Folha de S. Paulo


Brasileiro fracassa com rede gospel e agora tenta o sucesso com o Orkuti

Desde que viu o filme "A Rede Social" (2010), que conta a história da criação do Facebook, Alex Becher, 35, tinha o sonho de lançar um site de sucesso. Ele tentou a primeira vez em 2011, com uma comunidade gospel, que não foi para a frente. No ano passado, ao ver que o Google iria acabar com o Orkut, sentiu que tinha sua grande chance.

Em 30 de setembro, o dia em que o site da gigante das buscas saiu do ar, ele lançava o Orkut com um "i" a mais: o Orkuti, que tem praticamente o mesmo visual do original e espaços para "scraps", testemunhos e comunidades. Becher conta que até era usuário do site, mas diz que sua motivação mesmo era criar um portal famoso.

"Pensei: agora é a minha chance. Como já tinha experiência de rede, três meses antes do fim do Orkut eu trabalhei à noite, aos fins de semana, para aproveitar a oportunidade", afirma ele, que mora em São Mateus (a 220 km de Vitória, no Espírito Santo) e durante o dia trabalha com automação comercial.

Reprodução
Rede social Orkuti, que tenta rememorar o Orkut
Rede social Orkuti, que tenta rememorar o Orkut

Já de início parecia mesmo que havia ali uma oportunidade de mercado. Ele recebeu mais de 10 mil cadastros em um dia, mas o Orkuti só conseguia suportar 20 acessos simultâneos. Resultado: o portal caía um bocado. Nada muito diferente da versão original, que, quando surgiu, em 2004, também era bastante instável (era muito comum tentar acessar o site e receber a mensagem "Bad, bad server. No donut for you").

O Orkut foi líder no mercado de redes sociais no Brasil por sete anos, até 2011, quando foi ultrapassado pelo Facebook no país. Em dezembro daquele ano, que marcou sua estagnação, o site recebeu 34,4 milhões de visitantes únicos, segundo dados da empresa comScore.

E, mesmo depois de acabar, ainda recebe alguma atenção do público. A página Orkut.com, em que os internautas são informados do fim do site e convidados a acessar uma coletânea com o conteúdo público das comunidades do site, teve, de acordo com a comScore, 13 mil acessos únicos em dezembro.

Vendo o potencial de sua página, Becher foi atrás de investidores. Conseguiu dois. Um deles, um empresário de Goiânia, está pagando pelos servidores, que agora suportam 1 milhão de usuários.

MEU PRIMEIRO MILHÃO

O site tem cerca de 170 mil usuários e os sócios têm a meta de chegar ao primeiro milhão até o fim do ano. São números bem diferentes da ISAY, a rede social gospel fundada por ele em 2011, na qual trabalhou dois anos e que obteve apenas 5.000 cadastrados.

Becher é evangélico e diz não ter recebido muito apoio do meio para a empreitada anterior. "Até na minha igreja, só 1% me apoiava."

Outra explicação para a diferença é que, hoje, a competição entre as redes está saturada –o Facebook tem 1,39 bilhão de usuários. "As pessoas não querem outra rede social, por isso a ideia de relançar o Orkut", reflete.

SILÊNCIO

Becher afirma que até tentou entrar em contato com Google para avisar da ideia, mas nunca recebeu resposta. Questionado se não teme ser processado por usar o visual e a marca indevidamente, ele responde que está "esperando para ver". "O Orkut não existe mais. O máximo que eles podem fazer é cobrar por algum tipo de cópia em relação ao nome e à marca". Procurado pela Folha, o Google não comentou o assunto.

O gasto para manter o Orkuti, com despesas como manutenção de contratação de programadores freelances, é de R$ 5.000 a R$ 6.000 por mês.

Já há uma publicidade tímida no portal, com dois banners alimentados pelo Google AdSense (sistema de publicidade da gigante das buscas em parceria com produtores de conteúdo). Esses espaços, entretanto, serão retirados para a implantação de novas formas de parcerias com empresas do setor.

Apesar disso, Becher acha improvável que ele consiga viver do Orkuti. "Internet é um campo muito instável. Um dia você está lá em cima, outro está lá embaixo."


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