Folha de S. Paulo


Técnico da seleção feminina pede à CBF criação de campeonato brasileiro

O técnico da seleção de futebol feminino, Márcio Oliveira, enviou à CBF (Confederação Brasileira de Futebol), no início do mês, um projeto com propostas de melhorias da modalidade no país. O programa pede mais investimento no setor e a criação de um calendário que inclua um campeonato brasileiro. Oliveira também sugere a criação de categorias sub-15, sub-17 e sub-20 nas 27 federações do país. A proposta ainda está sendo analisada pela CBF.

Segundo Oliveira, algumas federações já têm uma boa organização, como São Paulo, Bahia e Pernambuco, mas é preciso mais incentivo. "Qualquer clube que queira montar uma equipe feminina vai ter um custo, e os clubes não andam muito bem das pernas. Não têm interesse. Se não consigo manter o masculino, que é o grande foco do futebol hoje, como vou manter o feminino? Vai aumentar o rombo de gastos", diz.

Para ele, além da falta de investimentos, a falta de campeonatos consolidados em todos os Estados, como ocorre no masculino, também é um problema. No calendário oficial da CBF, há apenas a Copa do Brasil de Futebol Feminino. Também há outras iniciativas organizadas pelos clubes, como a Copa Mulher.

Divulgação
Ao centro, Emily Lima, treinadora das seleções femininas sub-15 e sub 17
Ao centro, Emily Lima, treinadora das seleções femininas sub-15 e sub 17

TREINADORA

Primeira mulher a treinar um time na CBF, Emily Lima diz que o maior problema da categoria tem origem financeira. "Não tem como fazer um planejamento. Há meses que tem mais dinheiro por ter mais investidores, mas tem outros que tem menos. Fica complicado."

Lima é treinadora das seleções femininas sub-15 e sub-17 e já fez parte das equipes de treinamento da Portuguesa e do Juventus. Ela diz que a falta de patrocinadores acontece em todos os níveis --a diferença é que, na seleção brasileira, recebe mais ligações de técnicos interessados em oferecer atletas.

A maioria dos clubes sobrevive com verba da prefeitura, segundo Márcio Oliveira, que mantém o São José Esporte Clube, de São José dos Campos, no Vale do Paraíba, há 11 anos. "No início eu era roupeiro, massagista, preparador físico, psicólogo, administrador e, hoje, montei uma comissão técnica muito competente, consegui encaixar as peças certas nos lugares certos", diz ele, que tem patrocínio de faculdade e plano de saúde.

Para Lima, o exemplo do São José, que venceu a Copa do Brasil neste ano, deve ser seguido pelos outros clubes e pelo futebol feminino no geral, mas ressalta que "é um trabalho de dez anos, com muito planejamento".

"A gente está passando por uma fase de reformulação em todos os aspectos. Acredito em uma melhora, pois tem muita gente trabalhando, mas o futebol feminino está tão pra baixo que as pessoas que entraram pra tomar conta agora vão levar um tempo longo para consertar", diz a técnica.

Um dos pontos principais a serem melhorados é o das categorias de base, segundo Lima. "Eu tive bastante problema na primeira convocação da sub-17 e na do sub-15, pois não temos categoria de base no Brasil. Tem uma aqui e outra ali em São Paulo, mas nos outros lugares não têm muito, e fica difícil avaliar as meninas sem as categorias." Para garantir uma seleção competitiva e com boas atletas, antes das convocações, ela e Oliveira tiveram que viajar por diversos Estados brasileiros em busca de atletas.

Procurada pela Folha, a CBF disse que tinha "outras prioridades" e não informou o orçamento destinado ao futebol feminino no país, o número de times e de jogadoras.

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Este texto faz parte do especial "Brasil - Terra do Futebol", projeto final da 55ª turma do Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que tem patrocínio da Odebrecht, da Philip Morris e da Ambev


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