Folha de S. Paulo


Apps monitoram saúde da população, mas falta de regras preocupa

Dentro de algumas semanas, ciclistas darão a largada em uma corrida de Bruxelas a Genebra, passando por Paris.

A prova de 1.500 quilômetros dificilmente representará grande desafio para os esportistas mais experientes. O incomum, porém, é que todos os participantes serão portadores de diabetes tipo 1 ou tipo 2, e estarão usando aparelhos móveis que os ajudarão a administrar sua condição ao longo do percurso.

Os ciclistas terão acesso ao tipo de monitoração remota e acompanhamento médico inovadores que estão se tornando comuns no setor de saúde –com o uso de tecnologia móvel a fim de manter sob estreita observação a condição do paciente.

Os aparelhos móveis permitem transmissão instantânea de dados médicos, o que pode reduzir custos administrativos, melhorar a monitoração de pacientes e ajudar a desenvolver sistemas de observação e administração de riscos. E uma administração melhor de doenças persistentes ajuda os pacientes a manterem a independência e a se tratarem em suas casas.

Paul Morton, diretor de saúde da Vodafone UK, diz que "oferecer aos pacientes a flexibilidade e a conveniência de serem tratados em casa é parte essencial dos serviços de saúde de qualidade hoje".

No cerne de todo os chamados serviços de "saúde-m" está a transmissão em tempo real de dados precisos aos quais médicos e enfermeiros podem agir remotamente, garantindo tratamento instantâneo quando requerido.

No caso da corrida de bicicleta, por exemplo, a Orange Healthcare, subsidiária da operadora de telefonia móvel Orange, oferecerá serviços em nuvem que garantirão coleta, transmissão e hospedagem dos dados dos ciclistas.

Cada participante contará com um smartphone equipado com aplicativo que agregará dados pessoais. Um app permitirá que os atletas façam scan de sua comida em nível molecular, para que possam monitorar seu consumo de calorias e carboidratos a cada refeição, enquanto outro fornecerá consultoria médica personalizada sobre diabetes por meio de tecnologia cognitiva e de inteligência artificial.

Isso representa uma pequena amostra das centenas de usos para apps e aparelhos no florescente setor de saúde conectado. O grupo de pesquisa Gartner estima que esse mercado movimentará US$ 38 bilhões até 2020.

Karen Taylor, diretora do centro de soluções de saúde da Deloitte, diz que "a tecnologia sozinha não é solução mágica para a saúde e assistência social, mas é um facilitador que não deveria ser desconsiderado".

Alguns países já estão pensando no futuro. A Dinamarca, por exemplo, vem adotando a tecnologia em larga escala, no setor de saúde. Mais de 90% dos médicos do país transferem dados sobre pacientes eletronicamente, ante média de pouco menos de 35% para a União Europeia.

A Deloitte diz que o tratamento facilitado pela tecnologia pode aumentar a produtividade das organizações de saúde, propiciar economia de custos e melhorar os resultados ao dar aos pacientes mais controle sobre sua saúde.

No entanto, muitos especialistas em telecomunicações dizem que o maior impacto poderá acontecer nos mercados emergentes, onde os médicos enfrentam dificuldades de acesso aos pacientes. Serviços móveis podem oferecer tratamentos de saúde confiáveis e de preço acessível.

A GSMA, organização setorial das operadoras de telefonia móvel, criou uma iniciativa de saúde na África para conectar pessoas a serviços de comunicação móvel e de saúde em 11 países da África subsaariana, entre os quais Gana, Ruanda e Tanzânia. O objetivo principal é oferecer serviços básicos e informações de saúde a mulheres e crianças, com foco especial na nutrição, por meio de telefones móveis.

Há problemas à frente. Por exemplo, o mercado de aparelhos vestíveis e serviços conectados até o momento não é muito regulamentado. A Comissão Federal de Comércio dos Estados Unidos vem reforçando sua pressão sobre produtores de apps que fazem afirmações falsas ou exageradas sobre avaliações médicas. Apps como esses podem diagnosticar problemas incorretamente e criar uma falsa sensação de segurança –duas coisas potencialmente prejudiciais.

Os analistas de mercado da Juniper Research também dizem que aparelhos de saúde conectados e os dados que eles geram vão melhorar o cuidado preventivo com a saúde, mas os desdobramentos inicialmente serão restringidos pela regulamentação incompatível e por questões de defesa da privacidade.

Rimma Perlmuter, presidente-executiva do Mobile Ecosystem Forum, uma organização setorial, diz que "a informação coletada por esses apps e aparelhos é por natureza quanto pessoal quanto extremamente delicada, e isso pede que o setor seja vigilante ao lançar esse tipo de serviço".


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