Folha de S. Paulo


Amador, futebol de botão também tem campeonato nacional e troca de jogadores

Os ônibus chegam, os jogadores desembarcam e se espalham pelo campo. A partida é entre o Palmeiras de 1974 e a atual escalação do Milan. Mas esqueça os ônibus grandes, de várias poltronas. Os "ônibus", neste caso, são maletas onde os "jogadores", os botões, são carregados. Aqui, o futebol é de mesa.

A cena de garotos jogando futebol de botão se repete todas as quintas-feiras no Nacional, clube da zona oeste da capital paulista. Os "garotos", porém, são homens com cerca de 30 anos.

Uma das poucas exceções é Leonardo Rodrigues, 17 anos e primeiro lugar do ranking sub-18 da modalidade. Começou a jogar com 13 anos, iniciado pelo tio, atual técnico do clube. Fúlvio Santiago, 14 anos, é outra exceção. Terceiro colocado no mesmo ranking, o garoto sabe que está fora da média de idade habitual. "Todo mundo gosta de video-game, mas isso daqui não enjoa", diz.

Eles treinam para mais uma etapa do Campeonato Paulista de Futebol de Botão. Prestando atenção no desempenho dos jogadores, está o técnico, Laércio Rodrigues, 48, motorista de ônibus e jogador de futebol de mesa desde 2006. É ele quem escala os jogadores que representam o Nacional nos campeonatos de equipes. "Tem muito jogador bom de treino que, na hora do campeonato, não aguenta a pressão e vai mal. Presto atenção nisso e no quanto o jogador se empenha para melhorar", explica. Um computador com o registro dos jogos amistosos feitos no Nacional ajuda na análise de desempenho de cada pessoa.

Rodrigues foi selecionado para o cargo pelo seu "senso de liderança e compromisso com o esporte", conforme explica Élcio Buratini, 61, diretor de futebol de mesa do Nacional. "O fato de sermos amadores não nos impede de sermos organizados. Pelo contrário: como a gente só joga nas horas vagas, temos de aproveitar o máximo de tempo possível." Buratini joga desde quando ainda era professor de matemática. Hoje, aposentado, ocupa boa parte do seu tempo com o esporte.

O Nacional está na segunda divisão do torneio de equipes. Como no futebol de campo, os campeonatos de botão são divididos em série. Em cada ano, as três piores equipes da primeira divisão caem para a segunda, e, da segunda, sobem os três melhores para a primeira.

Os campeonatos estaduais são organizados pelas federações locais, e o nacional é de responsabilidade da CBFM (Confederação Brasileira de Futebol de Mesa). Só podem participar dos torneios jogadores filiados aos clubes cadastrados na CBFM.

Há dois tipos de campeonatos: os individuais (em que cada jogador compete por si) e por equipes de cinco jogadores. Neste estilo, todos os cinco de um time jogam contra todos os cinco de outra equipe, formando 25 jogos --a equipe que vencer mais jogos leva três pontos no confronto. Os jogadores de equipes devem estar com o mesmo uniforme. No campeonato individual, não há essa exigência.

Botonistas que não frequentam nenhum clube geralmente se organizam em "garagens", pontos de encontro informais com diversas mesas em que se pratica o jogo de forma habitual.

Uma das mais famosas e antigas da cidade de São Paulo é a do Grêmio Butantã, organizada por Julio Paterno, 42, vendedor de veículos. Desde 1990, Paterno reúne fãs do futebol de botão na garagem de sua sogra. Segundo ele, o espaço serve para divulgação da prática, "algumas pessoas começam jogando aqui e depois vão para clubes. A maioria dos jogadores tem mais de 20 anos, mas há garotos mais novos".

Há outras semelhanças com o futebol de campo. Não é raro que bons jogadores de uma equipe menor sejam requisitados por outros clubes mais fortes, como o Corinthians, o Palmeiras e o Círculo Militar. A mudança, porém, não pode ser feita no meio da temporada, e quem começar um campeonato num time deve jogar por ele até o fim.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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