Folha de S. Paulo


Análise: Apple criou um iPhone pequeno demais e um grande demais

Maior. Maior. Maior.

Os novos iPhones começam a ser vendidos nesta semana nos EUA, com telas mais definidas, processadores mais rápidos e câmeras mais competentes.

E, como você pode ter ficado sabendo, também são maiores que os iPhones anteriores –o iPhone 6 Plus por uma ampla margem–, unindo-se à debandada rumo a celulares maiores. Mas, depois de uma semana usando os telefones, torna-se claro que o hardware (parte física) não é a melhor parte do conjunto. Na sua missão de criar iPhones com mais tamanho, a Apple fez na verdade um telefone que é ligeiramente pequeno demais e outro que é um pouco grande demais.

A melhor parte dos novos celulares é, em realidade, o novo software dentro, que está disponível para usuários de modelos mais antigos, também, desde a quarta-feira (17). Chamado iOS 8, a nova versão do sistema combina alguma das capacidades avançadas do Android com a facilidade de uso e estabilidade da Apple.

Por causa do software, será difícil ver fãs do iPhone deixando a Apple, mesmo se eles não comprarem novos iPhones imediatamente.

O iPhone 6 é um dispositivo de 4,7 polegadas, de 4 polegadas nos antecessores iPhone 5, iPhone 5c e iPhone 5s. É um pouco mais largo que esses aparelhos, também.

Essas dimensões o tornam ligeiramente menor que os principais dispositivos com Android e com Windows no mercado e o ajudam a caber facilmente em bolsos de calças jeans. Comparado com o Galaxy S5 ou com o HTC One M8, contudo, a sensação é que a tela é um pouco limitada em área.

O iPhone 6 custa a partir de US$ 200 nos EUA, com um novo contrato de dois anos.

APROVEITANDO A TELONA

O iPhone 6 Plus é um gigante. Tem o mesmo tamanho de tela que o LG G3, com 5,5 polegadas, mas é significantemente maior. É mais comprido até que o Galaxy Note 3, que tem uma tela de 5,7 polegadas. Custa US$ 300 na versão básica com um novo contrato.

Ambos são mais finos e são mais redondos que seus predecessores, abrindo mão dos cantos arredondados dos modelos mais recentes. O resultado é belo, porém escorregadio. Quedas são uma possibilidade que surge assim que você estica seu dedão sobre as telas grandes.

A Apple dá pequenos passos para tentar mitigar a necessidade do esticar de dedos com uma capacidade chamada Reachability ("alcançabilidade"), que permite que o usuário toque (não pressione) o botão principal duas vezes para fazer que o aplicativo usado se desloque para a metade de baixo da tela.

Essa função funciona bem para rolar através de páginas com uma só mão e para clicar nos ícones de aplicativos, mas nada muito além disso. Se você está em um e-mail, por exemplo, você não poderia, então, acessar funções como responder ou encaminhar.

A Apple poderia aprender algo com outras fabricantes dos chamados "phablets" (mescla das palavras telefone e tablet) e criar algo com maneiras eficientes de fazer uso dessas telonas.

O futuro Samsung Galaxy Note 4, por exemplo, permitirá que usuários redimensionem as telas dos aplicativos usando o dedo ou uma canetinha stylus e visualizem diversas janelas ao mesmo tempo na sua tela de 5,7 polegadas, como é possível fazer em um PC. O LG G3 permite abrir dois apps de uma vez e dividir a tela com eles como prefira.

Os iPhones têm alguns truques, sim, criados para telefones grandes, como a função zoom que permite o aumento de ícones e do texto de apps nativos (da própria Apple).

E, ao que você deita o celular na horizontal, o teclado de apps embutidos, como o Mail e Mensagens, ganha mais opções –um microfone (para comandos de voz), a tecla de desfazer, ponto, vírgula e outros no iPhone 6, e ainda mais no iPhone 6 Plus, como as teclas dedicadas para copiar e colar.

