Folha de S. Paulo


Por amor ao esporte, pais registram filhos como Maradona e Lineker

Quando Diego é parado em blitze nas estradas, já sabe que as piadas vão começar logo após a apresentação de sua carteira de habilitação. "Os policiais brincam dizendo que vão fazer uma revista no veículo atrás de drogas", diz o paulista de Tatuí.

Diego Maradona Corrêa, 32, é um dos muitos brasileiros que foram nomeados pelos pais em homenagem a jogadores de futebol.

Corintiano, gosta de acompanhar o time paulista em campo. No ano passado, esteve no estádio do Pacaembu, em São Paulo, quando o Corinthians jogou contra o Boca Juniors --time que contava com a presença de Maradona, o argentino. Apesar do nome, Corrêa não despreza suas origens. "Pelé foi melhor [que Maradona]. Não o vi jogar e vi muito pouco o Maradona, mas eu sou brasileiro, não tem como negar."

O baiano Croife Silva Santos, 29, também não se deixa influenciar pelo nome. A fonte de inspiração de seu pai foi o holandês Johan Cruiff, que chamou a atenção de torcedores de futebol de todo o mundo durante a Copa do Mundo de 1974. Apesar disso, Santos não se considera fanático pelo esporte --muito menos pela seleção holandesa de 74.

Nascido em Salvador, o "Cruiff" baiano trabalha com montagem de andaimes e diz que "não tem tempo para futebol". Isso não o impede de ser constantemente abordado por pessoas curiosas para saber a origem de seu nome. "Sempre me perguntam de onde saiu. Os colegas perguntavam na escola, e até hoje várias pessoas perguntam em todo lugar que vou."

O mineiro Lineker Henrique de Oliveira, 25, é outro que não é fã do esporte --apesar de ter sido nomeado em homenagem ao artilheiro britânico Gary Lineker, atuante na Copa de 86. "Para os meus pais, era chique colocar nomes diferentes ou estrangeiros nos filhos. Nunca joguei e não gosto de futebol."

FAMÍLIAS ESPORTIVAS

Já o garoto Wendel, de cinco anos, gosta de ter nome de jogador. Segundo sua mãe, Lenilda Gomes Machado, 40, o menino não apenas sabe que Wendell Lucena Ramalho foi um goleiro que jogou pelo Botafogo (RJ) na década de 70 mas também acha que é o próprio jogador. "Ele sempre me pergunta: 'já fui goleiro do Botafogo, minha mãe?'. E fica todo feliz quando digo que sim", diz Lenilda.

Wendel mora com os pais em Jequié (BA) e, como bom fanático pelo esporte, não poderia estar em uma família melhor. Seu pai também se chama Wendel e tem um primo chamado Riquelme, em homenagem ao jogador argentino do Boca Juniors.

O menino briga com a mãe quando ela tira das unhas as cores do Botafogo e implica com o avô e os tios maternos, torcedores do Flamengo. "Ele é tão fanático que até as pessoas na rua chamam ele pelo nome do time", conta a mãe.

O paranaense Givanildo Falchetti, 30, também faz questão de torcer pelo mesmo time do jogador que serviu de inspiração para o seu nome --o volante pernambucano Givanildo Oliveira, que fez parte da equipe do Corinthians que ganhou o celebrado título do Campeonato Paulista de 77.

Seu pai, José Nilson Falchetti, é fanático pelo time desde criança e considera o volante um "baita jogador". O amor pelo esporte, porém, não supera o medo que seu filho sente das torcidas organizadas. Por isso, o Givanildo paranaense nunca foi a um estádio ver o Corinthians em campo. "Tenho muita vontade mesmo, mas o medo fala mais alto."

*

Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


Endereço da página: