guia: os pontos perigosos com emissão de lava e gases mudam diariamente.

Variando sobre o tema, com mais beleza, ruma-se a oeste, para o lago Atitlán. Descrita como o mais belo do mundo por gente como o explorador Alexander von Humboldt, ele tem nada menos que três vulcões a seu redor, um deles (o Atitlán), ativo.

Mas a melhor vista se tem ao escalar o extinto San Pedro. Guia não é indispensável, mas fôlego é: são 3.020 m de mata fechada. O espanto com o cenário lá de cima, contudo, vale qualquer esforço.

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Para conhecer o Etna, visitante pode escalar ou subir de teleférico

IGOR GIELOW
DE BRASÍLIA

Em poucos lugares do mundo um vulcão é tão ligado à história de uma região quanto no leste da Sicília, casa do gigantesco Etna.

Desde a Antiguidade, suas erupções, e os efeitos naquele que já foi um grande centro dos mundos helênico e romano, são registradas -como descreveu o poeta Virgílio em "Eneida" (19 a.C.).

Vinícolas se espalham por sua fértil base de 140 km de diâmetro (procure o tinto Petra Lava, da Antichi Vinai), visível desde o centro da ilha em dias claros.

Toda essa grandiosidade não implica dificuldades de visita. Ao contrário: o principal ponto de subida, o Rifugio Sapienza, é de fácil acesso por ônibus e carro desde Catânia e região.

De lá, é possível fazer escaladas ou pegar o teleférico (€ 29,50; cerca de R$ 87) até um ponto a 2.500 m onde o turista está sobre a camada de gelo eterno coberto com cinza vulcânica --que era de grande valor até a ascensão da geladeira.

A partir daí, é possível ir até a beira da cratera principal, sempre "fumando", a pé ou de micro-ônibus. As vistas até o mar tiram tanto o fôlego quanto o cenário do Etna visto de localidades como Taormina.

Isso se a atividade não estiver forte e obrigue sua descida --sem reembolso.

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Poás, na Costa Rica, tem cenário de "Jurassic Park"

FRANCISCO JORDÃO
COORDENADOR DE POLÍTICA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pertencente à cordilheira Vulcânica Central, o Poás está entre os vulcões mais visitados da Costa Rica.

O país concentra mais de cem vulcões que fazem parte do Círculo do Fogo do Pacífico.

Pacotes para conhecê-los estão no portfólio de praticamente todas as agências de turismo locais e podem ser contratados nos hotéis a partir de US$ 50 por um passeio de meio dia; cerca de R$ 110).

Vans lotadas de turistas levam cerca de uma hora para percorrer o trajeto de San José, capital da Costa Rica, até o parque nacional onde está localizado o Poás.

No parque, um cenário que lembra o filme "Jurassic Park", com folhagens gigantes e um ambiente esfumaçado pelos gases emitidos pelo vulcão.

Tudo é organizado: estacionamentos amplos, trilhas bem sinalizadas, banheiros limpos e lanchonete.

Do estacionamento, uma caminhada curta leva à cratera principal do Poás, a maior da Costa Rica com seus 1. 320 m de diâmetro e 300 m de profundidade.

Como o vulcão está ativo, o local fica boa parte do tempo encoberto pelos vapores. Por isso é preciso sorte (e de preferência chegar cedo, alertam os guias) para ter uma visibilidade total da cratera.

No mirante a 2.574 m de altitude, os turistas disputam cada centímetro em busca de uma foto antes que tudo vire uma imensa "parede" branca de gases e névoa.

Os guias alertam para o tempo de permanência. Não é recomendado ficar mais do que 20 minutos por causa dos gases que podem causar irritação e enjoos. Mesmo assim, o local fica lotado de crianças e idosos, e ninguém parece se importar com isso.

Pelo parque ainda é possível fazer uma caminhada por uma trilha que passa por bosques nebulosos e por uma lagoa vulcânica.

Placas lembram o tempo todo que, em caso de erupção, a primeira coisa a fazer é manter a calma; a segunda --deixando a calma de lado-- é sair rapidamente do local em direção aos estacionamentos.

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No Havaí, é possível chegar perto do Kilauea

ROBERTO DIAS
SECRETÁRIO-ASSISTENTE DE REDAÇÃO

Poucos lugares mostram tão de perto a força tectônica como o parque nacional dos Vulcões, no Havaí.

Dá para caminhar por cima da rota de destruição de uma erupção de 1959 e testemunhar o esforço da natureza por renascer. Dá para sentir o cheiro do inferno, carregado pelo enxofre que escapa das fendas.

Dá para observar o choque térmico da lava adentrando o Oceano Pacífico. Dá para chegar bem perto da boca do vulcão Kilauea --ou vê-lo de longe, em ação, se tiver sorte.

Sorte, por sinal, decidida ali mesmo. A deusa dos vulcões mora no parque, segundo a crença havaiana. Chama-se Pele. Jamais se soube se ela gostou de toda a estrutura montada na sua casa, que inclui centro de visitação, estradas e espaço para acampamento. Mas é melhor não incomodá-la para perguntar...


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