Folha de S. Paulo


Vendas do Apple Watch esbarram em falta de informação ao consumidor

Bruno Scatena/Folhapress
Apple Watch, que permite enviar mensagens rapidamente com voz
Apple Watch, que permite enviar mensagens rapidamente com voz

Na manhã da última sexta-feira (16), só quatro pessoas esperavam a abertura da loja oficial da Apple em São Paulo para comprar o relógio inteligente da marca, que chegava ao mercado naquele dia. Uma imagem que contrasta com as tradicionais filas formadas por ávidos consumidores sempre que um produto da companhia é lançado.

Em tempo de crise, o preço do Apple Watch, que parte de R$ 2.899, pode ser um fator para a aparente baixa procura. Entretanto, de acordo com analistas, o principal motivo é que o consumidor não entendeu ainda para que esse tipo de aparelho serve.

A consultoria IDC fez uma pesquisa com mil pessoas sobre aparelhos vestíveis, categoria na qual se encaixam os relógios inteligentes, e 80% delas não sabiam do que se tratava –mesmo depois de apresentadas marcas mais famosas desse segmento como a Fitbit (dona de uma popular pulseira de acompanhamento do desempenho físico). "A falta de conhecimento é enorme. Os fabricantes terão de trabalhar a imagem desses produtos, dizer no que eles ajudam", afirma Leonardo Munin, analista de pesquisas da IDC Brasil.

No caso do Apple Watch, as principais funções são notificar o usuário sobre o que está acontecendo nas redes sociais de que participa sem que ele precise pegar o iPhone. Além de responder rapidamente a mensagens.

A estudante Larissa da Rocha, 31, que na sexta-feira estava no Shopping Morumbi, onde fica a loja oficial da Apple em São Paulo, contou que já havia falado falar do relógio inteligente, mas não sabia direito o que ele faz.

"Eu já tento não expor o celular na rua. Falar com um relógio, então, não tem jeito", afirmou.

Mesmo entre quem conhece bem as funcionalidades do produto há uma certa desconfiança –as pessoas ainda vão precisar se acostumar com ele do ponto de vista do comportamento.

"Um problema é quando você está em uma reunião e começa a olhar o relógio. Ninguém sabe que você está checando o WhatsApp. Vão achar que você está entediado, vendo se o tempo está passando", afirma o engenheiro Raphael Câmara, 40, que tem todos os produtos da Apple, menos o Apple Watch.

Relógios inteligentes

MERCADO

Hoje, os campeões de vendas são as pulseiras que monitoram atividade física, mais baratas e com função mais clara. A consultoria Euromonitor projeta que, neste ano, aparelhos como esses rastreadores vão representar 94,7% dos 116,1 mil vestíveis vendidos no Brasil –a Nike lidera o segmento por aqui. A categoria que inclui os relógios, que tem Samsung e LG na dianteira, ficará com apenas 5,3%.

A Euromonitor espera que o mercado de vestíveis chegue a 3,3 milhões de unidades vendidas em 2020. Trata-se de um número ainda modesto, apesar de representar um crescimento intenso até lá: para comparação, foram vendidos no país 54,5 milhões de smartphones só em 2014.

Gabriel Marão, coordenador do comitê gestor do Fórum Brasileiro de IoT (internet das coisas), afirma que é certo que o mercado de produtos vestíveis vá crescer e dar certo. Entretanto, não se pode dizer que a popularização virá com os relógios inteligentes.

"Ainda não se descobriu uma 'aplicação matadora' para esses produtos. Meu chute é que isso vai acabar acontecendo na linha de robótica", afirma.

Colaborou FELIPE GIACOMELLI, de São Paulo


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