Folha de S. Paulo


Campeonatos de pebolim são promovidos por fabricantes das mesas

No intervalo das aulas, a cena é comum: universitários em volta de uma mesa de pebolim, totó ou fla-flu (o nome muda conforme a região). O jogo está presente em todo o país, em bares, centros acadêmicos de universidades, churrascos e salões de jogos de condomínios fechados.

O jogo chegou ao Brasil na década de 50, através da Espanha, mas só se popularizou nos anos 70. Perdendo terreno para os videogames, o pebolim também sofre por razões comerciais, que geram divisões entre organizadores de campeonatos.

Há apenas duas fabricantes de mesas de alto padrão, e cada uma delas promove um campeonato e não reconhece o modelo, e consequentemente a associação, concorrente. Um deles é Clayton Fonseca e a ABP (Associação Brasileira de Pebolim), o outro, o presidente da APP (Associação Paulista de Pebolim) Edgard Mascher.

Clayton afirma "estar interessado em divulgar o esporte, não em promoção comercial, ao contrário da Associação Paulista." Admite, entretanto, que o campeonato promovido por ele só utiliza as mesas construídas em sua fábrica. O campeonato paulista é tradicionalmente realizado na cidade de Santo André (SP), onde está localizada a fábrica de Mascher, o Brasileiro, em São Vicente, onde reside Fonseca.

Os campeões da disputa nacional têm a possibilidade de participar do Campeonato Mundial, promovido pela ITSF (Federação Internacional de Futebol de Mesa, em português), integrada, tal como as entidades brasileiras, por fabricantes europeus

Edgard diz que a diferença entre as duas mesas é tão grande que são praticamente dois esportes diferentes. "É como dirigir um carro com ou sem direção hidráulica. Não participamos do [campeonato] nacional pois não aceitam nossas mesas na competição." Fonseca nega a restrição.

Segundo ele, o "esporte luta para se afirmar e deixar de ser uma prática de botequim". De acordo com ele, em países da Europa, há jogadores que chegam a viver exclusivamente do esporte. Aqui, como falta patrocínio, muitos jogadores nem sequer conseguem se deslocar até as cidades onde se realizam os campeonatos nacionais.

HISTÓRIA

Diversos jogos simulando partidas de futebol surgiram na Europa durante as décadas finais do século 19. A mesa de pebolim, tal como a conhecemos, foi uma evolução desses brinquedos, mas seu desenvolvimento é até hoje disputado entre espanhóis, franceses e ingleses. O certo é que a primeira patente conhecida pertence aos últimos. Harold Searles Thorton registrou sua invenção em 1923.

Os defensores de que se trata de uma invenção espanhola dizem que Alexandre de Finesterre desenvolveu o pebolim moderno devido à impossibilidade de jogar futebol, ocasionada por um ferimento durante a Guerra Civil Espanhola, razão também pela qual os registros da patente foram perdidas.

Para os franceses, Lucien Rosengart desenvolveu autonomamente o pebolim na década de 1930 para que seus netos pudessem jogar futebol durante o inverno. Viria da França a tradição dos jogadores serem vermelhos e azuis, em homenagem à bandeira do país. Tal assunto, entretanto, é também motivo de polêmica.

Para os fabricantes italianos, as cores surgiram nos anos 40, em homenagem à Casa de Savoia e à nova cor adicionada à bandeira italiana do pós-guerra, o vermelho.

O que é certo, entretanto, é que o jogo virou um fenômeno nos EUA durante a década de 70. Emissoras de televisão transmitiam campeonatos profissionais, cujos prêmios, no ano de 1978, chegaram a um milhão de dólares.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Ambev, da Odebrecht e da Philip Morris


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