Folha de S. Paulo


Em edição até com casamento, Campus Party mantém número de visitantes

Às 10h deste domingo (31), a internet dos mais de 8.000 pontos de rede da Campus Party, um dos maiores encontros de tecnologia do país, foi desligada e os últimos dos "campuseiros" tiveram que guardar seus computadores e desmontar as barracas (pela primeira vez, elas não tinham marcas da Telefônica, que deixou de patrocinar o evento para cortar custos e foi substituída pela estatal Telebras).

Mesmo sem um nome de peso entre os mais de 600 palestrantes, o evento, realizado anualmente desde 2008 em São Paulo, terminou com o mesmo número de participantes do ano passado: 8.000 na área paga, vindos de 24 Estados, sendo 64% jovens 18 a 29 anos, e cerca de 120 mil no setor grátis –a área paga tinha ingressos custando a partir de R$ 220.

O motivo é que grande parte dos participantes não está exatamente interessado em palestras, que tratam de temas amplos, de produção de conteúdo a robótica –o que conta mais é o encontro com outros aficionados por tecnologia (6.500 deles ficaram acampados dentro da campus, no Pavilhão de Exposições do Anhembi, durante a semana).

Interessados por robótica, modificação de computadores, desenvolvimento de aplicativos e games, os participantes aproveitam o evento para formar parceria e trocar conhecimentos.

"O espírito do 'campuseiro' é o principal. Os contatos e o conteúdo que criamos aqui são as melhores partes", afirma André Porto, 31, que já participou de oito edições do evento. Ele diz que, neste ano, com mais novatos, o clima estava menos animado. "Isso acaba desanimando, porque o pessoal novo não conhece as tradições, como os gritos e os memes", explica.

O analista de sistema Jonathan Rodella, 26, que já participou de sete edições, também não assiste às apresentações. "Nas primeiras vezes eu vinha pelo evento em si, hoje venho pelo networking, é a parte que mais vale a pena."

Nesta edição, houve até casamento de participantes. Os brasilienses Maria Raquel Barroso, 18, e Gabriel Soares, 18, vão casar no cartório em fevereiro, mas ganharam uma cerimônia nerd no evento, com direito a participação de Alexandre Ottoni (do site Jovem Nerd), como juiz de paz, Franceso Farruggia (presidente do instituto Campus Party) como padrinho, e até um Darth Vader, que levou a noiva ao altar.

"Era para ser um casamento de brincadeira, mas virou uma cerimônia mesmo", disse Maria à reportagem antes de sair, na sexta-feira (29) mesmo, para comprar o vestido.

A maioria dos campuseiros ouvidos pela Folha hesitou ao apontar grandes destaques entre os palestrantes, entre os quais já figuraram, em edições anteriores, nomes como Steve Wozniak, cofundador da Apple, e o empreendedor Chris Anderson.

Os mais citados foram Grant Imahara (ex-integrante do programa "Mythbusters", que falou para uma plateia lotada sobre o "orgasmo nerd" de trabalhar na atualização do robô R2-D2, de "Star Wars"), Evgeny Chereshnov (executivo da Kaspersky Lab que possui um chip implantado na mão para analisar as implicações da simbiose entre homens e máquinas) e Dado Schneider (doutor em comunicação, criador da chamada "palestra muda", em que a mensagem é passada por slides e música).

Pela primeira vez em nove edições, alimentos não industrializados foram vetados dentro da arena –onde são realizadas as palestras e ficam as bancadas para os computadores. A medida foi bastante criticada pelos campuseiros, acostumados a pedir pizza ou esfiha e levar para comer dentro da arena. Eles tiveram que comer do lado de fora, na área gratuita, sair para comer em locais fora do Anhembi, ou recorrer aos alimentos vendidos lá dentro –criticados pelos preços salgados.

Para o ano que vem, Tonico Novaes, diretor-geral da Campus Party, espera dar mais enfoque à Campus Future, área dedicada aos projetos universitários e aberta à visitação do público gratuitamente –neste ano, estudantes mostraram, por exemplo, o projeto de um aparelho que usa ultravermelho para identificar obstáculos nas ruas e ajudar cegos e se locomover.


Endereço da página:

Links no texto: