Folha de S. Paulo


Futebol de videogame aposta em crescimento com a Copa e dá até R$ 20 mil em prêmios

Final do Campeonato Brasileiro, 48 minutos do segundo tempo, 2 a 2. Daniel Alves, livre na pequena área, poderia decidir a partida. Foi então que, em um lance dramático, o jogador Ralph Monteiro apertou o botão "pause", interrompendo o jogo com a bola em movimento --falta grave. O árbitro que observava a partida declarou a infração e penalizou Ralph em um gol, invertendo o placar e sagrando Leandro Horta campeão brasileiro de futebol digital.

Ambos os times em campo eram o Barcelona, e o jogo era o PES (Pro Evolution Soccer), jogado em um PlayStation 3 em um shopping center de Fortaleza (CE).

O Brasil possui 22 federações estaduais, mais de 40 ligas locais e 30 mil pessoas que já disputaram competições oficiais de futebol digital, segundo a Confederação Brasileira de Futebol Digital e Virtual.

Em São Paulo, a Federação existe há quase dez anos, mas encontra dificuldades para ser reconhecida. "Como não há muita divulgação, o pessoal ainda acha que é brincadeira", conta o presidente, Thiago Silva.

Isso vem mudando, diz ele. O último evento ocorreu no shopping CenterVale, em São José dos Campos, do dia 21 a 27 de junho. Cerca de 1.500 pessoas vieram jogar, e a competição teve apoio da Sony e transmissão pela TV Record do Vale do Paraíba.

Eventos maiores chegam a ter prêmios no valor de R$ 20 mil, assim como carros, motos e viagens. Toyota, Carrefour e Konami foram alguns dos patrocinadores recentes.

"A Copa do Mundo vai dar um novo fôlego ao futebol digital e acredito que vamos ter mais facilidade", diz.

Divulgação/Acervo FPFDV
Competidores durante a Copa Guarulhos de Futebol Digital 2013, no Internacional Shopping.
Competidores durante a Copa Guarulhos de Futebol Digital 2013, no Internacional Shopping.

MUNDIAL

Acima das 22 federações estaduais está a Confederação Brasileira, que organiza os dois campeonatos principais, o Campeonato Brasileiro e a Copa do Brasil, que vale uma vaga no Campeonato Mundial, disputado na Europa.

No ano passado, o pernambucano Allisson Pereira, 25, o Black, foi para a Espanha representar o Brasil na competição. Ele conta que ficou impressionado com o nível técnico e acabou desestabilizado, saindo na fase de grupos. "É 70% psicológico", disse. "Também treinei errado, treinei pouco."

Treinar pouco, para Allisson, significa passar menos de 12 horas por dia com o videogame. É o regime do pernambucano em época de campeonato. Fora do período de competições, ele treina oito horas, três vezes por semana. "Hoje em dia estou mais tranquilo. Antes eu treinava mais."

A maior parte da renda de Allisson vem do futebol digital. Ele recebe dinheiro das competições que ganha e tem patrocínio para viajar para os campeonatos. "É uma aposta", diz ele. As companhias pagam suas passagens e taxas de inscrição e depois recebem uma porcentagem do prêmio, se houver.

Mesmo assim, não consegue viver só do e-sport. "No Brasil, é impossível."

REGRAS

Cada competição tem suas próprias diretrizes, fora as regras internas do jogo. Os jogadores trazem os controles de casa, assim como um pendrive para carregar formações e esquemas táticos.

No campeonato em São José dos Campos, eles tiveram dois minutos para alterar a formação no início da partida e direito a dois "pauses" para substituir jogadores e fazer mudanças táticas, desde que a bola não estivesse em movimento. Gols marcados por "bugs" --erros no jogo-- não serão validados.

As regras são fiscalizadas por juízes, que observam tanto o jogo na tela quanto o comportamento dos jogadores. Xingar, provocar ou debochar do adversário é falta e pode levar a até um gol de penalidade.

Nem tudo pode ser controlado, contudo. Em 2012, na final da Copa Carrefour, em São Paulo, a torcida gritava muito a favor do paulista Wesley Araújo, o SubZero, que enfrentava Allison Black, pernambucano. Os gritos e cantos pesaram muito no psicológico da partida, conta o presidente da Federação Paulista. "Normalmente não pode fazer isso, mas não tem como evitar. Acho que o título só ficou com a gente por causa da torcida."

Wesley ganhou o campeonato, R$ 10 mil e uma passagem para a feira de jogos E3, na Califórnia.


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