As teclas extras no iPhone 6 Plus desaparecem se você usa a tela com a função zoom ativada. E o iPhone 6 Plus é tão grande que, no "modo paisagem", foi muito difícil alcançar as teclas para digitar.

O teclado nativo da Apple não tem qualquer tecla extra quando segurando o telefone na vertical, assim como os teclados da Samsung e da LG têm teclas de número acima das letras, além de ponto, vírgula e outros.

IMAGENS

Sobre as capacidades que as pessoas amam em relação a seus iPhones, elas ficaram ainda melhores. As câmeras dos modelos novos, por exemplo, são excepcionais.

As câmeras traseiras têm novo sensor que permite um autofoco mais rápido, melhor detecção de rosto e a capacidade de criar panoramas com alta resolução. O foco mais rápido é imediatamente percebido, mesmo em uso despretensioso.

O iPhone 6 Plus, em particular, usa estabilização ótica para capturar melhores fotografias com pouca luz ao reduzir a perda de nitidez e compensar a tremedeira.

E os criadores de vídeo estão desmaiando de emoção com o vídeo de alta definição, maiores taxas de quadros por segundo (com vídeo mais fluido) e captura em câmera lenta de maior qualidade. A estabilização de vídeo ajuda a melhorar vídeo feito em movimento e um modo de "time lapse" (acelerado) faz uma imagem a cada segundo, ou algo assim, e depois as junta.

Quaisquer fotos ou vídeos ficam ótimos nas telas grandes, especialmente no iPhone 6 Plus. Para quem gosta de câmeras, o telefone maior é provavelmente um "must".

A qualidade de chamada nos novos telefones é ótima, e achei que a vida da bateria no iPhone 6 teve desempenho bastante impressionante. Usei-o durante quase dois dias sem recarregar. No iPhone 6 Plus, a duração é de mais ou menos um dia de uso constante, e nada mais do que isso, mas nada terrível em um celular desse tamanho.

'MÁGICA'

A mágica, contudo, acontece por causa do novo sistema operacional.

O iOS 8 não é esplendidamente diferente, mas diversos refinamentos fazem com que ele seja mais poderoso e mais flexível. Algumas das novas capacidades simplesmente ficam ao par com competidores, mas algumas são novas.

O upgrade adiciona o serviço iCloud Drive, por exemplo, permitindo compartilhar documentos entre dispositivos mais facilmente, assim como é possível fazer com o Dropbox ou o Google Drive. O Family Sharing permite compartilhar obras compradas, como livros, filmes, música e alguns aplicativos com até seis membros da família, de modo que não seja necessário fazer log-in com sua conta para usufruir de um vídeo ou aplicativo adquirido.

Depois de o sistema de Macs chamado OS X Yosemite ser lançado (em outubro), a ferramenta Continuity, da Apple, deixará que usuários visualizem mensagens em todos os dispositivos, troquem documentos entre o telefone e o computador e envie SMS ou faça ligações do Mac.

Melhorias menores, como mensagens que se autodestroem e lembretes em voz, buscas no Spotlight com resultados da web, e contatos recentemente acionados, colaboram para um sistema operacional mais sofisticado.

Algumas das capacidades não são perfeitas, e muitas das mais entusiasmantes ainda estão para ser lançadas. Agora, por exemplo, o app Health simplesmente não serve para muita coisa. Depende da integração com aplicativos de terceiros (agendados para serem lançados com os telefones) e com o futuro Apple Watch.

O novo sistema vem embutido nos novos telefones e pode ser instalado no iPhone 5s, no iPhone 5c, no iPhone 5 e no iPhone 4S. Donos de tais aparelhos cujos contratos de dois anos (nos EUA) ainda não venceram podem ficar tranquilos. Muitas das melhorias estão a seu alcance.

Os finos novos iPhones não são um golaço com a tela grande, mas funcionam bem, assim como esperávamos da Apple. No fim das contas, é o que está dentro que mantém a empresa logo à frente dos competidores.


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