Folha de S. Paulo


Saiba como jogavam as seleções brasileiras campeãs do mundo

Os esquemas táticos usados pelos técnicos é assunto sempre presente nas rodinhas que discutem futebol. Alguns dizem que são meras balelas teóricas de pseudoespecialistas que não entendem nem sequer o significado dos números separados por traços que aparecem nas escalações.

Os esquemas são usados para definir como será a disposição dos jogadores durante a partida. Eles aparecem sempre na ordem defesa-meio-campo-ataque. Por exemplo: num esquema 4-4-2, o time joga com quatro jogadores na defesa, quatro no meio-campo e dois no ataque (o goleiro, como tem posição fixa, não entra nessa conta).

Aqui estão os esquemas usados por cada seleção brasileira campeã do mundo. Quem decide qual esquema o time vai usar é o técnico, então colocamos um breve perfil de cada treinador.

1958

A seleção brasileira primeira vez campeã do mundo tinha como técnico Vicente Feola. Quando jogador, atuou no São Paulo da Floresta (que depois mudaria de nome para São Paulo Futebol Clube), Auto Futebol Clube e Americano, todos de São Paulo (SP). Foi treinador da Portuguesa Santista (SP), do Boca Juniors da Argentina e do São Paulo, onde foi comandante por 532 jogos, recorde do time até hoje. Também dirigiu a seleção na Copa de 1966. Foi técnico da seleção em 74 jogos (54 vitórias, 12 empates e 8 derrotas).

Feola optou pelo esquema 4-3-3, que poderia ser mudado para 4-2-4 dependendo de como estava o jogo. Foi ele quem insistiu para que Pelé fosse à Copa --além de ser considerado muito jovem pelos dirigentes da CBD (atual CBF), o camisa 10 havia se machucado no último amistoso de preparação antes do embarque para a Suécia, o que quase o impediu de participar do torneio.

O técnico inovou ao colocar os meias Zagallo e Didi para ajudar o ataque --na época, não era comum os jogadores se movimentarem pelas posições. Os dois se revezavam para apoiar o trio de atacantes da seleção: Pelé, Vavá e Garrincha.

Editoria de Arte/Folhapress

1962

Vicente Feola, com problemas de saúde, não pode comandar a seleção no bi, e Aimoré Moreira foi o escolhido. Atuando como goleiro, Moreira jogou no América (RJ), no Palmeiras (SP) e no Botafogo (RJ). Foi técnico, entre outros, São Paulo, Portuguesa, Palmeiras e Corinthians, todos da capital paulista, e o Botafogo do Rio. Treinou a seleção brasileira em 63 jogos (38 vitórias, 9 empates e 16 derrotas).

Moreira também escolheu o esquema 4-3-3, mas sem a mudança de posições implantada por Feola. Manteve o time base campeão quatro anos antes, trocando apenas a zaga: saíram Bellini e Orlando, entraram Zózimo e Mauro. Zagallo jogava fixo no meio, dando apoio ao lateral Milton Santos, que com 37 anos já não tinha a mesma rapidez de antes. Pelé, que se machucou no segundo jogo e não pôde mais jogar no Mundial, foi substituído por Amarildo.

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1970

Zagallo foi o técnico do tri. Jogou no América, no Flamengo e no Botafogo, todos da cidade do Rio de Janeiro, além de fazer parte do Brasil campeão em 1958 e 1962. Assumiu o comando da seleção em março de 1970, substituindo João Saldanha. Também foi treinador do Brasil nas Copas de 1974 e 1998 e assistente técnico nas Copas de 1994 e 2006. Números de Zagallo como treinador da seleção: 135 jogos (99 vitórias, 26 empates e 10 derrotas).

Novamente, o Brasil jogou com a formação 4-3-3. Os meias (Rivelino, Gerson e Clodoaldo) tinham liberdade para ajudar o ataque, formado por Pelé, Tostão e Jairzinho. O lateral-direito, Carlos Alberto Silva, também atacava. Para que a defesa não ficasse tão descoberta e como a seleção tinha três jogadores canhotos de qualidade (Rivelino, Tostão e Gerson), Zagallo recuou o lateral-esquerdo Everaldo, que na prática virou um terceiro zagueiro.

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1994

A seleção de 1994, comandada por Carlos Alberto Parreira, valorizava a posse de bola, trocava passes e cruzamentos precisos e aguardava pelo momento certo de atacar.

Disposta no 4-4-2, esta foi a proposta de Parreira, que assumiu a seleção em 1991: montar um time compacto, que errasse poucos passes e que tivesse sólida defesa. Mesmo os volantes do Brasil --meio-campistas que muitas vezes não têm técnica apurada-- se saiam bem com a bola, à exemplo de Mauro Silva e do próprio Dunga.

Parreira construiu uma equipe tática, em que cada jogador sabia sua função em campo. Apesar dos problemas de véspera --Ricardo Gomes e Ricardo Rocha, zagueiros com status de titulares, se machucaram dias antes do torneio--, a seleção contou com uma zaga eficiente, composta por Márcio Santos e Aldair. Tal como a dupla de volantes, os dois tinham bons lançamentos e passes.

O restante da defesa era composta pelo lateral esquerdo, Branco, e Jorginho, lateral direito. Protegidos pela dupla de volantes --Mauro Silva era praticamente um terceiro zagueiro-- os dois tinham liberdade para atacar.

A inteligência tática, contudo, não era o único trunfo de Parreira. A principal arma ofensiva daquele time foi Romário, atacante que depois da Copa se sagraria melhor jogador do mundo. Os dribles e gols de Romário --foram 5 gols em 94-- desequilibraram à favor do Brasil, o que faz com que muitos o considerem tão fundamental para a conquista do tetra quanto Garrincha foi para a seleção de 1962.

Romário, porém, provavelmente não teria jogado tão bem não fosse seu parceiro de ataque, Bebeto. Rápidos e inteligentes, os dois operavam em sintonia.

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2002

Luiz Felipe Scolari, o técnico do time brasileiro nesse ano, dispôs a seleção em um 3-5-2, esquema com três zagueiros que jamais havia sido usado pelo Brasil em uma Copa.

O técnico foi acusado por alguns de ser "retranqueiro", mas a "Família Scolari", como ficou conhecido o grupo que disputou a Copa de 2002, contava com uma série de variações táticas ofensivas.

A zaga era formada por Roque Júnior e Lúcio, zagueiros de ofício, e por Edmilson, que em muitas ocasiões migrou para o meio-campo. Cafu e Roberto Carlos, os laterais, atuavam tanto na defesa quanto no meio-campo e ajudavam na construção dos contra-ataques.

No meio campo, Gilberto Silva e Kléberson formavam a dupla de volantes. Jogadores de marcação, davam liberdade para que o trio ofensivo do Brasil se ocupasse apenas de construir jogadas de gol; contudo, em mais de uma oportunidade foram importantes também no ataque, como na final contra a Alemanha, quando Kléberson começou a jogada do segundo gol brasileiro, em jogo que terminou 2 x 0 para o Brasil.

O setor ofensivo da seleção contava com Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo. Rivaldo e Ronaldinho eram responsáveis para armar as jogadas, e por isso se movimentavam mais que Ronaldo, este fixo no ataque.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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