Folha de S. Paulo


Expansão de fibra óptica no Brasil desacelera, mas ainda é prioritária

As operadoras de telecomunicações desaceleraram os investimentos em infraestrutura de fibra óptica no Brasil nos primeiros meses de 2015 por conta do cenário econômico mais difícil, mas a perspectiva permanece de que esse serviço, junto com a tecnologia 4G, será a principal fonte de receita do setor nos próximos anos.

Em vez de apostar na expansão da cobertura, as operadoras estão trabalhando para aumentar a utilização de suas redes já existentes.

"A demanda deu uma diminuída nos últimos três meses", disse José Alcântara, diretor de planejamento da Furukawa, uma das principais fornecedoras de equipamentos de fibra óptica do país. "Estão implantando fibra óptica, mas antes (a demanda) era por cabos de grande formação, e agora é por pequenos, que maximizam a capacidade da rede que já têm", disse.

Segundo ele, a alta do dólar e dos preços da energia também têm elevado os custos dos investimentos.

Nos resultados do primeiro trimestre já é possível verificar uma desaceleração das adições de "homes passed", ou seja, número de domicílios que podem ser atendidos pela rede de fibra de uma operadora, que serve de indicador da expansão da cobertura.

A Vivo, por exemplo, que atua com fibra óptica residencial apenas em São Paulo, disponibilizou serviço de fibra para 100 mil novos domicílios nos primeiros três meses deste ano, ante 500 mil e 700 mil no terceiro e quarto trimestres do ano passado, respectivamente.

O número de clientes conectados com fibra da Vivo, por outro lado, manteve o ritmo de crescimento de cerca de 15%, passando de 322 mil no terceiro trimestre do ano passado, para 375 mil nos três últimos meses de 2014 e para 429 mil ao fim de março deste ano.

De fato, executivos de Vivo e da rival NET, do grupo América Móvil, disseram que a estratégia neste momento está sendo captar clientes ou migrar consumidores da base de banda larga tradicional para a fibra, e não tanto a expansão da cobertura.

No mercado como um todo a tendência também é de crescimento no número de clientes, apesar da expansão geográfica mais contida. Segundo números mais recentes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), os acessos por fibra subiram 42% em março na comparação com o mesmo período do ano passado, para 1,04 milhão, ante expansão como um todo do mercado de banda larga fixa de 7,2%, a 24,4 milhões de acessos.

CAPTANDO CLIENTES

"Nosso esforço deste ano é preencher essa rede (de fibra), ou seja, nosso foco maior é ganhar clientes", disse André Kriger, diretor de produtos premium da Telefônica Vivo, sobre a cobertura de fibra óptica implantada pela operadora.

Junto com a GVT, com a qual está em processo de fusão, a Vivo tem 6,955 milhões de acessos de banda larga total, em segundo lugar logo depois da NET.

"A fibra ainda é um mercado pequeno, mas acreditamos que terá forte crescimento (...). Junto com o 4G, é a grande aposta para geração de receita", disse Gustavo Fonseca, diretor de marketing residencial da Vivo.

A NET também está apostando na fibra óptica, mas diferente do serviço inteiramente em fibra da Vivo, a empresa está utilizando uma tecnologia híbrida, composta tanto por cabos de fibra como os coaxiais.

A empresa também está focando na expansão da capacidade das redes já construídas, e não tanto em investimentos em redes novas. "Tudo vai depender do ritmo da economia", disse Márcio Carvalho, diretor de marketing da NET. "Estamos acompanhando com atenção todo o cenário. Aí vamos naturalmente expandir coberturas e serviço", completou.

LONGO PRAZO

A aposta na fibra ocorre em meio à desaceleração das receitas com serviços tradicionais como voz e SMS por causa do uso cada vez maior de aplicativos baseados na internet –como Skype, Netflix e WhatsApp.

Apesar de a fibra ser mais rentável pelo fato de permitir oferta de serviços mais caros, o faturamento vindo da nova tecnologia ainda representa parte pequena das receitas totais com banda larga, disse Ari Lopes, analista da consultoria de telecomunicações Ovum.

"Ainda é jogo de longo prazo. No curto prazo, as operadoras devem estar perdendo ou ganhando muito pouco com isso", disse, citando a concorrência de preços e a necessidade de continuidade dos investimentos em redes.

Segundo o IDC Brasil, o mercado de banda larga como um todo movimentou US$ 8,88 bilhões em receitas em 2014 no país, alta de 6,8% sobre 2013. Para 2015, a expectativa é atingir US$ 9,35 bilhões, crescimento de 5,3%, de acordo com João Paulo Bruder, gerente de telecomunicações da consultoria.

Parte dessa receita é movimentada por provedores menores, que atendem regiões em que as grandes operadoras não estão presentes. Estima-se a existência de 3.000 provedores regionais de banda larga no país, que atendem 20% dos 24,4 milhões de acessos no Brasil. Do total de provedores, 70% oferecem fibra óptica, segundo Basílio Perez, presidente da Associação Brasileira de Provedores de internet e Telecomunicações (Abrint).


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