Folha de S. Paulo


Strippers violam regras do Snapchat para vender shows 'instantâneos'

A pornografia vem ajudando a acelerar a adoção da maioria das inovações tecnológicas nas três últimas décadas: videocassetes, CDs interativos, DVDs e de praticamente toda a internet.

Agora, ela está chegando ao seu smartphone de maneira completamente nova, graças a um app de mensagens popularizado por adolescentes e que está sendo cortejado por grandes marcas.

O app é o Snapchat e sua incursão inesperada à pornografia começou em novembro, quando o serviço lançou um recurso chamado Snapcash, que permite que seus usuários enviem dinheiro uns aos outros por meio de uma plataforma de pagamentos chamada Square.

É bem simples de usar. Digamos que você deseje pagar a alguém US$ 20 que ficou devendo por um jantar. Basta selecionar a conta da pessoa no Snapchat, digitar "US$ 20" e apertar o botão de envio. O recurso não se limita a pequenas dívidas. É possível usá-lo para pagar o aluguel, enviar dinheiro a parentes ou pagar pelos serviços de um stripper virtual.

Divulgação
Imagens do aplicativo Snapchat para Android
Imagens do aplicativo Snapchat para Android

E esses strips virtuais se tornaram muito populares. Strippers e estrelas pornô começaram a usar o Snapchat para enviar vídeos e fotos que as mostram nuas, por quantias modestas. Algumas transações custam apenas de US$ 1 a US$ 5, pelo envio de algumas fotos. No caso de shows de sexo personalizados os valores chegam à casa das dezenas de dólares.

Uma morena, que aparentava estar na casa dos 20 anos, estava presente no Snapchat usando apenas roupas de baixo sumárias na semana passada, e se oferecia a enviar fotos personalizadas de acordo com a preferência do usuário, cobrando US$ 5. Homens oferecem produtos semelhantes por preços comparáveis.

"INTIMIDADE"

Pode-se perguntar por que alguém pagaria por pornografia on-line quando ela está disponível de graça em toda parte. Para começar, uma conversa em vídeo com uma pessoa nua em seu celular é muito mais íntima e pessoal do que ver fotos em um site ou um show via webcam (ou assim me dizem).

Além disso, o Snapchat não deixa traços no histórico de buscas. Não existem vestígios que possam ser encontrados por um namorado xereta ou por pais controladores.

É bom deixar claro que o espaço ocupado pela pornografia paga no Snapchat é de apenas uma pequena fração do tráfego criado por seus 200 milhões de usuários. Mas está crescendo, à medida que a oferta busca se equiparar à procura.

CLANDESTINIDADE

O principal obstáculo é como encontrar strippers no Snapchat. A maioria das pessoas que oferece esse serviço opera de modo clandestino, principalmente porque pornografia viola os termos de serviço da companhia. Na semana passada, o Snapchat postou mensagem em seu centro de segurança lembrando aos menores de idade que fotos que os mostrem sem roupa não são permitidas. "Não use o Snapchat para aprontar qualquer coisa ilegal e, se você tem menos de 18 anos ou está conversando em vídeo com alguém que possa ser menor de idade, fique de roupa!", a companhia escreveu.

O Snapchat parece estar aplicando as regras. Algumas semanas atrás, para testar, criei 30 contas no serviço que prometiam fotos pornográficas, algumas gratuitamente e outras mediante pagamento. Uma semana depois, 28 delas haviam sido fechadas. "Temos sistemas sofisticados em uso para detectar abuso e bloquear contas que violem nossos termos de uso", afirmou o Snapchat em comunicado. "Agimos de modo muito agressivo quanto a esse tipo de coisa e continuaremos nossos esforços nessa direção."

Para evitar terem suas contas removidas do Snapchat, usuários transformaram dezenas de fóruns de discussão sobre sexo disponíveis on-line em feiras de trocas. Os strippers anunciam seus serviços nos fóruns, e os interessados postam neles seus nomes de usuários na rede social.

Dessa forma, aqueles que se despem podem verificar as credenciais daqueles que ficam vestidos antes de lhes enviarem fotos ou receberem pagamentos.

Alguns strippers evitam a expulsão ao não usar o Snapchat para cobrança. Em vez disso, oferecem uma amostra diária no app e depois convidam as pessoas a visitá-los em seus sites pessoais, nos quais aceitam pagamentos por meio de serviços terceirizados como a Amazon e o PayPal.

EFEITO GENERALIZADO

O Snapchat não é o único app móvel no qual a pornografia floresce clandestinamente. O app de mensagens Kik, que permite que pessoas conversem por meio de mensagens de texto e fotos e troquem links para chats com webcam, também se tornou um refúgio para a pornografia. E embora o Twitter e o Facebook não permitam que as pessoas enviem dinheiro a seus contatos, os dois são populares com atores e atrizes pornô que desejam contato com fãs.

E a pornografia evidentemente não é novidade na internet. Parece que as webcams foram inventadas unicamente para que pessoas possam pagar para ver alguém nu. Mas o que está mudando agora é a rápida transição para os aparelhos móveis. De acordo com recente estudo da Juniper Research, chats em vídeo e serviços por assinatura em aparelhos móveis responderão por US$ 2,8 bilhões do faturamento do setor de pornografia neste ano.

Um usuário de serviços pornô no Snapchat, que pediu que seu nome não fosse revelado por motivos óbvios, me disse que as pessoas se deixam atrair pela natureza íntima da interação, bem como pela privacidade inerente do app.

Os strippers, de sua parte, sentem que apps como o Snapchat e o Kik lhes oferecem mais controle. Shows feitos diante de uma webcam são muitas vezes gravados pelos espectadores e subidos para sites, onde podem ser vistos de graça. Em comparação, apps como o Snapchat dificultam a gravação de vídeos.

Stephen Yagielowicz, analista de mídia on-line para a Xbiz, uma publicação sobre o setor de entretenimento adulto, disse que as telas maiores, as câmeras melhores e as conexões mais rápidas dos aparelhos móveis criaram uma ótima combinação para que os strippers contatem seu público diretamente. "Há uma confluência entre sexo e tecnologia que está eliminando os intermediários", ele disse, apontando que "muitos dos artistas do ramo adotaram shows ao vivo em webcams como fonte de renda."

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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