Folha de S. Paulo


Vendas de iPhones ficam quase estáveis, o pior resultado desde 2007

Josh Edelson/AFP
Tim Cook, presidente-executivo da Apple, durante a apresentação do iPhone 6s, em setembro
Tim Cook, presidente-executivo da Apple, durante a apresentação do iPhone 6s, em setembro

As vendas do iPhone cresceram apenas 0,4% no último trimestre do ano passado, o menor ritmo de crescimento para o produto desde seu lançamento, em 2007. O resultado, abaixo do esperado por analistas, dá força às preocupações de que o smartphone tenha chegado ao seu limite.

De acordo com dados divulgados nesta terça-feira (26), a companhia vendeu 74,8 milhões de aparelhos nos últimos três meses de 2015, só 300 mil a mais que os registrados no mesmo período de 2014. O resultado era de certa forma esperado: fornecedores asiáticos já sinalizavam para uma queda nos pedidos da companhia, em razão da baixa procura pelos iPhones 6s e 6s Plus, que apresentaram poucas inovações em relação às gerações anteriores.

A empresa fundada por Steve Jobs, entretanto, não é a única ter resultados desanimadores no mercado de smartphones –o setor como um todo está desacelerando. Uma das razões é a situação na China, em que os números deixaram de crescer a um ritmo tão intenso e agora se aproximam de mercados mais maduros como América do Norte e Europa.

Com esse panorama, a Apple prevê que as vendas totais de seus produtos vão cair neste trimestre que vai até março, para algo na casa de US$ 50 bilhões a US$ 53 bilhões –será a primeira vez que isso acontece desde 2003.

A receita total da companhia cresceu apenas 2% no último trimestre, para US$ 75,9 bilhões, uma forte desaceleração se comparado com os 30% registrados no mesmo período do ano anterior (nas Américas e no Japão houve queda na receita, de 4% e 12%, respectivamente).

Apesar de os ganhos da companhia na China terem crescido 14%, a Apple começa a sentir efeitos de mudanças nas economias ao redor do mundo, segundo Luca Maestri, chefe de finanças da companhia. Ele cita, por exemplo, o dólar forte, que teria tirado US$ 5 bilhões da receita da companhia.

Nem tudo são notícias ruins, entretanto: o lucro líquido da companhia no último trimestre de 2015 foi de US$ 18,4 bilhões (alta de 2,2% em relação ao mesmo período do ano anterior). Isso mantém a Apple no posto de empresa mais lucrativa dos Estados Unidos.

Evolução do iPhone

ANDAR DE LADO

No Brasil, hoje o quarto maior mercado de smartphones do mundo (atrás de China, EUA e Índia), a participação da companhia se manteve estável, segundo estimativas da consultoria Euromonitor. Os iPhones representaram 10% dos 63,2 milhões de smartphones vendidos no Brasil em 2015, índice só um pouco maior do que os 9,9% registrados em 2014. Enquanto isso, os celulares rivais munidos de sistemas Android, oscilaram um pouco para baixo, de 80,2% para 79,9%.

O resultado não é desprezível para a companhia de Tim Cook, dadas as condições de seu produto no país: em meio a uma aguda crise econômica e à alta do dólar, a companhia começou a vender o iPhone 6s e o 6s Plus a preços recordes (de R$ 3.999, para o mais básico, a R$ 4.899, no mais avançado).

Um dos motivos disso é que, no Brasil, as vendas da categoria de celulares ultracaros, onde se enquadra o iPhone, não são tão influenciados pelo valor. A marca, aspecto que em que a Apple continua à frente, é mais importante.

"Os brasileiros ainda enxergam valor sentimental nos iPhones, que possuem forte relação com o status pessoal do consumidor", afirma Leonardo Freitas, analista de pesquisa da Euromonitor. "Muitos deles acabam recorrendo ao crédito, parcelando a compra, um comportamento que tende a diminuir em 2016 diante da situação macroeconômica e da retração do poder de compra."


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