Folha de S. Paulo


Jogadores buscam inspiração na Europa e investem mais em estilo

"O atleta hoje está mais vaidoso." A afirmação é do jogador Cicinho, que já atuou no Sport, no São Paulo e no Real Madrid, mas é fácil de perceber na evolução dos penteados de Neymar, ou nos mais de 30 looks no Instagram de Daniel Alves, do Barcelona.

"A imagem do jogador rende publicidade, patrocínios e roupas. Isso é bacana", completa.

Paulo André, do Corinthians, é prova disso. Ele foi foi escolhido pela Hugo Boss para representar o perfume Boss na campanha "Sucesso fora dos campos". "Ele é sofisticado e tem uma qualidade clássica que estávamos procurando", diz Eleonora Crocetti, diretora de relações públicas da Procter&Gamble na América Latina.

Segundo Eleonora, o interesse do público masculino por moda vem mudando no Brasil. "O que antes era visto como metrossexual agora também atrai o homem mais tradicional", disse.

A atenção da mídia também transforma o papel do jogador. "O atleta hoje está muito ligado ao entretenimento. Eles namoram atrizes famosas e estão virando celebridades. Eles têm que olhar para seu estilo como parte de seu capital", afirma Crocetti.

EUROPA

Mudanças à parte, Cicinho diz que ainda é mais fácil seguir a moda na Europa. Para o antigo lateral do Real Madrid, a principal diferença é climática.

"Lá tem as quatro estações, o que torna mais interessante se vestir. Em Recife não tem como você colocar uma roupa para sair à noite num jantar elegante. É muito calor."

Cicinho conta que, quando jogava no Real Madrid, decidiu melhorar seu guarda-roupa seguindo os conselhos de David Beckham. Passou a frequentar as mesmas grifes que o inglês e a comprar "tudo que via pela frente", gastando uma média de € 20 mil por mês.

"O que eu devia ter feito é o que o Neymar faz hoje, contratado um estilista que te veste, aí você economiza", diz.

Mesmo em Recife, Cicinho não abre mão do corte acinturado de seus ternos Dolce & Gabanna. A grife inaugurou uma loja no shopping JK Iguatemi, em São Paulo, neste ano, mas o jogador diz que ainda prefere fazer suas compras em Roma. "Economizo aqui para comprar lá. Vale mais a pena."

Romário, hoje deputado federal pelo PSB, é outro jogador que aproveitou a carreira na Europa para se aprofundar na moda, frequentando desfiles em Barcelona e Milão.

Para o campeão mundial de 1994, a moda não significa só estilo pessoal. Ele acompanha a moda feminina e inclui Stella McCartney e a brasileira Marta Ciribelli, da Fórum, entre seus estilistas favoritos. Para ternos, prefere Armani, Ermenegildo Zegna e Bone.

O atacante se interessou tanto pelo assunto que, ao voltar para o Brasil, em 1996, se matriculou na graduação em moda da faculdade Estácio de Sá. Cursou um semestre e só interrompeu os estudos porque foi chamado de volta para a Espanha.

Questionado sobre quais jogadores considera mais bem vestidos, afirma: "Eu me considero uma pessoa bem vestida".

PASSARELAS

O estilista mineiro Ronaldo Fraga usou o futebol como tema de sua última coleção e afirma que a moda ajuda os jogadores "a ilustrar uma certa ascensão social".

Muitos jogadores vem de famílias pobres, como conta Cicinho, e sempre quiseram comprar roupas. "Quando tive a oportunidade de investir em mim mesmo, mudei meu armário."

O último desfile de Fraga apresentou modelos andando sobre um campo de futebol de várzea, representando o período em que o futebol deixou de ser um esporte de elite, nas primeiras décadas do século 20.

Segundo ele, os estilistas no Brasil têm hoje o mesmo desafio que o futebol tinha em seus promórdios no país, de se apropriar de algo que vem de fora e "imprimir um jeito e uma forma nossa", diz.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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