Folha de S. Paulo


Sítio arqueológico de Pompeia inicia reforma de 105 milhões de euros

Durante muito tempo negligenciado pelas autoridades, o sítio arqueológico de Pompeia, na Itália, sofrerá uma remodelação de 105 milhões de euros parcialmente financiada pela União Europeia (UE).

A reforma começou na última quarta-feira, um dia após os ex-administradores do local serem colocados sob investigação por corrupção.

O projeto, que é financiado com 41,8 milhões de euros pela UE, é visto como crucial para a sobrevivência de Pompeia após uma série de colapsos no local de 44 hectares, na sombra do monte Vesúvio.

O vulcão em erupção devastou Pompeia cerca de 2.000 anos atrás, em 79 d.C., mas as cinzas e rochas ajudaram a preservar construções quase em seu estado original, bem como produziram formas misteriosas em torno dos cadáveres das vítimas do desastre.

Carlo Hermann/AFP
Turistas caminham pelo sítio arqueológico de Pompeia, na Itália
Turistas caminham pelo sítio arqueológico de Pompeia, na Itália; reforma das ruínas teve início na última quarta

Próximo a Nápoles e muito visitada por turistas, Pompeia passou a simbolizar as décadas de má gestão de muitos dos tesouros culturais da Itália, bem como as consequências dos recentes cortes drásticos nos orçamentos para a cultura devido às medidas de austeridade.

As ruínas de Pompéia, situada no sul da Itália, sofreram uma grande deterioração nos últimos tempos, principalmente com desmoronamentos parciais causados pelas fortes chuvas que castigaram a região em 2010 e 2011 e que produziram, entre outros danos, a queda do sítio arqueológico da Casa dos Gladiadores.

Por causa desses fatos, o então ministro da Cultura, Sandro Bondi, se viu obrigado a renunciar após as críticas recebidas pela oposição, que o acusavam de ter destinado poucos fundos públicos à cultura e às escavações de Pompéia, concretamente, uma região arqueológica de 440 mil metros quadrados.

O complexo arqueológico de Pompéia também foi objeto de vários furtos e se viu prejudicado até mesmo pela máfia napolitana, a Camorra, acusada de ter interesses econômicos na região arqueológica.

Reformas
Os reparos são destinados a reduzir o risco de exposição ao meio ambiente, reforçando as antigas construções romanas, restaurando os famosos afrescos de Pompeia e aumentando a vigilância por câmeras no local, onde a segurança tem sido negligente.

Carlo Hermann/AFP
Restauradores trabalham na reforma do sítio arqueológico de Pompeia, estimada em 105 milhões de euros
Restauradores trabalham na reforma do sítio arqueológico de Pompeia, estimada em 105 milhões de euros

Na véspera da cerimônia de abertura, a polícia financeira italiana anunciou que estava investigando Marcello Fiori, ex-diretor do local, nomeado pelo então primeiro-ministro Silvio Berlusconi em 2009, por suposto abuso de poder.

Luigi D'Amora, o antigo supervisor dos trabalhos de restauração de Pompeia, também foi acusado de fraudar o Estado. Enquanto isso, uma ex-contratada, Annamaria Caccavo, foi colocada sob prisão domiciliar por superfaturar os custos.

Um contrato estimado por Caccavo em € 449.882 acabou custando ao Estado 4,840 milhões de euros, afirmaram os procuradores nos documentos judiciais.

As obras "não eram essenciais" para preservar Pompeia e tinham por objetivo as apresentações em um palco nas ruínas da cidade antiga.

As reformas mais recentes serão geridas por um "comitê executivo" composto pelos ministérios do governo italiano e por representantes da União Europeia para garantir que os fundos não sejam gastos de forma errada.

"Vamos ser muito rigorosos sobre o calendário", afirmou Fabrizio Barca, ministro italiano para a Coesão Territorial, que supervisiona os gastos regionais.

O Comissário Europeu de Política Regional, Johannes Hahn, afirmou à agência de notícias italiana Ansa na terça-feira que o projeto pode ser um "modelo" para os gastos culturais na União Europeia.

A Comissão Europeia estima que o número de turistas no local pode aumentar de cerca de 2,3 milhões por ano para 2,6 milhões em 2017.

Pompeia, um Patrimônio Mundial da Unesco, oferece um vislumbre da vida cotidiana na era Romana e inclui destaques como a Vila dos Mistérios, decorada com afrescos que parecem mostrar a cerimônia de iniciação de uma mulher em uma seita.

Durante séculos, Pompéia permaneceu sepultada, até que por ordem do rei Carlos de Bourbon (que se tornaria Carlos 3º da Espanha), começaram as escavações, que duram até hoje, embora mais da metade da cidade, que chegou a abrigar mais de 20 mil pessoas, ainda continue soterrada, segundo os especialistas.


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