Folha de S. Paulo


Edir Macedo leva brasileiros ao monte Hermon, em Israel

Assim como o aluno chamado por último para entrar no time de futebol, o extremo norte de Israel costuma ser deixado de lado em roteiros turísticos --não consegue competir com destinos como Jerusalém, Belém e Tel Aviv.

Um recente fluxo de brasileiros para o local, nas colinas de Golã, porém, tem chamado a atenção de agentes de turismo e autoridades do setor.

Esses visitantes sobem, de teleférico, ao resort de esqui no monte Hermon, a mais de 2.000 metros de altura em relação ao nível do mar. Não estão ali pela neve, que, aliás, já derreteu nesta época. Eles querem apenas rezar.

Diogo Bercito/Folhapress
Vista a partir do monte Bental
Vista a partir do monte Bental

São, em geral, evangélicos. Não há estatísticas que meçam o número, mas moradores e funcionários ouvidos pela reportagem confirmam a vinda dos brasileiros.

É um fenômeno recente.

Os turistas estão ali para celebrar a transfiguração de Jesus, episódio bíblico tradicionalmente identificado com o monte Tabor, ao sul de Israel --interpretação católica para a passagem da Bíblia que menciona uma tal "montanha alta".

Recentemente, porém, autoridades evangélicas têm insistido que o episódio ocorreu em Hermon. O bispo Edir Macedo, líder da Universal, esteve, em abril, no topo da montanha para uma cerimônia transmitida por satélite. O vídeo da celebração, no blog de Macedo, tem mais de 5.000 comentários.

"Algumas igrejas começaram a pedir que nós levemos turistas ao monte Hermon", diz Kurt Kaufmann, CEO da companhia israelense Genesis Tours --que leva 500 grupos de brasileiros por ano a Israel, e 10% deles ao monte.

"Acreditamos [que a cerimônia de Macedo] irá aumentar o número de peregrinos. Já temos pedidos para este ano. É um lugar com uma força tremenda", diz.

"Acompanhado por outros bispos, [Macedo] orou para que todos os que creem viessem também a ser transformados pelo mesmo poder e espírito", afirmou à Folha o bispo Carlos Oliveira, porta-voz da Igreja Universal.

O evangélico Rogério Enachev, 47, já esteve em Hermon diversas vezes.

"É importante para nós buscarmos evidências", afirma, a respeito dos lugares mencionados pela Bíblia. "Esse lugar ainda é pouco explorado por evangélicos."

RUMO AO TOPO

O local, porém, ainda engatinha no quesito estrutura.

Mas é possível pernoitar em Majdal Shams, simpático vilarejo druso aos pés de Hermon.

Os dois únicos hotéis, Narjis (diárias a partir de R$ 250) e Legacy Village (a partir de R$ 500), ficam na saída da cidade, de onde táxis levam ao teleférico por cerca de R$ 85.

A subida, ida e volta, custa R$ 35. São quinze minutos de névoa e frio até o topo.

Para quem fica em Majdal Shams, outra opção de passeio é visitar o monte Bental, a 20 quilômetros do Hermon.

Agências de turismo podem, também, organizar visitas a pomares de cereja e maçã, típicos dessa região.

TRINCHEIRAS

No monte Bental é possível avistar o Líbano e a Síria, além dos entornos ondulados em Israel. Uma icônica placa mostra as direções para capitais regionais, como Bagdá, Damasco e Beirute.

Estão também ali as estátuas de soldados israelenses em posições de vigia, como quem se lembra da Guerra dos Seis Dias, em 1967. Assim como as trincheiras hoje desativadas, que servem de parque de diversões para as crianças.

Um sistema eletrônico conta em hebraico e em inglês, aos visitantes, a história do conflito. Mirantes podem ser usados por cerca de R$ 2,50.

No estacionamento, estátuas do artista holandês Joop de Jong enfeitam o jardim. Os famintos podem passar na barraquinha de Rachel Sayag, nas proximidades. De família libanesa e síria, ela vende mel e cerejas, clássicos da região.

SEGURANÇA

"Colinas de Golã" parece, às vezes, o nome de um lugar inacessível.

O fato de esses montes serem território disputado e de estarem próximos à Síria, hoje em conflito, não ajuda a convencer turistas a incluí-las no itinerário, mas a região não vê incidentes há décadas, e ainda é considerada uma fronteira segura.


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