Folha de S. Paulo


Google vai esconder anúncios em Flash a partir da semana que vem

O Google deixará de exibir conteúdo secundário (como propagandas) que seja criado com a tecnologia Flash no seu navegador Chrome a partir da próxima terça-feira (1º), mais um passo de um vagaroso "sepultamento" do software, considerado pesado e inseguro.

O que é considerado parte essencial da página, como o vídeo que se pretende ver num site de vídeos, será mantido intocado –ao menos por enquanto. Os elementos bloqueados poderão ser vistos se o internauta clicar sobre eles.

Segundo Michel Sciama, diretor de produtos de anúncios do Google, a mudança favorece os internautas. "Principalmente no mundo de hoje, com os celulares exercendo papel tão grande, já que o Android não suporta o Flash há muito tempo", diz. O iOS e o Windows Phone tampouco têm compatibilidade com a tecnologia.

O HTML 5 é o substituto do Flash, que é usado para conteúdo interativo ou animado, como games, desenhos e propagandas, e pertence hoje à Adobe (desenvolvedora do Photoshop e outros).

Há ferramentas gratuitas disponíveis para a conversão de conteúdo em Flash para HTML 5, como o Haxe, o Shumway e o Swiffy.

Para Juliano Vidal, diretor tecnológico da empresa de distribuição de anúncios Melt, a mudança pode gerar problemas. "Cerca de 90% das peças [publicitárias] que recebemos foram criadas em Flash, e quase nada em HTML. A maior parte das agências não está preparada."

Segundo ele, parte dos anúncios precisaria passar por modificações demoradas e trabalhosas para ser atualizada. "É uma coisa imposta pelo Google, que faz isso da mesma maneira que a Microsoft fazia imposições antes, quando era dona de tudo [maior participação no mercado de navegadores]", diz.

O executivo, que elogia no HTML5 sua rapidez e a adaptabilidade a diferentes tipos de dispositivo, diz que muitos internautas usam um browser antigo e incompatível com esse novo padrão. "Principalmente em grandes empresas, há pessoas que ainda usam navegadores como Internet Explorer 6 ou 7 [que não reproduzem HTML5]."

"Não tem a ver com forçar a mudança, nem somos os primeiros [a fazer isso]", diz Fabio Coelho, presidente do Google no Brasil, questionado pela Folha durante evento em São Paulo.

"Faz parte do processo de ajustar o mercado para a questão de eficiência e segurança. É a necessidade de se ajustar o tempo todo", diz Coelho. "Não estamos fazendo isso da noite para o dia. A gente trabalha para que a experiência seja o menos frustrante [possível] para o mercado."

Segundo ele, o Google trabalha há três meses com agências de publicidade digital para instruir os profissionais da área.

Sciama, do Google, diz que um exemplo bem-sucedido de substituição do Flash pelo HTML5 é o tocador de vídeos do YouTube. "Como é um padrão aberto, que permite modificações, substitui superbem."

Ele afirma que conteúdo criado nesse novo padrão também está pronto para interação com toques, própria dos celulares e tablets.

SEGURANÇA

Em um artigo publicado no site AppleInsider, o jornalista Daniel Eran Dilger compara o Android, do mesmo Google, à tecnologia Flash (que foi removida do sistema para smartphones da empresa de internet) por causa do seu amplo uso e de sua natureza insegura.

"Os problemas de segurança do Android são piores do que os do software da Adobe", escreveu, citando o exemplo da falha intitulada Stagefright, que permitia que, com o envio de uma mensagem, hackers controlassem remotamente um aparelho com o sistema do Google –a empresa disse ter arrumado a brecha.

"É doloroso manter o Flash atualizado, mas segurança básica no Android não é possível a menos que você seja um engenheiro habilidoso o suficiente para criar seu próprio código", diz Dilger, citando aparelhos que deixam de receber atualizações do Google.

Segundo ele, uma tentativa frustrada de integrar o Flash ao sistema Android expôs "centenas de milhões de usuários" em janeiro e não foi corrigida pelo Google.

O Flash é associado a diversos incidentes de segurança passados. O estopim para o posicionamento público do Facebook e o fim de sua compatibilidade no Firefox foi a divulgação dos e-mails da empresa italiana Hacking Team, que usava brechas no software para os vírus que criava.

Em julho, o Facebook se pronunciou pelo fim do uso da tecnologia, que é empregada em muitos anúncios em páginas da internet, junto com a Mozilla, empresa responsável pelo browser Firefox, que bloqueou o plug-in no mesmo mês em que uma falha de segurança nele foi revelada.

Na semana passada, a empresa de segurança F-Secure disse que houve um aumento no número de vulnerabilidades passíveis de ser exploradas por criminosos no Flash.

"Tipicamente, os criminosos têm como alvo algum software vulnerável amplamente usado no mercado [caso do programa da Adobe]", escreveu em comunicado Timo Hirvonen, pesquisador-sênior da companhia finlandesa.

Recomendações de segurança incluem desinstalar o Flash ou desabilitá-lo até o momento em que for necessário, além de manter o sistema e todos os programas instalados atualizados.


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