Folha de S. Paulo


Certinhos, carros que se dirigem sozinhos podem deixar viagem quase chata

Folha anda em carro do Google

Não tem volante, pedais ou câmbio. Só cabem duas pessoas: colocamos o cinto, apertamos um botão e tchau. Estamos num estacionamento a céu aberto do Google, dentro do carro que se dirige sozinho, aquele redondinho.

Há três meses, o Google começou a levar esses protótipos para testes nas ruas de Mountain View, cidade no Vale do Silício, sede da empresa. Ao contrário do carro-teste no qual andei no estacionamento, os que rodam no mundo real precisam ter volante e pedais por questões de segurança e de leis locais.

Reprodução
A repórter Fernanda Ezabella antes da carona no carro sem motorista do Google
A repórter Fernanda Ezabella antes da carona no carro sem motorista do Google

"Chega até a ser perigoso, porque muitas pessoas querem parar para tirar fotos e fazer vídeos", disse o "motorista de segurança" Reko Ong, que está no projeto há um ano. "Se percebemos que a situação não é segura, tomamos a direção. Basta tocar no pedal e temos o controle."

A voltinha pelo estabelecimento foi bastante controlada e, por isso, pouco realista. Obstáculos surgiam no caminho, como um homem atravessando a pista a pé e um rapaz de bicicleta. O carrinho desacelerava, parava, dava espaço e tal, tudo com a maior tranquilidade.

Uma experiência mais real é andar no veículo da marca Lexus que o Google transformou em um carro autônomo, repleto de câmeras, sensores e parafernálias tecnológicas. Mas não é tão simpático quanto o protótipo -que nem o Google sabe se um dia chegará ao mercado.

A empresa tem cerca de 20 Lexus rodando em estradas da Califórnia e ruas de Mountain View e Austin, no Texas.

O carro impressiona pelos poderes sobre-humanos. Ele vê coisas que nós, meros humanos, não vemos, graças a sensores e câmeras que enxergam 360 graus e num raio de dois campos de futebol.

SÓ ELE VIU

Logo na saída do estacionamento, o Lexus para bruscamente. Ixi, já deu zebra, eu penso. E então surge uma van do outro lado da rua, saindo de uma loja e fazendo um retorno ilegal no meio da pista, algo que não atrapalharia nossa rota e que nem eu e minha "motorista de segurança" tínhamos notado.

O carro tende a parar mais tempo do que o necessário nas placas de "pare" e nos cruzamentos, além de nunca ultrapassar em nada a velocidade vigente (seu máximo é de 56 km/h).

E, assim tão conservador, fica quase chato andar de carro. Um dos desafios do Google é deixar o carro "mais humano", como, por exemplo, mais hábil para atravessar cruzamentos pesados. O protótipo de hoje poderia ficar numa eterna espera.

"Nem todo motorista é paciente e às vezes recebemos umas buzinadas. Há também os que querem testar nossos limites, dão fechadas", conta a minha "motorista", Meridith Armstrong.

Em casos assim, o carro pode agir rapidamente, mudando de faixa na hora, já que sabe de forma automática se a pista ao lado está livre (não é como nós, que precisamos virar o pescoço, checar a situação e então mudar).

Ou o carro pode frear bruscamente. Esses veículos já se envolveram em 16 acidentes pequenos desde 2009, 12 dos quais foram batidas em sua traseira -graças ao seu mecanismo de freio, um tanto brusco.

Ao voltar para casa à noite, penso no prazer que tenho em dirigir meu próprio carro, sem robôs para me controlar. Mas logo lembro de como somos "versáteis", e portanto perigosos, com as leis de trânsito. De repente, me senti uma motorista bem imprudente, humana, demasiadamente humana.


Endereço da página:

Links no texto: