Folha de S. Paulo


Falta de perspectiva angustia desempregados da indústria

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O que mais angustia quem perdeu o emprego na crise deste ano é a falta de perspectiva. Recolocar-se é cada vez mais difícil.

Demitida em junho, a auxiliar de produção Alyne Gomes da Silva, 20, começou um curso técnico em estética para não depender mais das incertezas da indústria. "Na crise, quem quer ficar desempregado?", diz.

Seu emprego antigo era na fábrica da Samsung, a segunda maior empresa da Zona Franca de Manaus, que demitiu cerca de 2.000 trabalhadores.

Conhecido como Tubarão, David Lima Queiroz, 33, começou a trabalhar na zona franca aos 18 anos. Demitido em abril, ele conta que "nem as lojas estão contratando, porque na crise eles não vendem". Com pai e mãe impossibilitados de trabalhar e um filho adolescente, ele vem se mantendo com bicos. "Trabalho de ajudante de pedreiro, soldador e o que der."

Em São Paulo, o cenário é parecido. A queda na produção e na venda de veículos causa demissões não somente nas montadoras mas se espalha por toda a cadeia produtiva. Somadas, as empresas de autopeças e as montadoras já dispensaram em todo o país mais de 38 mil funcionários desde outubro de 2015.

Segundo Rafael Marques, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a cada funcionário demitido na montadora outros quatro empregos correm risco em empresas ligadas à produção e venda de veículos.

"As pessoas dizem que São Paulo é a terra das oportunidades, mas hoje em dia não é não", lamenta Jefferson Lázaro da Silva, 36, demitido em março de uma indústria de autopeças. Jefferson diz ter dificuldade em encontrar até empregos temporários: "Esse ano não está tendo nem isso".

Ele divide seu tempo entre bicos e a carreira de rapper. Como Jeff MC, canta a realidade do seu bairro, o Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, mas diz que nem a vida de músico é fácil. "Leva um bom tempo para construir um público."

Marcos Antônio Pereira Vale, 52, demitido em junho de uma empresa de pintura de peças automotivas, diz que antes o trabalho era duro, mas o emprego era garantido para quem "desse conta". "Hoje ninguém está seguro." Com o dinheiro recebido pela rescisão, Marcos, que já foi metalúrgico da Ford, comprou uma perua Kombi e faz pequenos carretos.

Contratado em 2011, Erik Torres, 22, foi em pouco tempo de lavador de carros a mecânico na revenda autorizada dentro da fábrica da Volkswagen, em São Bernardo do Campo. No dia da sua promoção, foi chamado para uma reunião com o gerente, que brincou com o nervosismo do novo funcionário: "Você está demitido".

Em junho passado, a cena se repetiu. Só que desta vez a demissão não era brincadeira.

AUGUSTO DAUSTER e THIAGO POMPEU fizeram o 1º Programa de Treinamento em Fotojornalismo e Vídeo da Folha, patrocinado por Friboi, Odebrecht e Philip Morris Brasil. O trainee viajou a Manaus com o apoio da Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).


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