Folha de S. Paulo


Em 2012, Brasil exportou quase o mesmo número de jogadores que importou

O Brasil é conhecido como país exportador de jogadores de futebol. Não é mentira: em 2012, saíram daqui 1.429 atletas. Mas o futebol nacional não dispensa ajuda de fora. No mesmo ano, chegaram aqui 1.114 estrangeiros. Os números são da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

Um levantamento da confederação mostra que, em 2013, a Europa foi o continente que mais trouxe jogadores para cá, com um total de 180. Em segundo lugar, fica a Ásia, com 80 e, em terceiro, a América do Sul, com 57.

Apesar do número expressivo, a Europa tem poucos ídolos como o atacante sérvio Dejan Petkovik. Ele jogou no Brasil por 11 anos e marcou equipes como Vitória-BA e Flamengo-RJ, onde se aposentou em 2011 e ficou por um total de quatro anos.

Pet, como ficou conhecido, jogou por aqui pela primeira vez em 1997. Sem chances no time titular do Real Madrid, aceitou o convite da equipe baiana. "No começo, foi difícil me adaptar ao calor de Salvador e ao tipo de treinamento brasileiro, que é bem diferente do europeu", explica Petkovic.

Dezesseis anos depois de sua primeira partida brasileira oficial, Petkovic não tem planos de retornar ao país do Leste Europeu. "Eu vou para Sérvia para visitar parentes, mas não pretendo voltar para lá de vez tão cedo. Quero ficar aqui."

Ele diz acreditar que teve sucesso no Brasil por ser um jogador técnico, mas afirma que se o estrangeiro não tiver força de vontade para enfrentar as diferenças culturais e de treinamento, de nada adianta jogar bem. "Não é fácil, mas, no final, o carinho da torcida compensa", conta.

ÍDOLOS SUL-AMERICANOS

Apesar do oriente e da Europa centralizarem parte da importação de atletas, é da América do Sul que vem ídolos mais conhecidos do futebol nacional.

Dos 12 países que dividem o continente sul-americano com o Brasil, pelo menos seis tiveram jogadores que se destacaram em clubes daqui. Ao percorrer o mapa sul americano de cima para baixo, a primeira parada é na Colombia, de onde veio o meia Freddy Rincón, que ajudou o Corinthians a conseguir os títulos brasileiros (1998 e 1999), paulista (1999) e do Mundial de Clubes da Fifa em 2000.

Mais abaixo, no Peru, nasceu o estrangeiro que ajudou o alvinegro paulista a conquistar seu segundo mundial, em dezembro de 2012. O atacante Paolo Guerrero fez o gol da decisão contra o Chelsea, marcando também contra o Al Ahly do Egito na semifinal.

Para o pesquisador do Ludens (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol e modalidades Lúdicas) Sérgio Settani, que estuda a vida de atletas brasileiros que foram para o exterior, isso não faz de Guerrero um ídolo, mas um herói.

"Às vezes ele estava no lugar certo e na hora certa. Ele ainda não é um ídolo, mas uma figura do herói que fez o gol na final e conseguiu o título que o Corinthians queria há muito tempo", diz.

Enquanto o herói tem ares de predestinado, o ídolo é aquele que fideliza a torcida. "Uma análise que a gente pode fazer é que, para o atleta virar um ídolo, ele precisa ter um vínculo muito grande com o clube. Isso demora para ser construído", afirma o pesquisador.

É do próximo país do mapa que veio o que Settani define como um ídolo. O zagueiro chileno Elías Ricardo Figueroa foi hexacampeão gaúcho no Internacional-RS durante os anos 1970.

Em seguida, do Paraguai veio o zagueiro Gamarra, que começou a carreira por aqui no Internacional-RS, em 1995, passando depois pelo Corinthians e pelo Palmeiras. Nos dois primeiros, conquistou os campeonatos Gaúcho e Brasileiro, respectivamente.

Mais para o sul, foi da Argentina que desembarcaram atacantes como o argentino Carlos Tevez, que ganhou o campeonato brasileiro pelo Corinthians em 2005, quando também foi eleito o melhor jogador do torneio pela CBF.

Por último, há o Uruguai, onde nasceram atletas como Diego Lugano, Ladislao Mazurkiewicz, Pablo Forlán, Pedro Rocha e Rodolfo Rodriguez. Destes, nenhum jogou por tanto tempo no Brasil quanto o zagueiro Dario Pereyra, que ficou por 11 anos (1977-1988) no São Paulo.

"Cheguei aqui com 21 anos, sem a minha família. Sofri com a saudade dos meus pais e estranhei a comida diferente", diz Pereyra. O zagueiro diz acreditar que, atualmente, a adaptação seja mais fácil. "Hoje em dia, pela internacionalização do futebol, os jogadores não sentem mais a mudança de país."

Rafael Andrade/Folhapress
O jogador Petkovic e seu último jogo como profissioal. (Foto: Rafael Andrade/Folhapress, ESPORTE) ***EXCLUSIVO FOLHA DE SP***
O jogador Petkovic e seu último jogo como profissioal. (Foto: Rafael Andrade/Folhapress, ESPORTE) *EXCLUSIVO FOLHA DE SP*

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