Folha de S. Paulo


Apple vai criar serviço de música para brigar com Spotify

A Apple, promovendo o que pode ser a maior mudança em sua estratégia para a música em anos, está levando adiante uma reforma abrangente de seus serviços digitais. O objetivo é permitir que a empresa concorra diretamente com companhias mais novas no setor de streaming, como o Spotify.

Quase um ano depois de fechar acordo para a aquisição da Beats, fabricante de fones de ouvido de design moderno e operadora de um serviço de música em formato de setreaming, por quase US$ 3 bilhões, a Apple está trabalhando com engenheiros e executivos para introduzir um serviço de música por assinatura.

A companhia também está planejando uma iTunes Radio reforçada, que pode ter sua programação adaptada aos ouvintes de mercados regionais, e, se a Apple conseguir o que deseja, maior número de álbuns de forte impacto estarão disponíveis na iTunes antes de serem lançados em outros serviços.

Stephanie Diani - 17.dez.2013/The New York Times
Da esq. para a dir., Ian Rogers e Luke Wood, executivos da Beats, Trent Reznor, da banda Nine Inch Nails, o produtor musical Jimmy Iovine e o rapper Dr. Dre
Da esq. para a dir., Ian Rogers e Luke Wood, executivos da Beats, Trent Reznor, da banda Nine Inch Nails, o produtor musical Jimmy Iovine e o rapper Dr. Dre

Em um sinal da importância da Beats na reordenação do segmento de música digital da Apple, a companhia transformou um músico, e não um engenheiro, em líder da reformulação digital do app. Trent Reznor, líder do Nine Inch Nails e vice-presidente de criação da Beats, está desempenhando papel importante nas mudanças do app musical, de acordo com dois funcionários da Apple familiarizados com o produto, que falaram sob a condição de que seus nomes não fossem revelados porque os planos são sigilosos.

PERDA DE FORÇA

Talvez o mais revelador sobre a Apple é o que seu novo serviço de streaming não terá: um preço mais baixo que o dos serviços rivais.

De acordo com diversos executivos do setor de música, a Apple recentemente tentou, mas não conseguiu, persuadir as gravadoras a aceitar valores de licenciamento mais baixos, que permitiriam que a empresa vendesse assinaturas para seu serviço de streaming por US$ 8 ao mês –preço inferior aos US$ 10 mensais que se tornaram padrão para serviços como Spotify, Rhapsody e Rdio.

A diferença de US$ 2 pode ser pequena, mas o fato de que a Apple não tenha conseguido garanti-la reflete uma virada no relacionamento entre a companhia e o setor de música. Embora a Apple no passado desfrutasse de enorme poder de negociação, como força dominante no setor de música digital, ela agora enfrenta uma gama de novos concorrentes e se vê em posição de precisar modernizar suas ofertas a fim de se atualizar quanto à revolução do streaming.

Isso reduziu a influência da Apple –e as gravadoras não poderiam estar mais felizes quanto a isso.

Toni Sacconaghi, analista financeiro da corretora Sanford C. Bernstein disse que as aparentes dificuldades da Apple para reduzir o preço de seu serviço de assinatura são resultado de ela ter chegado tarde a esse mercado.

"Eles estão acostumados a dar forma ao mercado, não a responder às mudanças", disse Sacconaghi. "Essa é uma das poucas ocasiões em que a Apple se vê como retardatária e não parte de uma posição de força."

Tom Neumayr, porta-voz da Apple, se recusou a comentar ou marcar entrevistas com executivos da Apple, entre os quais Reznor.

A virada da Apple para o streaming é questão de necessidade, porque os ouvintes cada vez mais preferem o streaming aos downloads. De acordo com a Associação da Indústria Fonográfica da América (RIAA, em sua sigla em inglês), os downloads geraram US$ 2,6 bilhões em receita em 2014, 8,5% abaixo do ano anterior. O streaming faturou US$ 1,87 bilhão no ano passado e pela primeira vez superou as vendas de CDs.

Como maior comerciante de música do planeta, a Apple continua a ser uma parceira de marketing crucial para o setor de música. Mas sua ausência do segmento de streaming permitiu que rivais levassem vantagem inicial. O Spotify, criado na Suécia em 2008 e chegado aos Estados Unidos em 2011, informou em janeiro que conta com 15 milhões de assinantes pagantes em todo o mundo, além de 45 milhões de assinantes que usam a versão gratuita do serviço (a iTunes, da Apple, tem mais de 80 milhões de contas de clientes).

DÚVIDAS

Exatamente como a Apple operará para competir com o Spotify ainda não está claro. Executivos do setor de música disseram não ter visto um protótipo do novo serviço de streaming e que não foram informados em detalhes sobre ele.

O novo app de música, colaboração entre Reznor e outros funcionários da Apple e Beats, entre os quais Jimmy Iovine –que fundou a Beats em sociedade com o astro do hip-hop Dr. Dre– oferecerá um serviço de streaming parecido com o da Beats Music.

Ele poderá incluir playlists organizadas por convidados e um apelo visual mais intenso, mas manterá a estética de design enxuto e minimalista da Apple, disse uma fonte. O nome Beats Music provavelmente será abandonado.

Uma diferença crucial para o serviço de streaming da Apple é que, ao contrário do Spotify, não haverá versão gratuita. Isso agradou muito dos principais executivos das grandes gravadoras, que começaram a se queixar abertamente de que a grande disponibilidade de música gratuita não estimula os consumidores a pagar por ela.

A Apple também deve reformular a iTunes Radio, serviço gratuito que a companhia introduziu em 2013 como concorrente da Pandora, e que tem pouco impacto no mercado. Um dos novos contratados da empresa é Zane Lowe, ex-DJ da BBC e conhecido como alguém que detecta tendências.

No mês passado, ele anunciou que começaria a trabalhar para a Apple em Los Angeles, onde a equipe da Beats está instalada.

Lowe deve participar da reconfiguração da iTunes Radio. Entre as ideias mencionadas para o serviço está uma abordagem mais geográfica, de alguma forma semelhante ao formato de uma rádio tradicional, com Lowe como voz, disseram executivos de música.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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